quarta-feira, outubro 29, 2025

Quarta  29.

O Chega de André Ventura tem muita sorte com o propagandista da sua ausência de ideias, dos seus impulsos em momentos apropriados, das suas querelas mesquinhas, da oportunidade dos seus dichotes, esse divulgador chama-se Partido Socialista. Foi o partido de Sócrates, Costa, Santos Silva, Nuno dos Santos que lhe deram a fama e o proveito que hoje enche de orgulho o chefe chico-esperto.  

         - O furacão Melissa que entrou como um touro na Jamaica, tocado a ventos que atingiram 295 km/hora, fez estragos monstruosos no Sudoeste do país, reduzindo a nada extensas áreas de campo, derrubando árvores, casas, estradas, num rasto de estragos por todo o lado e mais de meio milhão de residentes sem energia eléctrica. Graças à competência do Governo que se preparou com eficácia para enfrentar o touro, até ao momento não há registo de mortes. O monstro dirige agora para Cuba. 

         - O Orçamento do Estado foi aprovado na Assembleia Nacional. Do que percebi, aquilo é toma-lá-dá-cá. Outra coisa não seria de esperar, num país sem investimento público e privado. A máquina administrativa é muito carregada e os seus 700 e tal mil funcionários sempre ávidos de melhores salários e muitas greves pelo meio. Daí que, no que toca ao SNS, a ordem tenha sido para cortar a eito nas despesas, mesmo que isso implique menos actos médicos - as famosas cirurgias fora do horário para aliviar as listas de espera -, gastos com medicamentos, contratação de pessoal clínico e prestadores de serviços...  Espero que a senhorita Joaninha da FNAM dê uma olhada ao OE e deixe de alimentar as fantasias e ambições dos seus arregimentados e enfrente a realidade do país. E já agora nos diga o que pensa dos 800 milhões de euros de fraudes no nosso pobre SNS. 

         - Prometeram-nos as trevas, a desgraça, mas o que tivemos por aqui foi um dia resplandecente de Sol e calor qb. Não deixei a casa e os arredores nem para ir lá abaixo ao portão ver se o carteiro tinha feito greve.  


terça-feira, outubro 28, 2025

Terça, 28.

Montenegro recusa aumentar as reformas mais baixas. Faz mal. Com essa posição engrandece o discurso da esquerda para quem os pobrezinhos são a moeda de troca mais apetecida e disponível. E no entanto, se o PS e todos os outros à esquerda tivessem a equidade em apreço, fariam a grande reforma na Segurança Social que há muito se impõe, a começar por estabelecer um tecto máximo e mínimo para as reformas, assim como alterariam a lei de quando as mulheres eram apenas donas de casa e não auferiam salário nem reforma, e hoje, por morte de um dos cônjuges, o outro herda uma parte da reforma mantendo a sua intacta. Para um tal acto, era necessário abalar os acordos instituídos por políticos que têm a suprema inteligência de cuidar de si em primeiro. E já agora, é insuportável que o Estado, quero dizer os nossos impostos, paguem cursos caríssimos aos estudantes de medicina, para logo depois, após autorização do exercício da actividade, partirem para o estrangeiro. 

         - Vladimir Putin, anunciou a concepção de um míssil Burevesnik, de impulso nuclear, com capacidade para alcançar 14 mil quilómetros. Trump respondeu ao amigo que melhor fora que acabasse com a guerra na Ucrânia que devia ter durado uma semana e já vai em quatro anos. E disse mais: “Nós não precisamos de tanto, uma vez que temos um submarino nuclear, o maior do mundo, bem perto da costa”, entenda-se russa.

         - Da análise feita pelo Tribunal de Contas Europeu, as firmas portuguesas pouco aproveitaram da “bazuca”. Havia 109 mil milhões de euros do PRR para melhorar as empresas nacionais, mas apenas um terço das reformas empresariais foram concluídas. O curioso, é que quem avaliou a gestão dos interesses financeiros da UE, foi o ex-ministro das Finanças de António Costa, senhor João Leão, hoje representante português do órgão independente com assento no Luxemburgo. Definitivamente, não nos livramos dele. 

         - Fui nadar à piscina municipal. Ao cabo de um bom par de meses, lá voltei a encontrar os mesmos velhotes gordos, sorridentes, a discutir nos balneários os candidatos a Belém. Acham? Ora, o que os apaixona são as eleições do Benfica, cada um puxando pelo seu favorito num calor idêntico ao do João quando discute política. A dado momento, aqueles corpos nus depilados pela idade, parecia que se criam desafiar à espadeirada. 


segunda-feira, outubro 27, 2025

Segunda, 27.

Não quero deixar passar. A senhorita Mortágua que dirigiu o Bloco de Esquerda nestes últimos dois anos, decidiu abandonar o cargo assim como o lugar na Assembleia. Foi o acto mais sensato e lúcido que alguma vez teve. Eu não acredito nestes grupelhos do tipo anos Sessenta, chiques pró caraças, arregimentados por gente da classe média e média alta, com tempo e condições para se entregar a todas as fantasias sociais, sindicais e políticas, sabendo de antemão que nunca alcançarão o poder: BE, Livre e a esposa dos cãezinhos. Porque são algraviados, a imprensa que temos, não os larga e faz deles representantes de partidos maioritários... mas nem assim o bom povo os elege.  


domingo, outubro 26, 2025

Domingo, 26.

Esta manhã desisti de assistir à missa transmitida dos Açores. Não pude suportar o sacerdote, espécie de vedeta televisiva, com uma pança enorme, largo de rosto como de gestos, voz de falsete, presença de actor improvisado e nenhum registo de fé ou crença naquilo que dizia. Pertence à linha do padre Tony da Madeira. 

         - Soube-se agora que as fraudes no SNS somam 800 milhões de euros! Deve estar perto a saída da actual Ministra da Saúde, mas todas ou todos os que lhe sucederem, não vão conseguir endireitar um organismo onde a corrupção favorece os que nele trabalham, como os que vêm montando em paralelo a cadeia de serviços hospitalares no privado. E assim vamos ter que gramar aquela vozinha irritante da Dra. Joaninha que se está nas tintas para os doentes e defende, gritando num português primário, a classe que representa. 

