domingo, novembro 23, 2025

Domingo, 23.

E depois, pensando melhor, há tanta coisa em comum no triunvirato que se reuniu na Casa Branca. O anfitrião anda a contas com o processo Jeffrey Epstein onde se mistura pedofilia e negócios, Mohammed bin Salman, o ditador que governa com botas cardadas a Arábia Saudita e mandou assassinar e esquartejar o corpo do jornalista Jamal khashoggi e o jogador de futebol que nos EUA teve um processo por violação de uma jovem. Tudo boa gente.  

         - Tudo é permitido à IA. Assim começou a circular nas redes sociais um projecto natalício no centro de Londres, cheio de luz, efeitos lindíssimos, as fachadas do Parlamento, o Big Ben, os jardins em volta e a ponte que me levou inúmeras vezes à outra margem do rio Tamisa onde se ergue a St. Paul's Cathedral, repouso dos notáveis do Reino Undo, o arvoredo como explosões de luz deixando na atmosfera a alegria criada ou inventada pelo consumo que ferve em época de Natal. Os ingleses precipitaram-se para o centro da capital, para isso alugaram hotel, vieram de carro ou avião, mas quando chegaram viram uma vasta zona despida, fria, desagradável, nua, insípida, sem uma luz sequer, a lembrar-lhes a felicidade que buscavam – foram traídos pela fantasia da IA.

         - Hoje menos frio, mas ontem quando peguei no carro, havia 3 graus e estava todo coberto de geada. Logo interroguei as laranjeiras em frente prometendo-lhes que aquela minúscula neve seria proveitosa para apurar o açúcar que brevemente saborearei. 

         - Continuo Green. Todavia, infeliz porque o quero por companhia e não de passagem. Vou ter que me dominar e não galopar sobre as páginas admiráveis de um homem que toda a vida lutou contra os demónios sexuais que achava o afastavam de Deus. Não obstante, quando em 1945 a 1949 empreendeu decisões terríveis nesse sentido, encontro-o agora, em 1951, com 51 anos, envolvido numa trama de vida artística onde quase todos são homossexuais, e um ou outro o tenta desesperadamente. Assim o músico Ned Rarem  cuja beleza o desorienta, mas os seus princípios cristãos os afastam. Até quando conhecendo eu o autor? 

         - Desejo tanto abandonar este diário. Perco imenso tempo com estes apontamentos (Vergílio Ferreira que também produziu um monumental, chamava-lhe “merdelhices”) sem interesse nenhum, farto de me expor aos olhares indiscretos ou babacas, que dele sorvem aquilo que nunca saberei ou sabendo torno a cabeça e tapo os ouvidos e digo para mim mesmo que isto não é meu, quando muito é o reflexo de mim no espelho que não possuo. 

         - Mandei construir esta casa em 1998 e só ontem contei os degraus que me levam ao andar de cima: 27. Pobre habitação que tão desprezível proprietário possui.  


sábado, novembro 22, 2025

Sábado, 22.

Do que se fala é do encontro Trump, Mohammad bin Salman, Ronaldo na Sala Oval. Que trio qual deles com o ego mais inflamado e juntos na mira dos biliões que compram não só aviões como a consciência de cada um. 

         - Fui a um supermercado, julgo de origem espanhola, que abriu aqui perto. Interior convidativo, espaços largos, montras bem apresentadas e uma vasta zona dedicada à alimentação pré-cozinhada que virou moda nestes tempos sem tempo.  Um horror! Não há fiscalização que nos possa garantir que tudo aquilo se pode comer sem perigo para a saúde. Dou o meu exemplo. Eu sou muito cuidadoso com o que como e não gosto de comer. Detesto ir a restaurantes e muito menos manducar aqueles pratos que se devoram com a vista, mas que o estômago abomina a mixórdia que a indústria acrescenta. Assim, muitas vezes para o jantar, tenho o hábito de passar no C.I. e comprar umas empadas de galinha que acompanho com arroz ou legumes cozidos, coisa simples para quem não quer deitar-se a conviver com o jantar no estômago. Contudo, há uns tempos, comecei a acordar com uma espécie de azedume, uma aspereza na boca do estômago, que normalmente passava quando tomava um copo de água. Mas era desagradável e às vezes parecia arder. Pensei que só podia ser das empadas. Deixei de as consumir por uma semana e o mal-estar desapareceu. Quis certificar-me e tornei ao C.I. em busca da facilidade alimentar e logo a coisa voltou.  Conclusão: não, não, não. 


sexta-feira, novembro 21, 2025

Sexta, 21

Estou de regresso. E para enterrar ainda mais a Ministra da Saúde a quem se deve todos os males de que enferma o SNS. Mesmo este que soubemos há dias. Ou antes, mais este. Médicos do serviço de Dermatologia receberam para cima de 200 mil euros entre 2024 e 2025 utilizando os métodos do costume. Afinal, bem vistas as coisas, dinheiro não falta, o que falta é honestidade, fiscalização e deontologia de que certos clínicos, pelos vistos, carecem. Mas ninguém dos sindicatos e das associações que os protege se chegou à frente para, pelo menos, lamentar. 

         - Outra tragédia de corrupção que não sei como classificar, ocorreu em Cortegaça, numa USF, onde uma trapaça gravíssima praticada pelas funcionárias ao legalizarem de forma fraudulenta no SNS pelo menos 10 mil imigrantes do Brasil, Paquistão, Índia, Argélia, Bangladesh e passo, abalroando o já decrépito sistema de saúde. Não contentes, ainda lhes passaram o Carão de Saúde que lhes permite terem internamentos e consultas, operações e medicamentos gratuitos nos países europeus. Conclusão: uma boa parte já abandonou Portugal e distribuiu-se pelos países da UE. Quem em primeiro ganhou com este escândalo, foram as redes criminosas que chupam ao imigrante o que ele tem e não tem. Quanto às funcionárias, foram detidas e logo libertadas. 

         - Falei dos nossos queridíssimos médicos tarefeiros. Pois bem. De repente, num volte face que só eles sabem a origem mas eu suspeito, querem negociar com a ministra. Ponto final nas greves que paralisavam as urgências, nos custos à hora, nos raios e coriscos; agora, de súbito, o que almejam é integrar o Serviço Nacional de Saúde! E esta, hein! Daqui se depreende o extraordinário trabalho de organização, de combate ao desperdício, reestruturação das unidades hospitalares, de fiscalização à fraude, da batalha à dignidade dos cidadãos, do interesse em manter o SNS sadio e ao serviço da comunidade. A esquerda, confrontada com o excelente labor da ministra, diz que o Governo quer acabar com a maior conquista do 25 de Abril. Esta gente, nem se deu conta que a modernidade e evolução das situações está a acontecer diante dos nossos olhos – permanecem ainda no obscurantismo fascista.

