Quinta, 13.
Desta vez acordei sacudido pelo vento forte, chuva grossa, trovões e relâmpagos. Embalado pelo rumor da noite, voltei a adormecer para acordar pelas sete horas. Pus o ouvido à escuta, tombei para o lado e embrulhei-me na doce melodia que persistia à minha janela. Daí a pouco pensei no Black e decidi levantar-me e ir saber dele. À porta da cozinha chamei uma e das vezes e do gato nada. Quando estava a terminar o pequeno-almoço, preocupado, voltei a abrir a porta e a gritar por sua excelência que logo apareceu saltitante e resoluto a miar desalmadamente, enxuto. Comer para ele é uma festa e de seguida sem pedir licença correu para o salão e refastelou-se no seu sofá para uma soneca de várias horas. Entretanto, toda a manhã o temporal reinou soberano lá fora. Como os trovões eram medonhos e sentia-os em cima do telhado, decidi não abrir as portadas para não convidar os relâmpagos a entrar. Felizmente, por aqui, nenhum desastre ocorreu.
- O mesmo não se pode dizer de outros lugares. Por uma questão de respeito, manda o temor, que registemos o nome da víbora: Cláudia. A donzela expandiu a depressão por todo o país com particular raiva em Setúbal, Santarém, Lisboa, Caldas da Rainha. As autoridades assinalam mais de 400 ocorrências e um casal de idosos faleceu submerso na água que entrou pela dentro da casa, em Fernão Ferro. Barras e escolas estão fechadas.
- A culpa é sempre da Ministra da Saúde, sindicatos e federações, associações e Ordem dos Médicos exigem que Ana Paula Martins monte o seu gabinete, por exemplo, no hospital Santa Maria. Nunca os vejo a censurar médicos e administradores hospitalares, directores de serviços e médicos quando desorganizam os planos cirúrgicos, faltam nas Urgências, misturam os seus interesses de modo a que trabalhem menos nas horas normais para receberem horas extraordinárias aos fins-de-semana, à noite, enfim, fora dos horários regulares de funcionamento. O SNS está transformado em qualquer coisa que não tem nada a ver com o cidadão, com o doente, com aquele que não tem capacidade económica para ir aos privados que pululam por todo o lado, que paga os seus impostos para ter cuidados de saúde, pelo menos, razoáveis. O dinheiro abunda e quando ele é muito os gananciosos deitam-lhe a mão. Conhecemos o roubo de 800 mil euros e agora, envolto em serviços, não direi furto mas é pelo menos abuso imoral, retrato de como se encontra o SNS. Miguel Alpalhão, segundo os jornais, recebeu desde 2023 por cirurgias dermatológicas no Santa Maria e num período em que estava de baixa, 140 mil euros em quatro sábados. Mas há mais: Desde 2021 e até 2024, ganhou a módica quantia de 700 mil euros por 22 dias de trabalho adicionais. É a ministra que tem a culpa deste milionário ser escravo do dinheiro ou ter sido delegado pelo director do Serviço de Dermatologia a responsabilidade de completar as escalas das operações? Toda esta bagunça, vem da governação assustadora de Manuel Pizarro. Eu sei. No atropelo do tempo e dos crimes de toda a ordem, temos tendência a esquecer, até para bem da nossa saúde mental.
- Há dois dias que não saio de casa. E no tanto, não parei um minuto com os afazeres habituais.