quinta-feira, outubro 09, 2025

Quinta, 9.

Rogério Ribeiro com quem me cruzei muitas vezes, é figura de topo no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Dois andares oferecem ao visitante uma mostra do muito que fez no domínio da pintura, desenho, azulejaria.  O artista, militante do PCP (julgo que para o fim da vida se desvinculou), trabalhou segundo o princípio que “todo o homem é político”, depois alargado a “tudo é política”, mesmo a forma como nos sentamos na sanita todas as manhãs... Bref. O que eu reprovo aos neo-realistas é a falta de liberdade, o sentimento de pertença a uma geração que em grande medida se anulou para seguir os evangelhos comunistas, numa espécie de padronização artística que ficou condicionada a expressões caritativas que realçam a supremacia dos líderes sobre o analfabetismo do povo português e da população em geral. A temática não varia muito e as personagens confundem-se com a paisagem envolvente, que denuncia o esforço humano, as condições de vida, a ignorância e a pobreza, enfim, a realidade social do país. É uma arte formal, cinzentona, repetitiva. Rogério Ribeiro como tantos outros da sua geração, faz da arte um meio de denúncia onde o povo se reconheça e a sua vida seja recordada por gerações futuras. Se compararmos, por exemplo, os desenhos de Álvaro Cunhal que, portanto, desenhava muito bem, identificamos logo o período, a época, as preocupações socais comuns a um grupo de neo-realistas que saiu das fráguas do Partido: pintores, escultores, escritores, ceramistas. As personagens são quase sempre homens e mulheres do povo, “do nosso povo” como ainda hoje gostam de dizer os líderes políticos. São seres estáticos, vergados ao peso do trabalho no campo, no mar, nas vastas zonas de cearas. E daqui não arredam os nossos neo-realistas, presos como ficaram a uma realidade que não avança, que não progride, como não se expande (e a escrita já agora) dos nossos simpáticos artistas. Há como que uma mortalha que desceu sobre a sua obra, amortalhando o gesto, a cor, o movimento, luz e a densidade que permite à arte galgar os limites de ideologia. O Neo-realismo não tem horizontes, não se abre à dúvida, à interrogação que permite aquilo e o seu contrário, são meros retratos que registam sob o labor monocórdico a monótona vida que só pertence a Portugal e daqui não se alarga em discussões e interpretações estéticas por detrás das quais se descobre a magia da arte. Mesmo quando na parte final da sua vida o pintor entra pelo expressionismo, é com o olhar do neo-realismo. Aqui vai lá longe, nos espaços vastos da sua memória, trazer à tela os mesmos retratos, as mesmas paisagens,  o mesmo olhar que tolhe o desenvolvimento pictórico. E todavia, esconde-se dos nossos olhos o outro artista, a magia que enche a tela, aquele que laboriosamente trabalha a tinta da china, esse labor meticuloso, essa intimidade com a arte ao milímetro, densa, abstracta, que as horas eternas da união com o objecto criado, fazem por magia ressuscitar a tela, enquanto objecto de arte e presença dos valores intrínsecos à sua natureza, o que não ousávamos ser possível e nos interpela e nos esmaga e nos desperta para o mundo metafísico de onde tanta coisa brota às vezes sem a consciência dos seus obreiros. Para não falar na cerâmica. Na exposição existem apenas duas peças. Contudo, elas desfecham uma perspectiva interessante sobre esse domínio artístico que pouco conheço de Rogério Ribeiro. Na primeira metade do século passado, quando o marxismo-leninista imperou como esperança e redenção do paraíso na terra, o realismo estalinista lançou os alicerces do neo-realismo que entre nós existiu por pouco tempo. Na URRS, o Comissariado para a Educação do Povo, não permitia aos artistas exprimirem o que lhes ia na alma e muitos foram os que viram as suas obras destruídas pelo fogo, com a simples e pateta ideia de que o povo não as compreendia, como aconteceu ao vanguardista ucraniano Kazimir Malevitch e a tantos outros, sem falar naqueles que inundaram igrejas e casas particulares com ícones de uma beleza sem igual. O próprio Lenine dizia:  “Não posso elogiar as obras dos expressionistas, futuristas, cubistas e outros “istas” como a máxima revelação do génio artístico. Não os entendo. Não me agradam”. É esta asserção que entre nós imperou, felizmente não com a brutalidade estalinista, mas como cópia franciscana do nosso pobre destino.  

Exemplos do que analisei




         - O SNS vai de mal a pior. O bebé que nasceu no chão do hospital no Norte é um exemplo de como se encontra a saúde. Não gostava de atribuir culpas à ministra, porque sei como anda a Administração Pública e a balda dos serviços, o atendimento aos cidadãos, a lotaria que vêm ganhando os médicos desde que passaram a tarefeiros. Muitas são as crianças que passaram a vir ao mundo dentro das ambulâncias que os bombeiros conduzem em busca do hospital que possa receber as parturientes. Um bombeiro aqui da Moita, outro dia, numa urgência a que teve de fazer de ginecologista, disse: “A vida não espera.” Aconselho o ministério a fazer desta frase o headline para todo o Serviço Nacional de Saúde.  

          - Amanhã o Comité Nobel vai atribuir o Nobel da Paz. Trump tudo tem feito para o merecer, invejoso por Barak Obama o ter ganhado em 2009. O seu plano de paz para a Faixa de Gaza não me parece credível. Pelo contrário, a ser posto em prática, vai gerar mais ódio e violência de parte a parte. Foi feito à pressa para estar pronto antes da reunião de Oslo. Assim vai o nosso mundo. Brrrrrrr!