quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Quarta, 7.

Retomemos a vida, segunda parte. O PS conta com os votos dos funcionários públicos, estes contam com o PS para lhes continuar a aumentar os salários e a manterem-se na ADSE onde podem escolher quem os trate. Esta injustiça que vem dos tempos da outra senhora, quando eles eram mal pagos e aquele complemento de escolha era a contrapartida da sua situação. Hoje tudo se passa ao inverso e ser-se funcionário do Estado é um privilégio não só porque não pode ser despedido, ganha melhor, como se arvora o direito de tratar mal o cidadão. A esquerda, travada nos seus ditames, pratica a contradição a seu bel-prazer: detesta os cuidados privados, mas é a eles que recorre quando a doença lhe bate à porta; dá primazia aos estatais, mas, como se viu nestes últimos oito anos, nunca os privados cresceram tanto, se construíram novos hospitais, clínicas e as seguradoras se expandiram em seguros de saúde. Há por isso um país socialista a dois ritmos: os fidalgos e os subalternos. Poderia também associar o ensino onde milhares de alunos transitaram do público para o privado. Ou dos transportes onde os públicos cresceram em orgulho marimbando-se para os passageiros e os privados sempre a horas, sem greves selvagens, impecáveis. A ordem socialista destes derradeiros anos, é execrável. A sociedade no todo está desfigurada, egoísta, aldrabona, sem conceitos éticos e morais, cada um por si e a miséria por todos. Portugal nunca saiu beneficiado com os socialistas. Antes arruinaram as finanças, corromperam, roubaram, manipularam, ao ponto de ter vindo a troika pôr ordem no país. Hoje, marcados pelo estigma de não saberem de finanças e atirarem o trabalho dos privados carregando-os de impostos para a acção dita social, que mais não é em muitos casos que a esmola farta ganhada pelo sector privado, que não dá riqueza nem levanta da miséria aqueles que nela, por inércia ou gosto, permanecem. Daí esta obsessão das “contas certas”. É a única arma que os vejo esgrimir com orgulho, uma arma muito pesada para o conjunto dos portugueses na miséria, na indigência, na privação quotidiana. Estamos mas pobres, mais atrasados, mais revoltados, mais invejosos, mais patetas, mais incultos, temos uma sociedade sem valores cívicos, abastada no futebol e seus escândalos, na mediocridade e alienação de programas televisivos de um baixo nível confrangedor, que alimentam à saciedade a vida vazia de um povo deixado ao abandono e ao salve-se quem puder. Ainda agora me sinto traumatizado por tudo o que vi nas Urgências do hospital de Setúbal. Que pobreza, que mergulho na era salazarista, que desonra para SNS que os socialistas desfizeram e qualquer Governo que venha, vai ter muito, mesmo muito, que trabalhar para se afastar dos idos anos do Estado Novo em que acabámos mergulhados. É como recomeçar tudo de novo. Esta tropa fandanga, de António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa passando por ministros, secretários, gestores públicos toda esta gente nefasta, incompetente, falaciosa, propagandista devia entrar em pousio por vinte anos – como aconteceu aos socialistas franceses. São tipos destes que nos trazem a direita extrema ou a esquerda ditatorial. São fanáticos que se entendem às mil maravilhas com os opostos que combatem. 

         - A par do desastre que me aconteceu, tive ainda de tentar recompor a pobre da Piedade. O neto, numa ira de loucura motivada pela droga, desfez-lhe a casa, partiu móveis, loiça, arrancou linhas de electricidade, telefone, partiu os vidros das janelas. Aos oitenta e cinco anos é doloroso ter que passar por desacatos desta ordem. A amante que vive com ele, e não fala com a dona da casa, viu-se obrigada a chamar a polícia, tal o susto porque ambas passaram. 

         - Fui fazer natação. Antes tinha 16,4-8,5, depois 14,2-7,8. Todavia, evito escrever no romance porque tenho a certeza que o pico de tensão teve a carga das emoções acumuladas que a escrita me traz. E no entanto, segunda-feira, quando saí do Centro de Saúde, desaguei no café da Fnac e apliquei-me nele. Foi um disparate porque senti de novo o termómetro a subir. Vou ter de passar no hospital da Luz a ver se o Tó me acalma com a sua sabedoria.