Segunda,
22.
A
litania acode às gargantas dos desesperados que se sentem abandonados no meio
da fogueira dos incêndios. Estes surgem
quando ninguém espera pela mão assassina que lança o crime e zarpa. Também,
ciclicamente, a Annie telefona a saber se por aqui corro as mesmas aflições,
porque o que viu na televisão é tenebroso. E eu de coração apertado dou comigo
a balbuciar os mesmos impropérios contra os políticos que têm o dever e a
obrigação de defender as populações e só lançam cantilenas construídas nas
sedes dos partidos com vista ao voto obstinado. Chegado o momento de se saber
se aquilo que andaram a vangloriar-se como última e refinada técnica contra
incêndios é verdadeira e operacional, surgem as pessoas aflitas, correndo como
doidas de baldes e mangueiras a conta-gotas a defender casas e propriedades,
completamente abandonadas à sua sorte, comendo com os olhos a morte ou a
liquidação de uma vida engolida pela passagem das chamas. Bombeiros e técnicos,
autarquias e Governo, limitam-se a lamentar a pouca sorte dos que nasceram na
província e foram na gula do lucro plantar eucaliptos desordenadamente. Quem os
manda escolher o interior pobre e desorganizado, estreito e coberto de courelas
e pequenos espaços onde cultivam o necessário ao seu porvir? Hoje em Castelo
Branco, Sertã, Vila de Rei; amanhã no Alentejo, Algarve. As cenas tristes e a pouca
falta de coordenação, sem meios nem capacidade, aí estão a dizer-nos que tudo
está como antes quartel general em Abrantes. Mais: pelo caminho liquidaram-se
milhares de árvores que levaram anos e anos a fazerem-se e eram indispensáveis
ao nosso viver. As populações amedrontadas pelas multas que câmaras e Executivo
são céleres e eficazes a pôr em pratica, entregaram o seu bem-estar à loucura
panfletária dos incompetentes e analfabetos que nos governam. Espero que o
povo, na hora de votar tenha em conta a competência dos planos que eles diziam
ter preparado e vai-se a ver são os mesmos de 2017, 2018 e dos que estão para
vir.