         - Os inquéritos não mentem. O velho Portugal - Deus, Pátria, Família - tão grato a Salazar, há muito que nos abandonou. Em substituição, como a estes valores se juntou aquilo a que a esquerda dizia ser o ópio do povo - Fado, Futebol, Fátima – estando hoje mais exacerbados como nunca, em clara derrota dos objetivos dos antifascistas, a alienação leva os filhos queridos a assassinar os primogénitos como foi o caso recente de uma rapariga que atirou para matar o pai e um rapaz de 14 anos que assassinou a mãe com a arma do progenitor. Para não falar nos maus-tratos físicos e psicológicos, no desprezo pelos familiares que de pronto são atirados para os lares, verdadeiros cemitières que ne sont que vestiaires de la résurrection parafraseando André Frossard. 

         - Eu vou ter que conservar estes óculos para emprestar àquelas e àqueles que insistentemente me dizem “está mais novo”. Foi o caso esta tarde da Piedade que há mais de um mês não aparecia, como o da Maria Amélia outro dia. Olham, decerto, para a aparência, esquecendo-se da recta-guarda onde se escondem os anos, se disfarçam as calamidades, se acoitam as quimeras. 

         - Fui apanhar um cesto de romãs para oferecer à minha governanta de 40 anos. Já a semana passada presenteei o Carlos com um saco. Contudo, o dia foi ainda de recolha de marmelos e da experiência de fazer compota – ensaio nunca exercitado. O resultado foi uma agradável surpresa. Enchi quatro frascos que arquivei na parte de baixo do armário chinês onde duas prateleiras guardam os frutos de anos transactos. 

         - Que mais? A minha velha amiga Annie telefonou a perguntar a que horas chego a Roissy no próximo mês. Disse que tinha de adiar a viagem para o início de 2026 porque o preço subiu de 130€ para 600€ só porque adquiria os bilhetes à última hora. Logo os lamentos foram despejados. Que lhe desse o meu número de IBAN, que lhe parecia uma eternidade o tempo sem me ver, que... Querida e saudosa Amiga de 400 anos! Conserva a voz fresquíssima e a amizade que nos une está intacta como desde que nos conhecemos, quando fui a Paris fazer uma série de reportagens para o jornal A Capital sobre a condição dos emigrantes portugueses, e o seu primo Jean Pierre Bombard, director na UNESCO, nos apresentou e ela me abriu portas para realizar com dignidade o meu trabalho. 


sábado, outubro 25, 2025

Sábado, 25.

Ontem, depois de ter escapado à fé ideológica do João que quando tem companhia refina, fui sentar-me na Fnac e avancei em correcções até à página 100 do romance. Ainda me resta muito trabalho pela frente, e a parte final nem escrita está. Mas o que releio, humilha-me enquanto criador de uma vida (a de Ana Boavida), porque a fantasia, mesmo numa obra romanesca, corre trás da realidade. É por isso que considero estas discussões, este estar numa esplanada em conversa, deixando o tempo disperso por temas efémeros, realidades sem fundamento ou sendo fundamentadas não têm a consistência da ciência porque cingidas a dogmas políticos, uma pura perda de tempo, um desgaste emocional inútil, de que não sinto precisão absolutamente nenhuma. 

         - Nem a propósito. No jornal da noite da SIC, vi-me a comparar o Ventura na forma de falar, malbaratar as palavras e as ideias, a tentativa demagógica de impor os seus projectos políticos, à maior parte desta gente dita de esquerda. São os mesmos ímpetos, as mesmas verdades, o fogo que incendeia e tolhe os adversários, as certezas que são dogmas morais vinculados a posições extremadas. Como se não houvesse mais concepção da vida humana fora dos seus princípios formatados em certezas sociais que o século XIX concebeu e agrilhoaram durante todo o início do século XX povos inteiros,  reduzindo-os a meros escravos de uma classe de ditadores de onde saíram Putin, Xi, Castro, Pol Pot, Jong-un para só citar os que tiveram na ruína marxista-leninista a fé dos seus princípios ideológicos e sociais. 

         - Ontem foi dia de greves na função pública: médicos, funcionários das autarquias, professores, enfermeiros e passo. São as famosas greves de fins-de-semana às sextas e segundas-feiras. O egoísmo desta gente, que está às ordens dos sindicatos que por sua vez estão sob a pata dos partidos, que reclamam aumentos salariais e benesses de toda a ordem, quando ganham o dobro do resto dos portugueses, é intolerável e tem que acabar. Tem? Não, não tem. Porque o país está tão desorganizado, constituído em guetos de malfeitores, gananciosos e desumanas criaturas que nenhum partido democrático poderá alterar aquilo a que as esquerdas chamam “os direitos dos trabalhadores”, entenda-se os da função pública. Os sindicatos que os defendem a eles e nos atacam a nós, milhares e milhares de portugueses que estão reduzidos a simples pagadores de impostos. 


quinta-feira, outubro 23, 2025

Quinta, 23.

Provavelmente não combinaram entre si, mas o que é facto é que um faleceu e logo depois o outro. Falo de Francisco Pinto Balsemão e Laburinho Lúcio. Aliás a debandada parece ter-se instalado – todos nos deixam e todos nos fazem falta por razões diversas. Tem dias foi António Borges Coelho, pouco tempo antes Manuel Cargaleiro. Com todos eles tive conctado, com dois amizade. Só falei uma vez julgo na Nazaré, com o Ministro da Justiça do governo Cavaco Silva (já agora que este não se lembre de nos deixar também). 

         - Evidentemente, que a SIC e os seus colaboradores façam uma emissão inteira dedicada ao desaparecimento do seu fundador, é respeitável e natural. Eu cruzei-me diversas vezes com o dono do Expresso nomeadamente no jornal A Capital e nem sempre estivemos de acordo em questões várias. Mas tinha simpatia por ele, embora ache que ninguém à face da terra tem o consenso que nos querem impingir. À boa maneira portuguesa, Maria vai com as outras, o coro que se levantou é ridículo e tem mais de espectáculo, de hipocrisia, que de unanimidade e respeito pela vida tout court. A começar por aquela figura, essa sim, destinada à galhofa que é o actual Presidente da República. Todos conhecemos as suas divergências e ainda há dois anos, na sua biografia, Pinto Balsemão dedica um capítulo pouco simpático a Marcelo Rebelo de Sousa. Quer-me parecer, se tanta gente desceu à rua de lágrimas de crocodilo vertidas sobre  o caixão do desaparecido empresário da comunicação; com Marcelo, chegada a sua vez,  será um coro de gargalhadas...  