         - Daí as greves como arma de arremesso. Hoje foi dia delas sendo fim-de-semana. A Intersindical, com os seus suponho nem 5% de associados, subordina dois milhões de trabalhadores que são os que sofrem com os seus luxos de duplos fins-de-semana de lazer. Nunca a revisão do direito à greve foi tão urgente, de modo a dar sentido a uma arma que não deve ser manobrada por partidos ideologicamente minoritários. 

         - Ontem, quando passei no número 77 da Rua Pinheiro Chagas, no prédio onde viveu o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho, parei para murmurar um Padre Nosso em sua intenção. O Joaquim, vendo-me imóvel, incentivou-me a prosseguir caminho. Não tive coragem de lhe contar a razão daquele compasso de espera. 

         - Ao serão de ontem, acesa a lareira, desligado o televisor depois das notícias da SIC, mergulhei no Diário póstumo de Julien Green. Momentos indizíveis. Li 20 páginas naquele corpo de letra pequeno, impresso sobre folha de bíblia, de que os meus olhos sofreram sem pestanejar. Mas não vou continuar neste desassossego; tentarei saborear linha a linha, pensando e repensando em tudo o que me passa debaixo dos olhos, permanecendo com o meu autor o máximo tempo de modo a percorrer o amplo e precioso volume com vagar. Logo nas primeiras páginas, não obstante os 60 anos, Green prossegue a luta entre aflições emergentes sexuais que ele entende desagradam a Deus. São Paulo desgraçou-nos a vida com as suas obsessões carnais. A Igreja de hoje tende a afastar o pecado do amor e a reintegrar o prazer do sexo como qualquer outro arbítrio de Deus. Eu percebo que este é o drama de qualquer homossexual cristão e foi o dele que declinou o prazer de olhos postos em Jesus Cristo.  “Peccato di carne non è peccato” dizia o padre Bruno de Jesus-Maria. 

         - Faz frio. Vou acender a lareira, fechar as portadas e meditar diante do fogo. 


quinta-feira, novembro 20, 2025

Quinta, 20.

A gente lê mas já não se espanta. Até porque tudo o que veio a lume nestes dois últimos dias, só pode ser culpa inteira da Ministra da Saúde. Assim, resumindo porque a escumalha deve ocupar pouco espaço nestas linhas, temos o nosso querido SNS numa completa rebaldaria que agora (como se antes o não soubéssemos) abriu as suas asas corruptas e oferece-nos o esplendor de crimes sobre crimes, abrangendo todas as classes com ele relacionadas: clínicos, enfermeiros, assistentes sociais... Ponho de lado os médicos prestadores de serviços que me espantou a sua derradeira vontade, falo do esquema da médica endocrinologista Graça Vargas e do seu companheiro advogado (encosto que lhe veio mesmo a calhar). Os dois (e outra médica) são suspeitos dos crimes de burla qualificada e falsidade informática. Quem a abordasse preocupado em emagrecer, sua excelência receitava os medicamentos próprios dos diabéticos: Ozempic, Trulicity e Victoza. A consulta custava 160 euros e teria de ser liquidada em dinheiro ou cheque, as seguintes 140 euros. Entre 2014 e 2025 o esquema defraudou o Estado, isto é, todos nós em mais de 3 milhões de euros.  A PJ completará mais tarde o quadro triste deste roubo de que, naturalmente, teve a cumplicidade da ministra Ana Paula Martins.

         - Nem a Ordem dos Médicos nem aquela senhorita que fala esganiçada em nome dos médicos, se apresentaram a censurar os colegas envolvidos neste e noutros roubos de que falarei amanhã. É claro para mim que a actual governante da saúde, sempre foi competente, tenaz, grande trabalhadora, honesta e não tenho mais adjectivos para a louvar e agradecer todo o aturado e persistente trabalho. Ela está a fazer limpeza à nojeira que vem da governação socialista e, por isso mesmo, a esquerda e a direita do brejeiro Ventura, exigem a sua demissão. Espero que varra os gatunos e gananciosos que engrossam o mundo político ultra-corrupto que nos contamina a todos. 

         - O pobre do Joaquim a quem faleceu há pouco tempo a mulher, teve que calcorrear a cidade do Corte Inglês onde estivemos a trincar coisas saborosas e decerto pouco aconselháveis à saúde, à Livraria Francesa. A distância não é longa, mas não sei o que me deu, que o arrastei para  o metro e depois de me ter enganado a mudar de linha, de seguida a empreender um longo caminho, cheio de hesitações, sem falar nas estações de Metro com elevadores, escadas rolantes, tudo em desuso, num marimbando divino para os passageiros que pagam cada vez mais caras as viagens. O Metro é o retrato fiel dos serviços públicos. 

         - Acendi a lareira pela primeira vez este Outono. É aqui, diante do fogo sagrado, que iniciarei as 1200 páginas de Toute Ma Vie de Julien Green.


quarta-feira, novembro 19, 2025

Quarta, 19.

Ontem fui ao encontro do João e do Zé à Bertrand. Ao fundo da livraria, no pequeno café descomplexado, estivemos para cima de uma hora a discutir o quê? Isso mesmo. Não há forma nem jeito de me entender com o João, estando eu nos antípodas dos seus mundos ternos, unidos ao proletariado querido, protegido pelas teorias marxistas-leninistas do trabalho e da condição de felicidade estabelecida nos manuais que ele hauriu até ao tutano. Ainda que aquela filosofia esteja ultrapassada pela evolução social e não seja possível prescrevê-la como impunha o século XIX, e posteriormente destruída pela autoridade soberana de ditadores desumanos e superpotentes, para quem a nomenclatura disciplinava e subjugava como qualquer outra escravatura, não obstante essa constatação hoje admitida e rejeitada, João prossegue a sua reza que já ninguém tem pachorra para ouvir. Personagem sui generis este meu amigo. Ao fim de uma vida, ainda não entendeu que a História desdobra-se em histórias onde cada historiador acrescenta um parágrafo, um capítulo da sua imaginação e bafagem ideológica. Dali fomos almoçar ao Príncipe onde não entrava seguramente há mais de cinco anos. Lá encontrámos o Carlos Soares, o Alexandre e o Paulo Santos senhor absoluto desta reunião. 

