quarta-feira, outubro 22, 2025

Quarta, 22.

A comadrice política está por todo o lado. Veja-se o caso de Sarkosy, em França. O homem foi acusado de corrupção, de receber fundos do ditador da Líbia, o tribunal condenou-o a cinco anos de prisão que iniciou ontem, e não obstante a classe política veio em seu auxílio com o actual ministro da Justiça e Macron a ajoelharem-se a seus pés pedindo-lhe desculpa pela prisão dourada a que os juízes o condenaram. À sua porta, em Paris, tinha o julgado um magote de gente, cerca de cem pessoas, a darem-lhe apoio e a desejar que seja libertado brevemente. É por estas e muitas outras situações que 90 por cento dos franceses, num recente inquérito, disseram não acreditarem nos partidos.  

         - Tal como eu aqui previ, a tragédia do elevador da Glória, nunca conhecerá uma sentença justa nem tão pouco um simples julgamento. A cornucópia de desastres na manutenção do transporte é tal, que condena toda a estrutura de técnicos e empresas com responsabilidades na fiscalização e manutenção da sua estrutura. Imagine-se que até o famoso cabo foi trocado quando da substituição do anterior há poucos anos. O que lá montaram parece que conduzia directamente à morte os passageiros. Ninguém escapa no inquérito preliminar que agora saiu, estando à cabeça o administrador da Carris que, lembro-me, se apresentou inocente ao lado do Presidente da Câmara de Lisboa. Este sacode a água da sua incompetência, repetindo que não tem responsabilidades políticas no desastre – como se nós soubéssemos o que quer dizer “responsabilidades políticas”. Ou antes, vou tentar descobrir. O que me acode ao espírito é a contestação de o responsável culpado por má gestação ou corrupção, ser despedido do cargo para no dia seguinte recomeçar a sua calma vidinha de professor, funcionário público ou simplesmente empresário. Resumindo: nada lhe acontece e a isto se chama “responsabilidade política”. 

         - A ex-actriz agora deputada europeia, e também candidata à Presidência da República, senhorita Catarina Martins, diz que quer ser a “Presidente que cuida da democracia”. Estávamos lixados se tal acontecesse e a democracia também. 

         - Quando atravesso períodos hipnagógicos, sou levando por vastidões imensas de imagens e pensamentos, temores e derrotas sem fim. Foi o caso há dias e tudo à minha volta ruiu e eu sem forças para recomeçar. 

         - Acabo de entrar. Fui ao Chiado tentar resolver o drama na visão que os óculos adquiridos numa fábrica me criaram. Tanto o oftalmologista como dois optometristas  me dizem que a montagem das lentes foi mal feita e o desvio do campo de visão chega a ter três milímetros. A ver vamos como me desembaraço deste problema, sendo certo que tenho tido imensa dificuldade em ler e escrever. Basta pensar que por causa dos olhos, este ano até ao momento apenas li onze livros (história, filosofia, romance, ensaio).