         - O criminoso Netanyahu, como venho dizendo, perdeu em todas as frentes. A pouco e pouco, todos o abandonam e prevejo que até Trump se fartará das suas obsessões expansionista e do seu desprezo pela vida humana. Ele e a trupe de criminosos, incerta a Faixa de Gaza, a desilusão do acordo de cessar-fogo, querem tomar a Cisjordânia como forma de manter a guerra. O mundo inteiro está farto de imagens como esta que parece fazer renascer os ortodoxos que o mantêm no poder. 


Pertencerá esta criança ao HAMAS?

 




quarta-feira, outubro 22, 2025

Quarta, 22.

A comadrice política está por todo o lado. Veja-se o caso de Sarkosy, em França. O homem foi acusado de corrupção, de receber fundos do ditador da Líbia, o tribunal condenou-o a cinco anos de prisão que iniciou ontem, e não obstante a classe política veio em seu auxílio com o actual ministro da Justiça e Macron a ajoelharem-se a seus pés pedindo-lhe desculpa pela prisão dourada a que os juízes o condenaram. À sua porta, em Paris, tinha o julgado um magote de gente, cerca de cem pessoas, a darem-lhe apoio e a desejar que seja libertado brevemente. É por estas e muitas outras situações que 90 por cento dos franceses, num recente inquérito, disseram não acreditarem nos partidos.  

         - Tal como eu aqui previ, a tragédia do elevador da Glória, nunca conhecerá uma sentença justa nem tão pouco um simples julgamento. A cornucópia de desastres na manutenção do transporte é tal, que condena toda a estrutura de técnicos e empresas com responsabilidades na fiscalização e manutenção da sua estrutura. Imagine-se que até o famoso cabo foi trocado quando da substituição do anterior há poucos anos. O que lá montaram parece que conduzia directamente à morte os passageiros. Ninguém escapa no inquérito preliminar que agora saiu, estando à cabeça o administrador da Carris que, lembro-me, se apresentou inocente ao lado do Presidente da Câmara de Lisboa. Este sacode a água da sua incompetência, repetindo que não tem responsabilidades políticas no desastre – como se nós soubéssemos o que quer dizer “responsabilidades políticas”. Ou antes, vou tentar descobrir. O que me acode ao espírito é a contestação de o responsável culpado por má gestação ou corrupção, ser despedido do cargo para no dia seguinte recomeçar a sua calma vidinha de professor, funcionário público ou simplesmente empresário. Resumindo: nada lhe acontece e a isto se chama “responsabilidade política”. 

         - A ex-actriz agora deputada europeia, e também candidata à Presidência da República, senhorita Catarina Martins, diz que quer ser a “Presidente que cuida da democracia”. Estávamos lixados se tal acontecesse e a democracia também. 

         - Quando atravesso períodos hipnagógicos, sou levando por vastidões imensas de imagens e pensamentos, temores e derrotas sem fim. Foi o caso há dias e tudo à minha volta ruiu e eu sem forças para recomeçar. 

         - Acabo de entrar. Fui ao Chiado tentar resolver o drama na visão que os óculos adquiridos numa fábrica me criaram. Tanto o oftalmologista como dois optometristas  me dizem que a montagem das lentes foi mal feita e o desvio do campo de visão chega a ter três milímetros. A ver vamos como me desembaraço deste problema, sendo certo que tenho tido imensa dificuldade em ler e escrever. Basta pensar que por causa dos olhos, este ano até ao momento apenas li onze livros (história, filosofia, romance, ensaio).  


terça-feira, outubro 21, 2025

Terça 21.

Os nossos políticos, como sempre, adoram os pequenos affaires da política e com eles se entretêm e fogem dos verdadeiros problemas e escassezes dos portugueses. Desta vez, foi um salmo vomitado por Ventura sobre o uso das burqas em Portugal. Logo toda a esquerda dita humanista e respeitadora da mulher se levantou. E todavia, o problema pode ter duas visões: do lado da mulher muçulmana que o marido domina e obriga a cobrir o corpo da cabeça aos pés; dos princípios europeus que impedem um tal atentado aos seus costumes e, nessas condições, acham que quem opta por entre nós viver, terá que se adaptar aos nossos usos e costumes. Ainda esta simples observação. Experimente qualquer das senhoritas do Bloco de Esquerda emigrar para o Bangladesch e por lá andar de cabeça descoberta, exibindo o cabelo corrido de uma ou o loiro da outra. Não é pecado perguntar, senhoras e senhores da dita esquerda portuguesa. 

         - Da balda governativa não somos só nós que nos queixamos – é toda a Europa pasmada com os governantes que lhe calharam no destino. O último exemplo, aconteceu há três dias com o roubo de umas quantas jóias da Coroa Francesa depositadas no Museu do Louvre. Em sete minutos, os ladrões entraram por uma janela com ajuda de uma escada extensível, partiram o vidro da sala onde estão expostos os tesouros nacionais, depois os das montras e abalaram sem que ninguém tivesse oferecido resistência. As peças, valiosíssimas, pertenceram à monarquia e império francês, tais como presentes de casamento de Napoleão, um colar de esmeraldas e brincos da imperatriz Maria Luísa e um conjunto de safiras e diamantes que couberam às rainhas Maria Amélia e Hortense, entre outras valiosas peças de joalharia. A Coroa da imperatriz Eugénia foi recuperada posteriormente. 

Bela peça que os ladrões perderam durante a fuga. 

         - Ontem fechei o Verão, o lounge, a piscina. Mesmo assim, as fartas braçadas só se extinguiram sábado. 

         - Sábado depois de chegar de Lisboa onde estive em vão e tendo a ela tornado ontem. Almocei com o Carlos e a regressada Maria Amélia que me cobriu literalmente de panegíricos: “Está na mesma”, “elegante”, “magro”, “maravilhoso”. Carlos desenrascou-me dos problemas com o Mac, foi comigo à óptica, divertimo-nos como dois amigos de longa data. 


domingo, outubro 19, 2025

Domingo, 19.