         - Descemos o Chiado e fomos direitos à Câmara Municipal e mais adiante ao Ministério da Marinha para assistirmos à conferência do catedrático Paulo Santos sobre João Pedroso o pintor do século XIX que ao mar dedicou a vida. Muito interessante, sala cheia de personalidades – majores, almirantes, cadetes, coronéis, gente da cultura e amigos – que o escutaram com interesse e estima, ele que não fez carreira na Armada. A palestra foi bem articulada, cronologicamente rica, ilustrada com telas do mestre, algumas, sobretudo a partir de 1870, de um modernismo, sensibilidade e beleza impressionantes. Aquela palestra, antecede a publicação do livro que o ensaísta quer dedicar ao pintor romântico e eu vi e li passagens trazendo com a sua aturada pesquisa novas formas de conhecimentos da obra e da vida do Mestre.  

         - Tarde, com a noite já colada à cidade, sob o comando do João que tendo nascido lá para o Norte, conhece melhor os recantos, becos e vielas que o lisboeta de gema que eu sou. Ou que fora. Porque ao tergiversar até ao metro, a quantidade de restaurantes àquela hora atulhados de turistas, o movimento intenso da Baixa, eclipsava a minha memória traduzida num espanto, num desgosto sem mágoa, num olhar fugitivo pelas fachadas dos velhos e perduráveis prédios, embasbacado com a fauna barulhenta, pelintra, que por ali se quedava noite dentro. O frio e uma certa humidade, caía sobre a cidade multifacetada, sem pátria, sem legítimos proprietários, suspensa do rumor que intriga, absorve, faz medo e perde a identidade que sempre fora a minha, que sempre fora a sua. Quando meti a chave à porta, rejubilei – a minha cidade está inteira dentro destes muros que me abrigam e protegem - Lisboa escondeu-se aqui. 

         - Telefonaram-me da Livraria Francesa a dizer que Monsieur Green tinha chegado, irei ao seu encontro amanhã. 


segunda-feira, novembro 17, 2025

Segunda, 17.

O hediondo crime já era conhecido e julgo que até foi abordado num filme, hoje apartando da fantasia, voltou à ribalta da informação para deixar estupefactos milhões de pessoas em todo o mundo. Falo dos “safáris humanos” praticados durante a guerra (1992-1996) na Bósnia-Herzegovina. Decerto com o conhecimento do sinistro Radovan Karadžić condenado a 40 anos de prisão e do Exército, multimilionários foram convidados a fazer“tiro ao alvo humano” das colinas em redor de Sarajevo. O convite, como o de qualquer espectáculo, ia de 80 a 100 mil euros, podendo ser mais elevado se fosse uma criança o alvo e gratuito um infeliz dum velho. Para este crime sem perdão, precipitaram-se snipers americanos, russos, italianos, espanhóis, franceses e ingleses diz-se com o apoio da extrema-direita. Seja como for, honra seja feita ao escritor e jornalista Ezio Gavazzeni apoiado pelo ex-magistrado Guido Salvini e pela ex-prefeita de Sarajevo Benjamina Karic que denunciaram os asquerosos e inumanos actos. Msis uma vez, actos destes levam-me a não descrer da humanidade.         

         - A botija de gás que o ano passado custava 35 euros, hoje despendi 40 euros. 

         - O dinheiro que damos a quem nos aborda na rua de mão estendida, é o investimento mais lucrativo que nenhum banco oferece. 

         - As sombras se as olharmos com atenção e tempo, dizem-nos tudo o que IA nunca dirá - contam-nos o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro.  

          - Para registo. “Como falar da ressurreição num mundo onde os excluídos são carme para canhão.” Fr. Bento Domingues.  

         - A efabulação é em mim uma doença, um estado de ebulição, um murmúrio, um sentimento de desistência a tudo o que me rodeia

         - Por favor de Sousa não te ausentes do país que te viu nascer ainda que dele já pouco ou nada reste. Somos presentemente uma sonora gargalhada, uma palhaçada novo-riquismo que alastra por todo o lado e nos faz rir e nos entristece e nos humilha e nos paralisa a imaginação; onde tudo o que é reles ganha dimensão, onde o bafio impera e a caridade é proibida. Quem verdadeiramente somos está na fotografia do Ferrari apossado pela Polícia de Lisboa a princípio a um candongueiro de droga, e agora ao proprietário real que o quer de volta cumprindo a sentença do tribunal que o diz seu único proprietário. Um Ferrari para a Polícia, só no país saloio que somos. 


 


sábado, novembro 15, 2025

Sábado, 15. 

Não tarda este sítio de sossego e beleza natural, ficará transformado num bidonville brasileiro, como outrora existiram em França os bidonvilles portugueses. Felizmente que estou recuado e tenho espaço suficiente para não ter por perto esta triste e indigna forma de vida. Todos os espaços dantes impossibilitados para construção, são hoje a invenção do sortilégio dos contentores de navio transvertidos em “casas”. O mais curioso, é este ultraje humano acontecer numa câmara há muitos anos CDU. 

O murete branco está perfeito, mas a vivenda...

         - Sócrates possui a arte de manobrar tudo e todos. A sua obsessão pela inocência, leva-o a inventar toda a sorte de estratagemas para que os processos de que é acusado por crimes vários, caduquem. O seu estimado advogado, renunciou ao processo e agora este vai andar por ai a vaguear, seguido pelo riso escancarado do ex-primeiro-ministro de Portugal. E contudo, que pode a justiça se a corrupção é endémica e não há tribunais que acabem com ela.   

         A política entre nós, não é só a forma que os políticos encontraram de se guerrearem continuamente, é também o modo de se conservarem à tona deles mesmos. Portugal, os portugueses, os seus reais interesses e necessidades, a erradicação da pobreza, habitação, escolas, hospitais, tribunais, esquadras em condições onde não entre a chuva como aconteceu nestes últimos dias, serviços céleres, saúde competente, são temas que servem sempre para a guerrilha, a bajulação entre eles, a revolta e o ódio, mas nunca, desde o 25 de Abril (talvez só nos três primeiros anos) um independente e sério serviço à nação e a quem cá nasceu e vive. Digo tudo serve e assim é. Veja-se o caso da lei da imigração. Nunca os pobres que desarrumaram a vida para procurarem melhor presente e se possível futuro entre nós, foram tão expostos à confusão, à balbúrdia, à desumanização e hostilidade, como agora. Não há forma de um diploma, uma lei obter consenso político, porque a política entre nós é uma guerra permanente seja quem for que ocupe o poder. A este propósito permito-me extrair estas linhas do artigo de António Barreto no Público, com o título “Quanto vale ser português?”  “O descontrolo da imigração (remeto eu para António Costa as linhas que se seguem) é uma abdicação do Estado de direito, o convite ao subterfúgio ilegal, à residência fictícia, ao mercado de endereços falsos, à prostituição de mulheres, homens e menores, à associação criminosa em geral.” A coluna termina assim: “Os criminosos castigam-se com a justiça, não com a nacionalidade (directo a Ventura).”  

