domingo, outubro 26, 2025

Domingo, 26.

Esta manhã desisti de assistir à missa transmitida dos Açores. Não pude suportar o sacerdote, espécie de vedeta televisiva, com uma pança enorme, largo de rosto como de gestos, voz de falsete, presença de actor improvisado e nenhum registo de fé ou crença naquilo que dizia. Pertence à linha do padre Tony da Madeira. 

         - Soube-se agora que as fraudes no SNS somam 800 milhões de euros! Deve estar perto a saída da actual Ministra da Saúde, mas todas ou todos os que lhe sucederem, não vão conseguir endireitar um organismo onde a corrupção favorece os que nele trabalham, como os que vêm montando em paralelo a cadeia de serviços hospitalares no privado. E assim vamos ter que gramar aquela vozinha irritante da Dra. Joaninha que se está nas tintas para os doentes e defende, gritando num português primário, a classe que representa. 

         - Os inquéritos não mentem. O velho Portugal - Deus, Pátria, Família - tão grato a Salazar, há muito que nos abandonou. Em substituição, como a estes valores se juntou aquilo a que a esquerda dizia ser o ópio do povo - Fado, Futebol, Fátima – estando hoje mais exacerbados como nunca, em clara derrota dos objetivos dos antifascistas, a alienação leva os filhos queridos a assassinar os primogénitos como foi o caso recente de uma rapariga que atirou para matar o pai e um rapaz de 14 anos que assassinou a mãe com a arma do progenitor. Para não falar nos maus-tratos físicos e psicológicos, no desprezo pelos familiares que de pronto são atirados para os lares, verdadeiros cemitières que ne sont que vestiaires de la résurrection parafraseando André Frossard. 

         - Eu vou ter que conservar estes óculos para emprestar àquelas e àqueles que insistentemente me dizem “está mais novo”. Foi o caso esta tarde da Piedade que há mais de um mês não aparecia, como o da Maria Amélia outro dia. Olham, decerto, para a aparência, esquecendo-se da recta-guarda onde se escondem os anos, se disfarçam as calamidades, se acoitam as quimeras. 

         - Fui apanhar um cesto de romãs para oferecer à minha governanta de 40 anos. Já a semana passada presenteei o Carlos com um saco. Contudo, o dia foi ainda de recolha de marmelos e da experiência de fazer compota – ensaio nunca exercitado. O resultado foi uma agradável surpresa. Enchi quatro frascos que arquivei na parte de baixo do armário chinês onde duas prateleiras guardam os frutos de anos transactos. 

         - Que mais? A minha velha amiga Annie telefonou a perguntar a que horas chego a Roissy no próximo mês. Disse que tinha de adiar a viagem para o início de 2026 porque o preço subiu de 130€ para 600€ só porque adquiria os bilhetes à última hora. Logo os lamentos foram despejados. Que lhe desse o meu número de IBAN, que lhe parecia uma eternidade o tempo sem me ver, que... Querida e saudosa Amiga de 400 anos! Conserva a voz fresquíssima e a amizade que nos une está intacta como desde que nos conhecemos, quando fui a Paris fazer uma série de reportagens para o jornal A Capital sobre a condição dos emigrantes portugueses, e o seu primo Jean Pierre Bombard, director na UNESCO, nos apresentou e ela me abriu portas para realizar com dignidade o meu trabalho.