É com tristeza que registo a morte de António Borges Coelho. Era um homem excepcional, uma pessoa honestíssima, uma personalidade invulgar de uma ternura sem igual. Faleceu com 97 anos na sequência de uma pneumonia. Como registei nas páginas de então, quando o nosso convívio acontecia com imensa frequência, antes e após o 25 de Abril, sendo eu um adolescente a quem ele prestava atenção, nunca deixei de o acompanhar ultimamente por telefone ainda há poucos meses. Historiador com obra escrita naquele jeito luminoso que era o seu, sofreu quando anos a fio foi impedido pela PIDE de leccionar nas faculdades portuguesas. Nunca lhe ouvi um lamento pessoal, sempre o escutei na revolta surda que era a sua por um Portugal mais livre e democrático. Estive perto dele quando trabalhou estreitamente no Partido Comunista, ouvi-lhe muitos reparos e entusiasmos, e acho que mais tarde se afastou dos camaradas como tantos outros antifascistas. Restam os livros para o seu público que era vasto. Para mim que tive a sorte de o conhecer, fica a pessoa de voz calma, quase balbuciada, e sorriso doce, discreto e bondoso. Descansa em paz meu inolvidável amigo, que Deus te restitua em presença imortal, quanto nos destes e trocastes connosco. Não esquecerei os nossos passeios ao longo do paredão da praia da Parede, o café mais adiante, as tardes banhadas da luz imorredoura à qual hoje me recolho em memória da nossa amizade. 


sexta-feira, outubro 17, 2025

Sexta, 17.

Como sabemos e sentimos na pele, a administração pública está a rebentar pelas costuras, nunca a balda foi tanta, nunca houve tantas greves a desafiar o Governo para aumentos, nunca os passageiros dos transportes públicos foram tratados como gado como há uns tempos acontece. Os barões das infra-estruturas estão à cabeça, sem que se sintam constrangidos com o comboio que vinha do Algarve esta semana tivesse perdido uma carruagem no caminho. Parece anedota e até daria um conto que adianto desde já o título: “Então rapariga, ficastes para trás?” O que não sairia daqui? O que não se poderia juntar a este facto risório e anedótico se não tivesse sido real a testemunhar em que estado operam os comboios da CP. 

         - A propósito de comboios. Desta vez, num a sério que parte e chega a horas, é limpo, o viajante é tratado com respeito e a empresa chama-se Fertagus. Foi anteontem. Um casal entrou: ela bonita, cabelos loiros pelos ombros; ele loiro também, nem bonito nem feio, ambos pelos vinte anos. Ela sentou-se no banco, ele ficou perto, o rosto dela a dar-lhe pela cintura dele. Às tantas escuto este diálogo: Ela: “Já viste usas as calças tão a baixo que qualquer dia vê-se tudo.” Dirijo eu o olhar, e dou com as cuecas azuis do rapaz e, de facto, já a desaparecerem ao fundo da braguilha. Responde ele: “E tu. Já vistes o decote, tens praticamente as mamas à mostra.” Confirmo eu que já tinha reparado como, de resto, é hoje comum andarem raparigas e mulheres velhas e relhas. Não tarda, temos o mulherio todo como a desportista Océane Dodin que se apresentou recentemente no preparo que a foto mostra. Dito isto, ainda iremos assistir ao desafio dos homens a exibir o trambolho à janela das cuecas. Olarila! Têm o mesmo direito. Agora que vai ser bonito, lá isso...


quinta-feira, outubro 16, 2025

Quinta, 16. 

Aquelas imagens terríveis em que o HAMAS liquida palestinianos que diziam ter sido cúmplices dos israelitas durante dois anos de guerra, são de uma violência sem igual. Pura selvajaria, puro desprezo pela condição humana, pura barbárie. O país está de novo sob o seu exército assassino, depois de os outros criminosos terem-se afastado para as margens concebidas no Acordo de Paz. Na realidade, bem vistas as coisas, estão as duas tropas frente a frente, aguardando recomeçar a guerra suspensa por alguns dias. Eu sempre desconfiei dos acordos de Trump, tudo organizado à pressa, na mira do Nobel que acabou por lhe escapar e agora os seus adjuntos e propagandistas querem seja alcançado no próximo ano. 

         - Ontem vieram aí os amigos almoçar. A mesa foi montada lá fora e em torno dela discutiu-se tudo e mais alguma coisa. Carlos surgiu muito diminuído o que me fez grande pena. Ele é a imagem do que nos vai acontecer: trôpego de pernas, curvado, surdo, com um fio de cabeça que ainda articula aquilo que tão bem aprendeu sobre os séculos XVII e XVIII no domínio da arte. Todos já ultrapassaram os oitenta, a Marília os noventa, e todo este quadro me alertou para o futuro... se futuro tiver. 


         - “Eu só não cortei, para mim passar depois com a motosserra.” Modo de falar do Sr. José Manuel que andou aí a aparar o relvado em torno da piscina. Prazer de ter ainda algum dinheiro para despejar nas mãos deste respeitável homem. 

         - Estou a ler um livro interessante de Marie Darrieussecq, traduzido por Diogo Paiva, Não dormir. Trata-se de um ensaio sobre a insónia e nele entram dezenas e dezenas de insones como ela, que levam as noites num desassossego onde o tempo se consome nas lutas pelo descanso, a matança dos demónios, as toneladas de narcóticos e técnicas de sortilégios, rituais, álcool, overdoses de soporíferos, corte das pálpebras como Marco Abílio Régulo, para dormir. Nele passam os grandes escritores, poucos escapam a esta tortura que desgasta e leva à morte tanta gente. Eu que sempre fui um privilegiado neste concerne, por ciclos curtos e não me tendo aproximado do seu nível de perdição, também me achego aos meus muitos fantasmas que por vezes me visitam pelas madrugadas. 


segunda-feira, outubro 13, 2025

Segunda, 13.

Entrei na sala onde estavam reunidos os escrutinadores: duas mulheres, um homem com um nome estrangeiro, uma rapariga e um rapaz. Uma das criaturas olhou-me assim que entrei, acompanhou-me com o olhar até à cabine secreta, e quando voltei para depositar os três votos onde estava selecionado João Ferreira, ela não tirava os olhos da minha pessoa. “Está a reconhecer-me de qualquer lado?” Ela acenou com a cabeça que sim. E eu: “Não sabe quem eu sou, mas também não lhe vou dizer.” “Tenho a impressão que o leio com frequência”, respondeu já nas minhas costas quando eu apressadamente saía da sala. 