         - Ontem tive uma barrigada de Lisboa. Não tivemos assento na Brasileira, João e eu, devido ao temporal que sarapantou os turistas da esplanada para o interior do café. Descemos então o Chiado e fomos abancar na Fnac, Ali encontrou o João a tribuna parlamentar que tanta falta lhe faz. Não sei a que propósito, falou-se de Lenine e eu perguntei-lhe se conhecia o período em que o revolucionário viveu na Suíça. Que fui eu dizer! Logo o tribunicius se soltou, abriu os braços, e despejou, feliz, tudo o que conhecia do ditador. Eu senti que ele precisava de falar e pouco ou nada interferi, talvez lhe tenha dado o pormenor da estadia do líder russo e sua mulher, em casa de um sapateiro onde ambos estavam hospedados, fazendo uma vida de pobres, ele tisico, mas forte, saindo todos os dias imperativamente de casa pelas nove horas directo à biblioteca e depois do almoço repetia a dose até ao fecho. Lia muito, lia tudo, impregnava-se de Marx e Engels, ninguém sabia quem ele era, todos o olhavam como a um pobre devido ao seu aspecto andrajoso, isto durante mais de uma década. Depois contei-lhe a chegada à Rússia, impelidos por Gorky “Venham todos, juntem-se à nós”. No comboio onde seguiam outros dirigentes que com ele desertaram do país dos czares e gritavam pela revolução, à sua chegada a solo pátrio, os camaradas deixaram-no e abalaram para abraçar amigos e familiares como é natural e legítimo; Vladimir Ilich Uliánov Lénin, depois de ter comprado uns sapatos decentes desfazendo-se das horríveis botas rotas, foi ao encontro do edifício onde se imprima o Pravda e logo ali começou a deriva que conduziria à Revolução Vermelha, e por volta de 1919 (suponho, sou fraco em datas) aliciou os incautos e semeou a exterminação e conduziu a Europa à instalação do bolchevismo. De resto, este chegou mesmo a instalar-se na Alemanha, Itália, Baviera, e Munique que proclamou-se República Soviética. Isto ao meu interlocutor pouco interessa, começando um rosário de razões ideológicas que são infinitamente mais importantes que os aspectos humanos das pessoas. No final do seu longo monólogo, rematei: “E assim nasceu a ditadura.” Psiu, nem uma palavra. Calou-se ele, falo eu. Com Lenine, no mesmo comboio, regressavam, entre outros, Zinósviev e Radek e igualmente Kámerev e Stalin que olharam o ilustre revolucionário com um misterioso riso – em Vladimir Lenine aconteceu a revolução; nos dois cúmplices a mais feroz ditadura e milhões de russos mortos. 

        - Bom. Chove. 


quinta-feira, novembro 13, 2025

Quinta, 13.

Desta vez acordei sacudido pelo vento forte, chuva grossa, trovões e relâmpagos. Embalado pelo rumor da noite, voltei a adormecer para acordar pelas sete horas. Pus o ouvido à escuta, tombei para o lado e embrulhei-me na doce melodia que persistia à minha janela. Daí a pouco pensei no Black e decidi levantar-me e ir saber dele. À porta da cozinha chamei uma e das vezes e do gato nada. Quando estava a terminar o pequeno-almoço, preocupado, voltei a abrir a porta e a gritar por sua excelência que logo apareceu saltitante e resoluto a miar desalmadamente, enxuto.  Comer para ele é uma festa e de seguida sem pedir licença correu para o salão e refastelou-se no seu sofá para uma soneca de várias horas. Entretanto, toda a manhã o temporal reinou soberano lá fora. Como os trovões eram medonhos e sentia-os em cima do telhado, decidi não abrir as portadas para não convidar os relâmpagos a entrar. Felizmente, por aqui, nenhum desastre ocorreu. 

         - O mesmo não se pode dizer de outros lugares. Por uma questão de respeito, manda o temor, que registemos o nome da víbora: Cláudia. A donzela expandiu a depressão por todo o país com particular raiva em Setúbal, Santarém, Lisboa, Caldas da Rainha. As autoridades assinalam mais de 400 ocorrências e um casal de idosos faleceu submerso na água que entrou pela dentro da casa, em Fernão Ferro. Barras e escolas estão fechadas. 

         - A culpa é sempre da Ministra da Saúde, sindicatos e federações, associações e Ordem dos Médicos exigem que Ana Paula Martins monte o seu gabinete, por exemplo, no hospital Santa Maria. Nunca os vejo a censurar médicos e administradores hospitalares, directores de serviços e médicos quando desorganizam os planos cirúrgicos, faltam nas Urgências, misturam os seus interesses de modo a que trabalhem menos nas horas normais para receberem horas extraordinárias aos fins-de-semana, à noite, enfim, fora dos horários regulares de funcionamento. O SNS está transformado em qualquer coisa que não tem nada a ver com o cidadão, com o doente, com aquele que não tem capacidade económica para ir aos privados que pululam por todo o lado, que paga os seus impostos para ter cuidados de saúde, pelo menos, razoáveis. O dinheiro abunda e quando ele é muito os gananciosos deitam-lhe a mão. Conhecemos o roubo de 800 mil euros e agora, envolto em serviços, não direi furto mas é pelo menos abuso imoral, retrato de como se encontra o SNS. Miguel Alpalhão, segundo os jornais, recebeu desde 2023 por cirurgias dermatológicas no Santa Maria e num período em que estava de baixa, 140 mil euros em quatro sábados. Mas há mais: Desde 2021 e até 2024, ganhou a módica quantia de 700 mil euros por 22 dias de trabalho adicionais. É a ministra que tem a culpa deste milionário ser escravo do dinheiro ou ter sido delegado pelo director do Serviço de Dermatologia a responsabilidade de completar as escalas das operações? Toda esta bagunça, vem da governação assustadora de Manuel Pizarro. Eu sei. No atropelo do tempo e dos crimes de toda a ordem, temos tendência a esquecer, até para bem da nossa saúde mental. 

         - Há dois dias que não saio de casa. E no tanto, não parei um minuto com os afazeres habituais. 


quarta-feira, novembro 12, 2025

Quarta, 12.

