quarta-feira, julho 24, 2019

Quarta, 24.
O nosso irrequieto Presidente vai de férias. Anunciou que leva consigo 8 livros, oito!, para ler. Ora sabendo nós que a leitura exige silêncio, entrega e quietude é fácil perceber que aquilo não passa de dondoquice. Um amigo dizia-me: “Ele não lê, folheia.”

         - A prova que os ingleses detestam a UE, está na sua trajetória política. E não foi por Boris Johnson ter alcançado a maioria de votos dos conservadores e ser hoje primeiro-ministro, mas porque ele encarna a vontade da totalidade dos britânicos. Uma recente sondagem, dava um empate ao destino do brexit. E viva a democracia, a verdadeira, a que tem em conta a vontade popular contra os ventos e marés de interesses económicos e financeiros!

         - Ontem na Brasileira que grande rigolada! João Corregedor não esteve presente e por isso a tanga da política deixou largo espaço ao sexo, às anedotas, ao revivalismo, à descoberta de cada um e de todos, à alegria e à farra onde a idade não abancou e contou para nada.  

         - Voltou o sufoco do calor: 37 graus. Que importa quando o crowl suaviza tudo e enche de saúde os poros da pele! O pior vai ser amanhã em Badajoz onde conto ir na companhia da Marília e do João.

         - E lembrar-me eu da estupefacção da Teresa Magalhães, sábado. Dizia ela abafada de arrelias íntimas: “para aqui chegar tomei o metro, o comboio e o carro. Parece que vim de muito longe!” Pobre Tereza! Mora em frente à Brasileira, atravessa o Largo do Chiado e está sentada a tomar o seu café, reduzida a dois passos de vida. Muitíssimo mais corajoso é o João que, não obstante as enfermidades, não pára desafiando o conforto do apartamento e enchendo os dias de diversidade contagiante.


         - Porque a vida deve ser um combate contra a morte. Os crentes acreditam que depois da sua passagem terrena espera-os um mundo outro cheio das graças divinas e da presença, enfim, rosto a rosto, com Deus, ressuscitados; para os não crentes é o mundo físico, é este tempo breve que persiste enquanto projecto sustentado pelas paixões, os ódios, os desafios de arrogância, fechados no barro mal amassado que a morte reduzirá a cinzas, amortalhados e enterrados como um saco de batatas podres. Que Malraux intuiu sendo agnóstico, quando o filho morreu e ele exige um enterro ao modo cristão, “digno porque o filho não é nenhum saco de batatas”. Mas falava eu de vida, a que Deus nos deu e pela qual devemos lutar. Os Evangelhos estão cheios de pessoas que pediam a Jesus que as curasse, lhes desse vida longa, e o Filho de Deus concedeu-lhes esses desejos. Por isso, porque a vida é sagrada, devemos vivê-la com intensidade, activos, enfrentando os desafios da idade, indo sempre mais além, atravessando os desertos cheios dos espinhos que nos paralisam, dos reptos que o corpo na retranca hesita em empreender, mais confinado ao sofá, à inutilidade da televisão, à boquejadura dos dias parados, fixos no horizonte vazio que enche a janela do quarto onde estamos já mortos e esquecidos. Se me fosse lícito dizer qualquer coisa a este respeito, diria às pessoas que tentem levar uma vida simples, de olho no outro, interrogando o seu corpo, praticando a vida como o maior e mais sólido desporto físico, o espírito aberto, o coração sensível, a disponibilidade pronta.