         - O PSD parece que ganhou em todas as frentes. Ainda bem que Luís Montenegro corrigiu a boutade segundo a qual 2.300 euros é uma renda demasiado alta ao contrário do que havia dito e escrito. Salvou-se do trambolhão. Assim, durante algum tempo, fui acompanhando as apostas dos portugueses e os comentários dos comentadores. Aquilo parecia que estava tudo bêbado. Todos falavam do Chega, da sua implementação em todo o território, dos perigos que daí viriam; mas o que os quadros que íamos vendo no ecrã nos mostravam, era a não existência de votos no partido de Ventura. Com efeito, o próprio se auto-flagelou, ao admitir que os sonhos e as loucuras não se concretizaram e até havia recuado para terceira força autárquica. A primeira é agora o PSD, os socialista, coitados, ainda estão a sofrer da conduta de António Costa e do seu sucessor esquerdista, Sr. Nuno Santos. Não se levantarão tão depressa. Os pequenos resquícios partidários que se juntaram ao PS, foram literalmente liquidados. E penso que até foi por isso que o Partido Socialista sofreu a debandada de eleitores. Quem é que confia numa ninhada de tontos que tomam a actividade política por algo chique, à moda dos anos Sessenta, como se Salazar ainda estivesse em S. Bento. Todavia, para mim, uma vez mais o que me inquieta é a abstenção: 40,7%. 

         - Fui votar, mas antes comprimi um maço de algodão nos ouvidos para que não chegassem de novo as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa que nos incentivou a votar a pensar nos 36 mil milhões que aí vêem de Bruxelas. Que idiotice!  


sábado, outubro 11, 2025

Sábado, 11.

Ontem fui encontrar-me com o Paulo Santos. Durante um certo tempo estive a ler no telemóvel, o seu próximo livro dedicado ao pintor Pedroza cuja obra, magnífica, é consagrada ao mar e à paisagem marítima. Faço votos para que a Câmara de Oeiras não saia das mãos de Isaltino Moraes, pois é ele que costeará a edição. Fiquei contente com o prémio que a Marinha Francesa atribuiu ao seu livro anterior, publicado o ano passado, sobre a obra de Claude-Joseph Vernet. Ainda bem que Paulo Santos mandou às urtigas a vida política para se consagrar a construir obra artística de grande qualidade. Deixa-te ficar do nosso lado, querido amigo. 

         . Vejo todo o mundo satisfeito pelo fim da guerra na Faixa de Gaza. Também gostava de acreditar no acordo alcançado por Donald Trump, mas tudo o que leio é demasiado propagandístico para me convencer. Comigo estará muita gente, inclusive o Comité Nobel que não lhe deu o tão cobiçado e manobrado Prémio Nobel da Paz que foi para uma grande senhora da Venezuela, Maria Corina Machado, que não abandonou o país e nele continuou a enfrentar Nicolas Maduro enquanto o candidato à Presidência senhor Edmundo Urrutia, se refugiou em Espanha. Trump é tão bélico por natureza e egocentrismo, que está nos antípodas do humanismo que conduz o mundo à união e à paz. Com ele, antes e depois da paz, estão os negócios. O seu amigo Netanyahu deve começar a temer pelo cargo e a prisão. 

         - O modus operandi de Macron em política, permiti-lhe tudo e o seu contrário. Depois de ter aceitado a resignação de Sébastian Lecornu, voltou a nomeá-lo primeiro-ministro. E quanto a mim muito bem. Outro dia, estive a ouvir do princípio ao fim a longa entrevista que ele deu ao canal francês 2, e fiquei babaca. O homem é inteligente, digno, sério, seguro, capaz de compreender num relâmpago a situação. O panorama que traçou da França de hoje, é correcto e traduz alguém com cabeça, frieza e capacidade de endireitar as coisas.  

         - Amanhã vou ao Passos Manuel votar em João Ferreira. Eu não voto em partidos, comentadores, militares – voto em pessoas. De todos os autarcas que ouvi, só ele me convenceu pela integridade, o conhecimento, as causas e os valores sociais e colectivos. O PCP onde ele está filiado, fez muito bem em não se juntar àquela turbamulta que mete de tudo: “revolucionários”, gentalha de esquerda olé olé, oportunistas e grupos insignificantes que pretendem lugares onde ganhem algum e ocupem o tempo.  


quinta-feira, outubro 09, 2025

Quinta, 9.