Dos finais do século passado até ao presente, a emancipação das mulheres foi o facto mais impressionante que aconteceu e para o qual poucos homens estavam preparados. Daí que cada vez mais eles se espantem, depois tentem domá-las e por fim agredi-las e matá-las. Entre nós e por todo o mundo, as estatísticas falam por si. E no entanto, pensando bem, pergunto-me se não está por detrás de tudo isto a imposição moral e cívica que nos remete obrigatoriamente para o matrimónio, ainda que nem todos, elas e eles, estejam vocacionados para tal. In illo tempore, acreditava-se que o casamento pela Igreja era a forma de o conservar para a vida, porque abençoado por Deus. Nestes tempos em que o Criador foi substituído pela ganância e o dinheiro, é lícito inquirir se uma tal norma deve continuar independentemente de o amor e o sexo inicial estarem mortos e enterrados e nem a amizade pura subsistir. Claro que para o Estado é verdadeiramente importante que ele continue, pois é sempre mais difícil dominar um solitário que o conjunto de duas pessoas que seja. Antes, nos tempos do namoro, a Igreja impedia qualquer contacto sexual, hoje o namoro segue direito à cama e é a partir daí que se vê se a coisa tem pernas para andar... Talvez estejamos ainda numa fase de adaptação a novos moldes de vida a dois e daí, muitas vezes, assistirmos ao exagero das mulheres em muitos pontos íntimos e sociais. Contudo, para mim a formulação tem razão de existir porque a natureza humana está antes de todas as normas e conceitos e perdura sobre tudo e todos.

Decerto, foi desde que a mulher se autodefiniu e adquiriu liberdade e identidade próprias, que os homens, quero dizer os jovens de hoje, começam a sentir o seu território de domínio e subjeção a definir-se. Por isso, há alguns dias, uma rapariga contou-me aspectos que me surpreenderam. Disse-me ela que nas redes sociais transfundam as teorias mais estapafúrdias que se possa imaginar e a que os meninos aderem com convicção.  Querem eles recuperar o domínio sobre a mulher, gostariam de traçar a imagem da futura mulher, de modo a que só a cada um pertencesse o gosto, a elegância, os modos de olhar, o aspecto corporal e por aí fora. Por exemplo, segundo a minha conhecida, os jovens estão a impor a gordura e os lábios grossos que elas conseguem obter com a ajuda de esteticistas, baralhando o que até aqui se definia por beleza e saúde, elegância e arte. Na realidade, olhando bem, vemos cada vez mais jovens anafadas, de grandes olhos pintados, ar apalermado, e quando de mão dada com o seu mais que tudo, orgulhosas e abocanhadas – são a versão dos pantomineiros tempos modernos.  

         - Recep Tayyip Erdogan emitiu mandados de prisão por genocídio contra o primeiro-ministro Netanyahu e seus ministros, relacionados com a guerra em Gaza. Foi mais corajoso que todos os seus congéneres europeus. 

         - Hoje o temporal trouxe consigo o frio que se instala a pouco e pouco por toda a casa. Tendo estado largas horas a trabalhar à secretaria, outro remédio não tive que acender o calorífero a gás que tenho naquele espaço do salão. Em breve será a lareira e com ela a aceitação do Inverno. 

         - Forma de falar. Em verdade, longe vão os anos em que me levantava cedo e me enfiava numa roda-viva de afazeres. Agora não me ergo da cama antes das oito e às vezes mais tarde. Durmo contínuo e sabe-me bem o conforto do quarto, o silêncio que nele enaltece sobre todos os outros cantos da casa. Por vezes, as auroras trazem todas as frustrações, as hesitações, os supostos falhanços e a cabeça rodopia sem descanso e o terror desce obrigando-me a deixar aquele reduto maravilhoso que me embala na doce ternura das noites serenas e restauradoras.  


terça-feira, novembro 11, 2025

Terça, 11.

Ontem estive em Lisboa e fui à livraria francesa encomendar o volume 4 Toute Ma Vie de Julien Green. Fiz o percurso a pé entre o Corte Inglês e a rua onde viveu o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho e voltei. Caminhada difícil devido a dores incapacitantes nos lombares. Almocei no restaurante panorâmico da loja e fiquei um bom bocado a saborear os instantes de paz que se seguiram. Havia pouca gente em todo o edifício, andar por andar, e nem fila para o restaurante coisa rara. A crise vai-se intensificando por todo o lado e estou convencido que crescerá no próximo ano com as consequências mundiais dramáticas em construção. 

         - Na ida, não tendo tido tempo para tomar café em casa, optei pelo pequeno comptoir da estação de Sete Rios. Quando me perfilei para encomendar o café, abeirou-se de mim um homem pelos trinta anos. Pensei que queria uma moeda, mas ele disse-me que não, que tinha fome, se eu lhe pagava qualquer coisa para comer. Frente à caixa perguntei-lhe o que queria, ele respondeu um pão de Deus. “E para tonar?” “Pode-me pagar um galão?”, disse com tal dignidade e doçura que senti a comoção a descontrolar-me. Quando ia a sair  tomado o café, ele diz-me em jeito de deus: “Deus lhe pague.” Portugal, o seu 25 de Abril, a sua democracia não encontrou em 50 anos este e tantos outros nossos irmãos que vivem num mundo esquecidos no fosso da indignidade. Os políticos do buraco do Parlamento ou das catacumbas das sedes dos partidos, não têm tempo para chegar à janela e ver o resultado das suas políticas. 

         - A justiça. Será que ainda existe, aqui e por essa Europa fora? Não, claro. Ou sim, mas sob a forma vergonhosa que expõe os veredictos favorecendo uns e outros segundo as suas influências e interesses, isto é, sem verdadeira justiça nem independência. O caso José Sócrates, é a vergonha mais palpável da sua ineficácia e incapacidade para julgar um ladrão que possui dinheiro para a fazer rabiar até conseguir a inocência ultrapassando os prazos legais para os julgamentos. Como o caso “Operação Influencer” que desde Novembro de 2023 ficou estacionado em qualquer apeadeiro do Ministério Público e onde António Costa consta. Ele que mandou aumentar os juízes em 700 euros mês, na convicção que assim seriam mais breves e honestos nas suas decisões. Bref.

         - Contudo, o descrédito nos tribunais, atinge também os povos da União Europeia. O caso Sarkosy é disso prova. Os cinco anos a que fora condenado com prisão firme, passaram depressa e ele já se encontra em liberdade, deixando para trás a sua célula de luxo, com todo o conforto de um quarto de hotel. É mais uma vergonha a significar que os poderosos têm a consolação não só dos seus crimes, como a fortuna da liberdade. As prisões estão a  abarrotar de “criminosos” que roubaram uma laranja aqui, um cogumelo ali, um automóvel nesta rua, uma carteira sem dinheiro do infeliz mais além. 

         - Fui à piscina. Hora e meia de natação, devolveu-me a agilidade que ontem me faltou e fez desaparecer as dores que me incomodavam. Fujo como o diabo da cruz dos medicamentos. Só os tomo quando estou num estado absoluto de incapacidade à dor e à vida tout court. 


domingo, novembro 09, 2025

Domingo, 9.

