Quinta, 16.
Aquelas imagens terríveis em que o HAMAS liquida palestinianos que diziam ter sido cúmplices dos israelitas durante dois anos de guerra, são de uma violência sem igual. Pura selvajaria, puro desprezo pela condição humana, pura barbárie. O país está de novo sob o seu exército assassino, depois de os outros criminosos terem-se afastado para as margens concebidas no Acordo de Paz. Na realidade, bem vistas as coisas, estão as duas tropas frente a frente, aguardando recomeçar a guerra suspensa por alguns dias. Eu sempre desconfiei dos acordos de Trump, tudo organizado à pressa, na mira do Nobel que acabou por lhe escapar e agora os seus adjuntos e propagandistas querem seja alcançado no próximo ano.
- Ontem vieram aí os amigos almoçar. A mesa foi montada lá fora e em torno dela discutiu-se tudo e mais alguma coisa. Carlos surgiu muito diminuído o que me fez grande pena. Ele é a imagem do que nos vai acontecer: trôpego de pernas, curvado, surdo, com um fio de cabeça que ainda articula aquilo que tão bem aprendeu sobre os séculos XVII e XVIII no domínio da arte. Todos já ultrapassaram os oitenta, a Marília os noventa, e todo este quadro me alertou para o futuro... se futuro tiver.
- “Eu só não cortei, para mim passar depois com a motosserra.” Modo de falar do Sr. José Manuel que andou aí a aparar o relvado em torno da piscina. Prazer de ter ainda algum dinheiro para despejar nas mãos deste respeitável homem.
- Estou a ler um livro interessante de Marie Darrieussecq, traduzido por Diogo Paiva, Não dormir. Trata-se de um ensaio sobre a insónia e nele entram dezenas e dezenas de insones como ela, que levam as noites num desassossego onde o tempo se consome nas lutas pelo descanso, a matança dos demónios, as toneladas de narcóticos e técnicas de sortilégios, rituais, álcool, overdoses de soporíferos, corte das pálpebras como Marco Abílio Régulo, para dormir. Nele passam os grandes escritores, poucos escapam a esta tortura que desgasta e leva à morte tanta gente. Eu que sempre fui um privilegiado neste concerne, por ciclos curtos e não me tendo aproximado do seu nível de perdição, também me achego aos meus muitos fantasmas que por vezes me visitam pelas madrugadas.