Rogério Ribeiro com quem me cruzei muitas vezes, é figura de topo no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Dois andares oferecem ao visitante uma mostra do muito que fez no domínio da pintura, desenho, azulejaria.  O artista, militante do PCP (julgo que para o fim da vida se desvinculou), trabalhou segundo o princípio que “todo o homem é político”, depois alargado a “tudo é política”, mesmo a forma como nos sentamos na sanita todas as manhãs... Bref. O que eu reprovo aos neo-realistas é a falta de liberdade, o sentimento de pertença a uma geração que em grande medida se anulou para seguir os evangelhos comunistas, numa espécie de padronização artística que ficou condicionada a expressões caritativas que realçam a supremacia dos líderes sobre o analfabetismo do povo português e da população em geral. A temática não varia muito e as personagens confundem-se com a paisagem envolvente, que denuncia o esforço humano, as condições de vida, a ignorância e a pobreza, enfim, a realidade social do país. É uma arte formal, cinzentona, repetitiva. Rogério Ribeiro como tantos outros da sua geração, faz da arte um meio de denúncia onde o povo se reconheça e a sua vida seja recordada por gerações futuras. Se compararmos, por exemplo, os desenhos de Álvaro Cunhal que, portanto, desenhava muito bem, identificamos logo o período, a época, as preocupações socais comuns a um grupo de neo-realistas que saiu das fráguas do Partido: pintores, escultores, escritores, ceramistas. As personagens são quase sempre homens e mulheres do povo, “do nosso povo” como ainda hoje gostam de dizer os líderes políticos. São seres estáticos, vergados ao peso do trabalho no campo, no mar, nas vastas zonas de cearas. E daqui não arredam os nossos neo-realistas, presos como ficaram a uma realidade que não avança, que não progride, como não se expande (e a escrita já agora) dos nossos simpáticos artistas. Há como que uma mortalha que desceu sobre a sua obra, amortalhando o gesto, a cor, o movimento, luz e a densidade que permite à arte galgar os limites de ideologia. O Neo-realismo não tem horizontes, não se abre à dúvida, à interrogação que permite aquilo e o seu contrário, são meros retratos que registam sob o labor monocórdico a monótona vida que só pertence a Portugal e daqui não se alarga em discussões e interpretações estéticas por detrás das quais se descobre a magia da arte. Mesmo quando na parte final da sua vida o pintor entra pelo expressionismo, é com o olhar do neo-realismo. Aqui vai lá longe, nos espaços vastos da sua memória, trazer à tela os mesmos retratos, as mesmas paisagens,  o mesmo olhar que tolhe o desenvolvimento pictórico. E todavia, esconde-se dos nossos olhos o outro artista, a magia que enche a tela, aquele que laboriosamente trabalha a tinta da china, esse labor meticuloso, essa intimidade com a arte ao milímetro, densa, abstracta, que as horas eternas da união com o objecto criado, fazem por magia ressuscitar a tela, enquanto objecto de arte e presença dos valores intrínsecos à sua natureza, o que não ousávamos ser possível e nos interpela e nos esmaga e nos desperta para o mundo metafísico de onde tanta coisa brota às vezes sem a consciência dos seus obreiros. Para não falar na cerâmica. Na exposição existem apenas duas peças. Contudo, elas desfecham uma perspectiva interessante sobre esse domínio artístico que pouco conheço de Rogério Ribeiro. Na primeira metade do século passado, quando o marxismo-leninista imperou como esperança e redenção do paraíso na terra, o realismo estalinista lançou os alicerces do neo-realismo que entre nós existiu por pouco tempo. Na URRS, o Comissariado para a Educação do Povo, não permitia aos artistas exprimirem o que lhes ia na alma e muitos foram os que viram as suas obras destruídas pelo fogo, com a simples e pateta ideia de que o povo não as compreendia, como aconteceu ao vanguardista ucraniano Kazimir Malevitch e a tantos outros, sem falar naqueles que inundaram igrejas e casas particulares com ícones de uma beleza sem igual. O próprio Lenine dizia:  “Não posso elogiar as obras dos expressionistas, futuristas, cubistas e outros “istas” como a máxima revelação do génio artístico. Não os entendo. Não me agradam”. É esta asserção que entre nós imperou, felizmente não com a brutalidade estalinista, mas como cópia franciscana do nosso pobre destino.  

Exemplos do que analisei




         - O SNS vai de mal a pior. O bebé que nasceu no chão do hospital no Norte é um exemplo de como se encontra a saúde. Não gostava de atribuir culpas à ministra, porque sei como anda a Administração Pública e a balda dos serviços, o atendimento aos cidadãos, a lotaria que vêm ganhando os médicos desde que passaram a tarefeiros. Muitas são as crianças que passaram a vir ao mundo dentro das ambulâncias que os bombeiros conduzem em busca do hospital que possa receber as parturientes. Um bombeiro aqui da Moita, outro dia, numa urgência a que teve de fazer de ginecologista, disse: “A vida não espera.” Aconselho o ministério a fazer desta frase o headline para todo o Serviço Nacional de Saúde.  

          - Amanhã o Comité Nobel vai atribuir o Nobel da Paz. Trump tudo tem feito para o merecer, invejoso por Barak Obama o ter ganhado em 2009. O seu plano de paz para a Faixa de Gaza não me parece credível. Pelo contrário, a ser posto em prática, vai gerar mais ódio e violência de parte a parte. Foi feito à pressa para estar pronto antes da reunião de Oslo. Assim vai o nosso mundo. Brrrrrrr! 


quarta-feira, outubro 08, 2025

Quarta, 8.

Ontem, tendo ido a Lisboa tratar de um assunto, desci em Entrecampos e fui ao centro comercial do Saldanha a pé. Lugar onde não entrava há muitos anos e o que vi horrorizou-me. Por todo o lado, instalou-se a vulgaridade, o salve-se-quem-puder, o mau gosto, a vida envolta na trapalhada do dia-a-dia. Talvez os mais novos não se dêem conta, crescidos neste marulhar sem sentido, empurrados pelas exigências do consumo, onde o rigor, a observação, o bom gosto não é recomendado. Um entre os demais, jamais um enquanto ser com primazia e sentido do valor fundamental da vida. 

         - Luís Montenegro apropriou-se da governação António Costa. Em poucos meses, pôs de lado o rigor, o equilíbrio, a sagesse. Ficou desonesto, do tipo banha-da-cobra, prometendo tudo num jogo de poder que se igualha a toda a mediocridade que nos tem governado. Lamento dizer isto, mas a sua pessoa e o modo como se tem apresentado ultimamente, equiparou-o a toda a ralé política que pretende representar-nos no imediato, para nos enjeitar no futuro.  

         - A “revolucionaria” que comanda as hostes esquerdistas do BE, regressada da grande aventura palestiniana, queimada do sol, cheia de orgulho pelo gesto inútil e infantil que empreendeu, pensava que seria eu e os portugueses que pagam os seus impostos com língua de fora, deviam pagar os custos da façanhice. Enganou-se. É ela e os seus afilhados, como lhes compete, que liquidarão os montantes da  propaganda que andou a fazer por lugares sagrados de tanto sofrimento. 

         - Ontem passaram dois anos e 67 mil mortes, sofrimento, dor e miséria para dois milhões e meio de palestinos. A guerra que Israel iniciou, transformou-se numa banalidade onde o ser humano foi reduzido a coisa nenhuma, um estorvo entre as ruínas em que a Faixa de Gaza se transformou. Não auguro nada de bom para a tratado de paz de Donald Trump. O cheiro a negócios paira sobre os túmulos dos que perderam a vida numa guerra onde os habitantes não possuíam armas e apenas lhes restava a fé em Alá. Como não esqueço as vítimas do HAMAS, a sua dignidade ao afirmarem que não querem nem nunca quiseram vingança, mas que Netanyahu para salvar a pele prosseguiu até à derrota final, aquela que não venceu nem vencerá e terá que se vergar a implorar a paz aos seus algozes. 

         - Tempo moche. Sem poder mergulhar, entreguei-me à leitura. Findei Pascal. O sexo e as suas implicações em Deus, nortearam o escritor até ao fim da vida. Libido, sentienti, libido sciendi, libido dominandi – eis a base da doutrina pascaliana: a carne, o espírito, a vontade que foram as preocupações também de S. Paulo. 


segunda-feira, outubro 06, 2025

Segunda, 6.