Aquela coisa idiota como tantas outras que o sistema americano possui e dá pelo nome de shutdown, foi feita para confrontos políticos mas não para as pessoas que há mais de um mês sofrem as suas consequências. Os pagamentos salariais por lá são feitos quinzenalmente, e hoje milhares e milhares de administrativos passam fome e muitos já se despediram dos organismos oficiais onde trabalhavam. São ao todo 40 milhões de americanos em situação aflitiva. Alguns, para não morrerem à fome, vendem os seus bens. Entretanto, para acudir aos necessitados, bombeiros, sociedade civil, militares e autarquias mobilizam-se para reforçar os bancos alimentares. Para Trump a culpa é dos democratas, para estes dos republicanos que querem bloquear os cuidados de saúde para imigrantes e o Obamacare. 

         - Maria João Pires dá hoje uma excelente entrevista a Pedro Boléo no Público. Diz ela que “não se toca piano com as mãos” e tem toda a razão. Também não admite que os interpretes alterem a partitura, embora aceite a interpretação pessoal de cada executante. Anunciou, recentemente, o abandono dos palcos suponho na sequência de um acidente vascular cerebral. Está, todavia, intacta. Lembro-me dos nossos tempos na Brasileira, a sua obsessão por um lugar onde pudesse realizar os seus sonhos musicais e aquele espaço, perto de Sintra, que um amigo meu lhe vendeu, e mais tarde a compra de Belgais, em Castelo Branco, que o Paulo Santos, então economista em Bruxelas, tentou ajudá-la, mas não conseguiu porque não havia contabilidade que respondesse ao primado da União Europeia. Fez oitenta e três anos, e desejo que o murmúrio da música persista dentro de si como catedral de beleza e repouso celestial. 

         - Acabei de falar com a minha querida amiga Annie no hospital na sequência de uma queda que lhe fracturou a bacia. Enquanto tomava conhecimento do acidente pelo Robert, ela insistiu que queria falar comigo e, num tom de voz vigoroso, disse-me que tinha caído e não se sentia nada bem. Disse-lhe que se pusesse boa porque gostava que fossemos juntos uma exposição em Paris no início do próximo ano. Inteirar-me-ei melhor esta noite com o marido.  


sexta-feira, novembro 07, 2025

Sexta, 7.

Se as coisas eram já complicadas no SNS, tornaram-se impossíveis com as empresas de tarefeiros da saúde. São organizações tenebrosas, que ganham milhões à conta dos escravos; uns bem pagos, caso dos médicos, outros explorados, os dos serviços. Contudo, relativamente àqueles, contorna-os a jura deontológica que os obriga a serem mais sérios – até pela escolha profissional que fizeram – nas suas atitudes. A medicina é uma actividade de raiz das mais humanas, que não pode ser exercida de ânimo leve, no rigor de horários de funcionário público, misturando interesses de ordem vária, ambições ridículas, promoções guerreadas, jactância e arrogância. Também não é um produto, mas sim a dedicação inteira às vidas que se lhe entregam na confiança e devoção da interpenetração que afasta a dor e o sofrimento daquele que a morte espreita através do milagre do clínico que, com a sua arte, a aparta. Suponho que os médicos sejam obrigados ao juramento de Hipócrates quando entram para a respectiva Ordem. Portanto, devem saber que um dos juramentos é consagrar a vida ao serviço da Humanidade e outro, entre tantos, é não fazer uso dos seus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade. Pergunto-me se o comportamento esclavagista do dinheiro, não vai contra o juramento que decerto celebraram na Ordem dos Médicos.  

Dito isto, é evidente que não se lhes pede sejam, na sua imensa dimensão humana, a imagem de João Semana. Mas que compreendam que o mercado e os seus valores, até pela sua própria condição humana, não devem ser trampolim de manobras económicas no oposto à dignidade e esforço científico. Este egoísmo, esta obsessão pela riqueza, está a ser manobrada pelos grandes interesses que só têm no dinheiro a sua existência e conceptualização. Tudo o resto lhes escapa: o outro enquanto pessoa, a medicina como função de vida e abrandamento do sofrimento, a Humanidade como realização colectiva, o doente no seu abandono à dor, a parturiente entregue aquele instante de magia, a morte inevitável que muitas vezes acontece nas suas mãos, enfim. o respeito que lhes deve merecer a condição humana. É por estas e muitas outras razões, que a Medicina possui a grandeza e o milagre de acolher a vida e estar no derradeiro suspiro humano. 

É por estas razões que não dou razão aos médicos que, tal como quaisquer candongueiros, servem-se do WhatsApp para convocar greve à doença e ao sofrimento alheio, às urgências e às cirurgias, num país tão flagelado por tantas desgraças e triste pelo abandono a que fora votado desde a desordem implementada por António Costa apoiado pelo actual Presidente da República. Toda a minha admiração e agradecimento vai para a Ministra da Saúde. Deus a lhe dê força para afrontar clubes de interesses nos hospitais públicos, na Ordem dos Médicos, nas instituições que ganham imenso dinheiro com a pobreza em Portugal, nesse parasitismo que se instalou por todo o lado e vai ser muitíssimo difícil de erradicar. Esta manobra dos médicos tarefeiros, é contra os colegas, contra as instituições, contra o povo, a favor dos primados, da ostentação financeira entre clínicos, no desafio aos médicos que, honra lhes seja feita, ainda vêem na medicina pública a guardiã, o primado da ciência e entrega ao outro enquanto missão e respeito pelos princípios hipocráticos. Se no fim-de-semana da greve morrer algum nobre português por falta de assistência, os tribunais deviam condenar aqueles que renunciaram ao trabalho, mesmo pagos ao dobro dos seus colegas. Mais uma vez, reclamo que os futuros médicos sejam obrigados a permanecer nos hospitais do Estado cinco a dez anos após a formatura, de molde a compensar o país do montante que neles investiu.  


quinta-feira, novembro 06, 2025

Quinta, 6.

O tempo melhorou consideravelmente. Ontem, mal tinha saído do comboio e me preparava para pegar no carro de regresso a casa, caiu uma tal carga de água e relâmpagos que me susteve por um tempo na estação. Assim que abrandou um pouco, ao volante, de novo chuva e vento fortes que me deixaram paralisado ao portão à espera que abrandasse. O pobre do Black esperava-me cheio de fome, era já noite, e ele miava sem perceber a razão que me levara a não deixar a viatura. Uma hora antes, na desordem que é hoje Lisboa e as suas estruturas urbanas, fiquei preso no metro mais de meia hora e para alcançar o fertagus, tive que tomar um táxi, atravessar a cidade e embarcar na Avenida de Roma. Centenas de passageiros nas gares, nenhuma razão apresentada pelo Metro. As pessoas não contam para nada na democracia de hoje.   

