quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Quinta, 29. 

A vida não cessa de nos surpreender. Deu-se o caso ontem de ter estado hoje com uma amiga de longa data à conversa durante o almoço no restaurante do C.I. onde nos encontrámos por acaso. A dada altura perguntei-lhe pelo filho que conheci quando era criança e toda a gente dizia possuir a beleza que os realizadores procuram para os seus filmes - tal a formosura que o rapaz exibia. Um amigo da família, na altura com cinquenta anos, tomou por discípulo o miúdo e entre 10 e 14 anos. O homem, amante de desporto, arrastou-o para toda a sorte de modalidades: parapente, natação, esgrima, patinagem, uma ou outra actividade mais radical. A família tinha confiança nele, mais a mais porque era vizinho e o filho com tanto desporto não iria entregar-se à droga ou a outro qualquer modo de vida que o destruiria. Quando o rapaz atingiu os 15 anos, começou a recusar acompanhar o “padrinho” apesar da insistência dos pais e do bem que o desporto lhe fazia. A partir dessa idade, subitamente, tornou-se rebelde, caprichoso, perdeu anos de estudo, não saía de casa agarrado à Internet. O tempo passou. Um dia um primo mais velho, indo o filho da minha amiga já nos 21 aos, convida-o para irem juntos a uma discoteca. Bem bebidos, o nosso Ricardo (nome fictício) começa a desabafar e conta-lhe que X. o tinha apalpado, friccionado e mais não sei o quê, durante anos. No dia seguinte, o primo desloca-se a casa dos pais do rapaz e conta-lhes o que o filho lhe tinha narrado na véspera. Confrontado, Ricardo nega tudo. Os pais, porém, associam situações passadas, comportamentos, estados de alma, coisas ditas e subentendidas e não têm duvida que X. abusou do filho. Avançam para o confrontarem, mas ele nega que alguma vez tivesse feito o que quer que fosse ao rapaz, “isso são coisas da sua imaginação”. A mãe, não é pessoa que se deixe levar e começou a desenvolver buscas e veio a saber que X. já havia feito o mesmo com outras crianças – era, portanto, pedófilo. O caso é apresentado na polícia, uma advogada é contratada e pede logo 1500 euros para tratar de levar o criminoso a tribunal. Anos depois nada. Um dia, numa conversa com amigas, uma advogada destaca-se e diz-lhe que vai tratar do assunto. De facto, meses depois a coisa começou a andar. Ouviram-se estas e aqueles, o juiz juntou provas, mas a Covid instalou-se e de novo tudo se obscurece. Até há dois anos. O tribunal volta a reunir provas e chega a conclusão que X, era useiro e vezeiro em fazer mal a crianças. Condena-o a pagar 1500 euros à vitima hoje com 35 anos, inscreve-o na listas de pedófilos e durante um ano anda controlado com pulseira electrónica e obrigatoriedade de se apresentar na esquadra todos os meses. Na sentença, o juiz, dirigindo-se a Ricardo e aos pais pede-lhes desculpa, mas devido à idade do criminoso nada mais pode fazer. Ricardo conheceu já inúmeras mulheres, casou com uma e divorciou-se, continua a ser acompanhado pelo psiquiatra. “É um belo homem, alto e bem constituído, as mulheres não o largam”, diz-me a minha amiga. Perguntei, utilizando a linguagem mais sensível que me ocorreu, se X. o havia magoado, respondeu-me que não. E logo pensei nas pobres crianças violadas por padres por esse mundo fora. 

         - A Cáritas divulgou números que falam por si e não necessitam das promessas aldrabonas dos políticos que sempre se estiveram nas tintas para o país real, nem da manipulação dos números do Instituto Nacional de Estatística para nada.  Um milhão e 200 mil são pobres e 17 por cento vive na miséria estrema. Mas estes números pecam por não contar com mais pelo menos um milhão a viver na pobreza envergonhada e faz pela vida na razia da existência. Esta vergonha social não foi construída pelo desprezo que os socialistas votaram as pessoas, é estrutural e cresceu muito com a democracia fragilizada pelas lutas ideológicas. Para os políticos que nos saíram na farinha Amaro é natural, congénita, de pouca importância. 

         - Por essa Europa forçada a viver em pleno inverno, a neve cai com abundância, o frio é  medonho, e em consequência vários mortos como em França. Por cá, na Serra da Estrela e nos pontos mais altos cai neve, o vento sopra não deixando os pobres dormir com tranquilidade. Nalguns pontos grandes geadas queimam tudo. 

         - Quem defronta mesmo as piores vergonhas e insultos, são os homens que se guerreiam pelo poder. Prometem tudo e até aquilo que não têm. Eles sabem que nós sabemos que os seus cozinhados programas de governo, não são para cumprir e a democracia não possui formas de os fazer executar – é assim há 50 anos. 

         - Vou à natação. De seguida, se os ventos vierem de feição, atirar-me-ei a roçar a erva.