Regressaram frescos e combativos, os “revolucionários” compadecidos dos palestinianos. No aeroporto foram recebidos pelos seus adeptos assíduos, os mesmos que invadiram, domingo, a estação do Rossio e fizeram estragos e pelo menos um deles foi para o hospital por ter sido electrocutado num comboio. Dizem que foram muito maltratados, que não dormiram, passaram fome e assim. Mas a gente olha para eles e para os outros de outras nacionalidades que eu observei em estações de televisão internacionais, e não lhe vemos nenhuma marca de violência. A não ser que eles entendam que deviam ser recebidos na prisão com champanhe e palitos la raine

         - Estou a findar a releitura do livro Pascal com textos escolhidos e introdução de François Mauriac. Neste introito, quem se expõe é o autor de Le désert de l´amour. A dada altura diz ele: “Nous ne savons rien de Pascal amoureux, sinon qu´il parlait de l´amour comme quelqu´un qui en a souffert.” Quase me apetecia devolver estas palavras ao seu comentador... Quem conhece o antes e o pós-II Guerra, e conviveu com a plêiade de escritores que se conheciam e frequentavam – Jean Cocteau, Gide, Green, Mauriac, Jean Schlumberger, Robert de Saint-Jean, Gertrude Stein e passo -, sabe que espécie de convívio e sombras existia entre eles, uns mais às claras, outros resguardados pelos mandamentos da Santa Madre Igreja e dos códigos morais-sociais-pequeno-burgueses. O casamento era a fachada que lhes restituía uma certa dignidade moral, e encobria as traseiras onde a multiplicação de amores circunstanciais era o leit-motiv para toda a sorte de escapadelas e mordidelas no matrimónio. Pascal enferma da doutrina que S. Paulo largamente impôs, tendo por centro da vida humana o sexo ou o seu desvio dito natural. Jesus Cristo que nunca se pronunciou sobre o assunto, é para esta hipóstase existencial, o vingador, o que não permite ao homem os prazeres fora do contexto familiar abençoado pela Igreja. Como se todos nós perante Deus, fôssemos apenas a satisfação dos nossos instintos que nos desnorteiam e subjugam. Como se a exclusividade do amor, pudesse sobrepor-se ao desejo que a rua nos oferece e o nosso íntimo reclama. Tudo o que sai deste esquema simples, puro na sua essência desde que aceite no interior de cada um de nós, é ofensa a Deus, é pecado condenado à luz dos cânones religiosos. Depois, seguindo Blaise Pascal, naquela noite em que ele diz ter escutado a voz de Cristo e nos lega as Suas sublimes palavras: “Console-toi, tu ne me chercherais pas si tu ne m´avais trouvé. Je pensais à toi dans mon agonie, j´ai versé telle goutte de sang pour toi... Veux-tu qu´il me coûte toujours du sang de mon humanité sans que tu donnes des larmes?” Impressionante, não é? Contudo, para voltar a Mauriac, subsiste de que podridão de vida padeceu Pascal, que buscas pela satisfação dos instintos que, portanto, nos foram dados por Deus, foram as suas que não ousou revelar-nos, embora padecesse no corpo e na alma, levando-o à morte aos 39 anos de idade e a sua obra fundamental por acabar - Pensées. De duas uma: os “crimes” de Pascal foram cometidos com mulheres ou com homens. A moral e os bons costumes no século XVII, em Paris, não eram propriamente segredo para ninguém e a mulher francesa tanto se deitava com o rei Luís XIV, como com o jardineiro aperaltado e garboso que lhe tratava dos domínios. Restam os homens. Mauriac não ousa ir tão longe, mas deixa nas entrelinhas essa hipótese, pela insinuação da escrita, pela época, pela sua própria vida de que Green e Cocteau, sobretudo este, teriam muito a contar e, porque não dizê-lo, o último não se exibiu de narrar. É verdade que Pascal não centra os seus “pensamentos” somente na comezinha actividade humana da satisfação da sensualidade. Todavia, toda a obra reflecte essa obsessão que ainda hoje impera na Igreja, não obstante muitos dos seus padres, bispos e cardeais, empurrados pelos instintos (lá está) abjuraram dos seus mandamentos sem, contudo, imagino, perderem a fé. Pascal é muito pragmático na escolha dos temas, na exposição dos mesmos e no império religioso que subjaz em cada linha. Esta passagem: Ce n´est pas que mon intention soit de corriger un vice par un autre, et de ne faire nulles estime des anciens, parce que l´on en fait trop.” E vai mais longe: Je ne prétends pas banir leur autorité pour relever le raisonnement tout seule, quoique l´on veuille établir leur autorité seule au préjudice du raisonnement...” A isto chama-se autoridade, não só no tom como na perspectiva. 

         - Mantenhamo-nos em França, na de hoje, governada por Emmanuel Macron. O primeiro-ministro por ele nomeado há três semanas, acaba de apresentar a demissão. Sébastien Lecornu (citado quase sempre como S. Lecornu), disse na despedida que negociar em tão pouco tempo um orçamento, “é tarefa difícil, ainda mais neste momento” e bateu com a porta. A democracia resvala por todo o lado, destruída pela ambição dos partidos e o despudor dos confrontos frequentes nas ruas. É um regime maravilhoso que tende a acabar. Tornou-se demasiado frágil, exposto a todos os crimes, à corrupção que enxameia por todo o lado. Pela parte que me toca, só o refúgio em Deus me dá protecção. 


domingo, outubro 05, 2025

Domingo, 5.

Cada vez mais sinto que a Europa caminha para o desastre, que não é capaz nem tem políticos à altura deste momento que antecede uma guerra em larga escala. São tantas as experiências e ensaios que Putin tem feito e a Europa olha para o lado incapaz de lhe fazer frente (os pobres e alegretes portugueses satisfazem-se com futebol). Depois dos drones, os balões, as tentativas de abortar cabos submarinos, de interferir em eleições, chegou um certo cinismo de Moscovo, espécie de vitória antecipada. Antónia Costa, oh, ele!, convocou os dirigentes da UE para repensar o momento, mas as coisas não lhe saíram bem e quem acabou por se destacar foi a senhora Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca, principal parceira na ajuda a Zelensky que afirmou o que poucos querem ver: “A União e a NATO já estão em guerra com a Rússia, (mas) uma guerra híbrida.” Putin pode agradecer ao seu amigo Trump. Os únicos que se têm vindo a destacar para além do maior Volodymyr Zelensky, é Macron e recentemente o chanceler alemão Josef Merz.