         - A EDP vai, enfim, ter de pagar mais de 300 milhões de impostos pela venda de seis barragens, em 2020. Esperta, tentou escapar, criando o artifício de reestruturação empresarial através de uma cisão de empresas. Deixa cá ver se me lembro quem estava a dirigir o país no ano desse negócio chorudo. Quem era, quem era, ah, pois claro era o tal que adora a vidinha airada em Bruxelas e pavonear-se pelo mundo inteiro. Chut, não se fala em nomes, não se pessoaliza ninguém. Deixei-me, todavia, por uma vez, elogiar a menina do BE, de seu nome querido Mariana Mortágua, que se insurgiu no Parlamento contra a atitude que prejudicava não só o erário público como as autarquias em favor dos acionistas. 

         - Os nossos queridos comentadores. Como poderíamos nós viver sem eles, sem a luz que dimana das suas límpidas teses, dos subterfúgios que utilizam, da sabedoria que reina sobre a maior neutralidade. Agora, sem darmos por isso, há uma nova geração que está a abancar pelos canais televisivos. Coitados, são a raiz da sua precedente, sem tirar nem pôr. Lá para trás, na nuca daquelas cabeças doiradas, abriga-se um sopro que ao oxigenar o interior, ver-te a mesma comoção, os mesmos significados, os mesmos qualificativos, ipsis verbis, que ouvimos durante décadas e deles nos enfastiámos até à raiz dos cabelos. Servem patrões escondidos, que lhes alimentam o ego e a conta bancária, oferecem o corpinho e a carita laroca à imagem perturbada pela palavra que não sai ao seu jeito e se embrulha na desfaçatez. Para eles os 6 por cento que somam o BE e o Livre são mais importantes e decidem do nosso destino que todo o fantasmagórico lote de partidos. 

         - Terríveis e dolorosas imagens que nos chegam dos confrontos no Sudão. Quem acode àqueles infelizes, estando o mundo inteiro inquieto com a guerra que pode rebentar a qualquer momento. Não há olhos, nem misericórdia para os infelizes que morrem como tordos desde 2023 na disputa do poder pelas duas facções rivais: as milícias tribais e Forças Armadas do Sudão, lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan.

         - As rajadas de vento que por aqui passaram, atapetaram o chão de azeitonas pretas. 


quarta-feira, novembro 05, 2025

Quarta, 5.

O brouhaha que os socialistas e a imprensa a eles rendida fizeram com aquele que roubou malas nos aviões entre Lisboa e S. Miguel, deputado do Chega no Parlamento, não tem paralelo com este que assaltou adolescentes roubando-lhes dinheiro e passes sociais na cidade sadina, onde acabou de ser eleito pelo Partido Socialista à Câmara de Setúbal, Sr. Marco Costa, apenas sussurrado. Pois é, cá se fazem, cá se pagam. Verdadeiramente, o único partido digno desse nome onde nunca aconteceram misérias destas, é o Partido Comunista. Honra lhe seja feita. Pena aquela ideologia maluca de tudo e todos submeter. 

         - Dizem-me que a noite foi terrível de temporal. Eu só posso testemunhar a aurora tocada a rajadas de vento forte, chuva diluviana, trovões e relâmpagos. Apesar disso, fui a Lisboa e no intervalo dos meus afazeres, recolhi-me na Fnac para continuar a avançar no romance. Todos os minutos contam, com efeito. 

         - A campanha para a Presidência prossegue. Não perco o meu preciso tempo com isso. O pouco que me chega, não me dissuade da opção António Seguro. Os outros, todos, todos, todos, são sucedâneos do mesmo modelo que impera há cinquenta anos. Um horror insuportável. Na prática política, Seguro desde a sua saída do PS empurrado por aquele que agora se pavoneia em Bruxelas, e não fez melhor do que ele porque quem acabou por ganhar as eleições foi Passos Coelho, logo nessa altura se viu a dimensão humana do candidato a Belém: saiu silencioso, recolheu à sua vida anterior, não apareceu em comícios ou outras actividades políticas e só durante umas semanas cedeu à tentação de comentador político na televisão. Nesse entretanto, Costa criava aquela aberração que foi a “geringonça”. 


terça-feira, novembro 04, 2025

Terça, 4.

Vivemos numa batalha constante, numa guerra sem fim para a qual não demos o nosso aval. Aquela criatura que fala um português de chinelo, a quem os médicos entregaram os seus interesses, sempre esganiçada, marimbando-se para os desastres dos clínicos, serviços, direcções administrativas, que a corajosa Ministra da Saúde tem enfrentado desarrumando conluios, negócios, lembrando a uns e outros os deveres deontológicos de uma profissão que não se coaduna com o mero funcionário público, num confronto hercúleo que decerto vai perder muito embora haja da parte do PS algum bom-senso e da ex-ministra da pasta, Marta Temido, até o aviso que a coisa lá não vai com o despedimento da actual executiva, mesmo assim, o vozeirão da extrema-direita e da extrema-esquerda (como eles se entendem tão bem!) não desarma enquanto não virem uma pessoa competente e corajosa fora do barco do poder. Quem vai perder com todo este ódio somos todos nós, povo trabalhador e ordeiro, que necessitamos de ter saúde para encarar esta gentalha que nos saiu na lotaria da democracia. 

         - Outro dia, necessitando com urgência de um café, entrei num estabelecimento da Rua Alexandre Herculano chamado Copenhagen Coffee Lab. Pedi a bica ao balcão e ao balcão paguei em antecipação. “Um euro e cinquenta” diz-me a rapariga que me atendeu. “Será que estou em Paris ou Piccadilly Circus?” Ela exibindo um ar profissional: “Nós só temos café de lotes escolhidos topos de gama estrangeiros.” Tomada a bebida, chamei a empregada e disse-lhe que fosse enganar quem quisesse, mas aquele café era uma zurrapa, uma chicória inqualificável.” “Não temos culpa que não conheça os bons cafés.” “Talvez, respondi, mas estúpido é que não sou nem saloio.” E debandei, apressado. Estamos assim, somos isto. Mas não somos piores nem melhores do que sempre fomos, apenas, com tantos estrangeiros entre nós, ganhámos a impressão que somos superiores. As formigas com catarro, hoje são aos milhares. 

         - O anjo da guarda de serviço a esta pobre criatura, apresenta-se sem que eu o solicite provando que me vigia sem descanso. Assim, ontem, não pude arredar pé porque a bateria que tinha sido posta há um ano, pifou. Vai daí chamei o Sr. Oleh que prontamente apareceu com um ajudante e montou outra pela módica quantia de 30 euros. Tenho absoluta confiança nele, não só porque é ucraniano, ainda porque é honesto e competente como são todos os da sua origem que por aqui passaram. 

         - Depois do almoço reclinei-me na chaise longue para um soninho simpático. Antes tinha feito uma hora de natação sem parar, e daí que este corpinho esbelto tenha sentido atracção pelo descanso. Todavia, ao mergulhar no rio do sono, outro me esperava atendendo ao clima invernoso idêntico ao de Cambrai. Assim, fui embalado nas memórias dos invernos em casa da Annie, estendido no divã do salão escutando a melodia da chuva a bater na janela, a par da voz da minha amiga na cozinha, fui remando rio abaixo na consolação das lembranças que me guiaram ao doce conforto do repouso. 


segunda-feira, novembro 03, 2025

Segunda, 3.

Eu admiro a coragem, a força, a determinação de Ana Paula Martins, Ministra da Saúde. A esquerda, conluiada com a direita de Ventura, todos os dias, monta sobre ela para a derrubar, culpando-a de todos os males, fingindo ignorar que um misterioso comprimido paulatinamente a leva à morte: a luta diária dos extremos que acaba por favorece os privados e desgraçar a maioria do povo português que sustenta a Segurança Social. Ninguém se insurge contra os médicos que, sem aviso prévio, faltam às equipas médicas nas urgências, assim como o sistema técnico na coordenação com o INEM, os bombeiros que nem sempre actuam em rede, como pouca gente fiscaliza os utentes com direito a serem assistidos, mas enquadrados em esquemas internacionais que se aproveitam da gratutidade do SNS. Esta miséria, que nos condena à entrega a doenças, à falta de consultas atempadas, ao acompanhamento dos tratamentos, à morte e à infelicidade do fim, é obra da balda que se instalou com o SARCOV-2 e foi desenvolvida com a falta de competência e imposta por ideologias senis, dos que apoiaram o atendimento prioritário aos que chegavam em bando para serem tratados no nosso país, deixando o rasto de irresponsabilidade que hoje se vê de Norte a Sul já esquecido da desordem, do corre-corre do ministro de então, da negligência nos hospitais, das filas intermináveis nas urgências e do muito que ninguém falou porque não havia espaço mediático para tal. Registem: quem vier a seguir, será sacrificado na praça pública por um bando de irresponsáveis que só tem um fito: tomar o poder pela força do caos. Pôr ordem nas instituições deixadas para trás por aquele que se pavoneia nos grandes estrados internacionais, não é pera doce. 

          - Gaza regressou à desordem, a guerra que nunca parou completamente, recomeçou com mais violência de parte a parte. Netanyahu voltou a atacar o Líbano. Toda a zona é um calvário, o Gólgota dos infelizes que morrem em nome de ninguém. 

         - Ontem, com a Piedade, apanhámos uns quilos de azeitona para ser tratada e consumida ao longo do ano. Ouço na TV que este ano não há muita colheita devido ao tempo quente. No entanto, por aqui, as minhas oliveiras estão tão carregadas como nunca vi. Longe vai o tempo em que as varava e entregava o montante no lagar e deste recebia 50 por cento em azeite maravilhoso. Hoje, a nossa estimada UE, tudo proibiu em nome da saúde dos cidadãos e para riqueza dos latifundiários.

         - “A imaginação atreveu-se a saber mais do que sabe.” Frei Bento Domingues indignado com aqueles que pensam que a morte é o fim de tudo. 


sábado, novembro 01, 2025

Sábado, 1 de Novembro.

Não estou em mim. Depois de três meses de uma dificuldade absoluta em ver para ler, observar imagens ao longe ou simplesmente ver televisão, eis que, tendo entrado na loja do Chiado com o objectivo de exigir o dinheiro que gastei nos óculos pós-operação à catarata, sou recebido por um funcionário que aguentou o ímpeto da minha revolta e a transformou num competente exame corrigindo a progressão das lentes que tinha sido mal feita e me custaram dias e horas de sofrimento. Saí de lá outro, substitui inclusive a armação e no final tudo me foi dado gratuitamente. De quinta até hoje, querendo compensar o tempo perdido para a leitura e a escrita, dupliquei as horas e os serões ficaram mais dilatados, uma vez terminado o noticiário da SIC e não sendo eu amante dos dejectos televisivos, logo me entreguei às minhas actividades no repouso sereno das noites plenas de silêncio. 

         - Quinta-feira fui ao Centro de Saúde para uma consulta de rotina marcada com dois meses de antecedência quando antes bastava uma semana. A Dra. Vera Martins achou-me óptimo e também ela me disse estar com muito bom aspecto, mais novo e etecetera e tal. Vou fazer a habitual bateria de exames anuais e depois se verá se ela tem razão. Por outro lado, como sou refractário a medicamentos e continuo longe deles, tendo recusado vacinar-me, pedi-lhe que me receitasse Ben-u-ron para qualquer percalço e assim saí directo para o meu restaurante de outros tempos quando morava perto, no Largo do Rato. Apesar da chinfrineira (os portugueses falam cada vez mais alto seguindo a pouca educação dos africanos), consegui isolar-me e voltar aos tempos da minha comummente entrega aos dias lassos e longos da rotina citadina. É facto que voltei as costas à minha cidade de nascença, mas também é verdade que ela já não me reconhece nem eu a ela. Estamos de costas voltadas porque não consigo suportar o desamor que entretanto se instalou por todo o lado, a balbúrdia, o ar desarrumado que reina nas suas ruas e praças. Talvez uma saudade rasteira ainda me aborde quando caminho por aqui e por acolá, talvez no ar ainda impere o perfume da minha adolescência turbulenta, as memórias corridas pelo vento sacudam fantasmas e anjos, instantes e perigos, paixões e imprevistos, mas já não absorvo o ritmo descontrolado que foi o meu, querendo chegar a tudo, dos encontros imprevistos, às dores das exaltações abandonadas numa curva, num café, sob as árvores dos jardins, dos candeeiros, as corridas loucas entre Cascais e o Rossio. É verdade que nada disso morreu e em murmúrios muitas vezes recordo as noites acossadas e vazias, quando tornava a casa insatisfeito e dorido de sentimentos e falsas promessas, a imagem bela que tinha intenção de emoldurar e ficara esquecida na dobra da negrura, pisada pelas palavras mal balbuciadas, pelos ciciamentos de que a noite se apropriou, deixando-me ali, vazio e triste, sob o céu escuro onde o amor no momento em que se anunciara logo morria.