         - Estes números recentes e inquietantes da realidade nacional das famílias queridas:  35 mil agressões contra idosos, destas 35 por cento pelos filhinhos queridos. 

         - Apanhei uma cesta de marmelos; fiz compota de dióspiros com figos. A noite passada sonhei que Ana Boavida tinha morrido e eu a acompanhava ao cemitério. 


sábado, outubro 04, 2025

Sábado, 4.

O HAMAS parece estar de acordo com a proposta de Trump, mas... Com efeito, aquilo é uma planta de terraplanagem de uma vasta área que o senhor todo poderoso quer alterar, mas sem palestinianos lá dentro. Gaza e toda a Faixa, completamente destruída, não me lembro de ter visto, preto no branco, quem a vai edificar e como. Todo o projecto de paz está construído pensando nos interesses de Israel, como se os que há perto de cem anos lá vivem não contassem para coisa nenhuma. Com estes princípios não há paz que dure e dentro de pouco tempo o horror vai recomeçar.  

         - Nem a propósito, a senhorita Mortágua e seus muchachos, foram presos quando a (chamam-lhe “flotilha”) em que seguia arpoada em guerreira, foi interceptada e todos presos: ela, a menina Sofia, o menino Diogo e o menino Miguel. Nenhuma parte da missão “revolucionária” e “humanitária” foi realizada e eles sabiam perfeitamente que seria impossível a sua execução, portanto foi uma missão inútil, que eles pretendem política, mas que nem as pastilhas elásticas, os cremes, os medicamentos, as latas de atum, etc. chegaram aos destinatários. António Barreto, generoso, diz no Público que “o principal objectivo desta “missão” está alcançado: alertar a opinião pública do mundo inteiro (imagine-se como o mundo soletra o nome portentoso Mariana Mortágua) para a situação de calamidade que se vive em Gaza”. Oh, senhor historiador, com franqueza! Então o mundo ficou mais alerta e vai chorar lágrimas de crocodilo e atirar canhões por ventura desde que a senhorita portuguesa e os companheiros se fizeram ao mar e chegaram de mãos e pés atados os produtos atirados à água? Misteriosamente, de quem não se ouve falar, é da menina Thunberg - cabeça de cartaz da trupe revolucionária. Aqui há coisa... 

         - Ontem fui encontrar-me com o Corregedor na Brasileira. Fui porque lhe levei uma caixa de dióspiros para ele e para a Marília e porque lhe queria agradecer o almoço de ontem, completamente inopinado, em Vila Franca de Xira. Era já tarde quando deixámos o museu da sua eterna nostalgia e não víamos nenhum restaurante. Eis senão quando, avistamos uma pizaria. Entrámos de pé atrás. Que revelação! Éramos os únicos clientes e fomos atendidos por um indiano (o restaurante era todo ele indiano), rapaz ainda jovem com dois filhos e a viver entre nós há meia dúzia de anos. Que amabilidade! Que encanto e bom repasto aquilo que ele escolheu por nós e foi além de barato uma delícia. A tal ponto que, intimamente, venho dizendo que não tardará me meta no comboio e lá vá em passeio. Eis um imigrante que eu não posso dispensar. 

         - A semana finda hoje. Pois bem. Só quando fomos ao museu do Reo-Realismo não mergulhei. De resto, os dias de enfiada, meia hora preenchi eu a nadar e uma hora ao sol. Segundo as previsões, ainda devo poder aproveitar a piscina por toda a semana que vem, apesar de a água já não ter a temperatura do Verão.


quinta-feira, outubro 02, 2025

Quinta, 2 de Outubro.

Outro dia, ao entrar no cinema, encontrei a sala praticamente esgotada. Vi uma grande algazarra, e ao aproximar-me notei que se tratava de um homem, com bom aspecto, gordo, cabelos brancos, que berrava que dali não saía, que tinha pago o bilhete e, embora sendo idoso, não abria mãos dos seus direitos nem o polícia e o empregado o obrigariam a sair do lugar onde se encontrava. “Tenho 82 anos e vocês não fazem de mim o que querem” repetia sem descanso. Daí a um grande espaço de tempo, chegou outro policia fardado e o homem, nada temendo, prosseguia bramindo que com ele não brincavam. A sala na semi-escuridão, plena de espectadores que como eu não sabiam o que se passava, que razões assistiam ao heroico idoso, vendo a hora da sessão passar, esperavam pelo desfeito daquela cena bizarra. Quando aparece um autêntico batalhão de agentes fardados, dirigindo-se à cadeira do reticente espectador. O primeiro deles, o da frente, vinha já com o cassetete em punho, na direcção do pobre homem que não se intimidou e continuou a dizer que dali não saía. Entretanto, eu e muitíssimos mais (talvez mais de meia sala), vendo aquele aparato policial e a forma como encararam o pobre homem, desatámos a vociferar exigindo a saída da autoridade. Um longo período de negociações foi encetado, com a plateia onde alguns jovens se manifestavam contra o ancião dizendo que ele estava com “os miolos avariados”. Um desses estava perto de mim e eu aproveitei para lhe perguntar se era médico, ante a negativa disse alto e bom som: “Você deve pertencer à geração Trump”. Calou o bico. Já passara meia hora sobre o início da sessão, quando vejo quatro polícias a levarem o homem escada abaixo. Depois de súbito, sem que se percebesse porquê, o homem é deposto no chão e mesmo aí sempre a barafustar. Ali ficam todos em conferência uma data de tempo. Optam, então, por levantá-lo na direcção da saída. O ressuscitado  grita: “Ninguém bate palmas?” Com efeito, nenhum espectador o fez. Talvez porque se o fizesse, tivessem a aplaudir o desastroso serviço da polícia. Tantos valentes para um pobre senhor de 82 anos. 

Quando são precisos não parecem. Pois é. São fortes com os fracos e fracos com os fortes. 

         - O que será a Palestina governada por Donald Trump e o primeiro-ministro Tony Blair? 

         - Acabei de entrar de uma viagem a Vila Franca de Xira ao Museu do Neo-Realismo, empurrado pelo amigo do costume. Um dia deste voltarei ao assunto.