Quarta,
24.
O
nosso irrequieto Presidente vai de férias. Anunciou que leva consigo 8 livros,
oito!, para ler. Ora sabendo nós que a leitura exige silêncio, entrega e
quietude é fácil perceber que aquilo não passa de dondoquice. Um amigo
dizia-me: “Ele não lê, folheia.”
- A prova que os ingleses detestam a
UE, está na sua trajetória política. E não foi por Boris Johnson ter alcançado
a maioria de votos dos conservadores e ser hoje primeiro-ministro, mas porque
ele encarna a vontade da totalidade dos britânicos. Uma recente sondagem, dava
um empate ao destino do brexit. E viva
a democracia, a verdadeira, a que tem em conta a vontade popular contra os
ventos e marés de interesses económicos e financeiros!
- Ontem na Brasileira que grande
rigolada! João Corregedor não esteve presente e por isso a tanga da política deixou
largo espaço ao sexo, às anedotas, ao revivalismo, à descoberta de cada um e de
todos, à alegria e à farra onde a idade não abancou e contou para nada.
- Voltou o sufoco do calor: 37 graus.
Que importa quando o crowl suaviza tudo e enche de saúde os poros da pele! O
pior vai ser amanhã em Badajoz onde conto ir na companhia da Marília e do João.
- E lembrar-me eu da estupefacção da
Teresa Magalhães, sábado. Dizia ela abafada de arrelias íntimas: “para aqui
chegar tomei o metro, o comboio e o carro. Parece que vim de muito longe!”
Pobre Tereza! Mora em frente à Brasileira, atravessa o Largo do Chiado e está
sentada a tomar o seu café, reduzida a dois passos de vida. Muitíssimo mais
corajoso é o João que, não obstante as enfermidades, não pára desafiando o
conforto do apartamento e enchendo os dias de diversidade contagiante.
- Porque a vida deve ser um combate
contra a morte. Os crentes acreditam que depois da sua passagem terrena
espera-os um mundo outro cheio das graças divinas e da presença, enfim, rosto a
rosto, com Deus, ressuscitados; para os não crentes é o mundo físico, é este
tempo breve que persiste enquanto projecto sustentado pelas paixões, os ódios,
os desafios de arrogância, fechados no barro mal amassado que a morte reduzirá
a cinzas, amortalhados e enterrados como um saco de batatas podres. Que Malraux
intuiu sendo agnóstico, quando o filho morreu e ele exige um enterro ao modo
cristão, “digno porque o filho não é nenhum saco de batatas”. Mas falava eu de
vida, a que Deus nos deu e pela qual devemos lutar. Os Evangelhos estão cheios
de pessoas que pediam a Jesus que as curasse, lhes desse vida longa, e o Filho
de Deus concedeu-lhes esses desejos. Por isso, porque a vida é sagrada, devemos
vivê-la com intensidade, activos, enfrentando os desafios da idade, indo sempre
mais além, atravessando os desertos cheios dos espinhos que nos paralisam, dos
reptos que o corpo na retranca hesita em empreender, mais confinado ao sofá, à
inutilidade da televisão, à boquejadura dos dias parados, fixos no horizonte
vazio que enche a janela do quarto onde estamos já mortos e esquecidos. Se me
fosse lícito dizer qualquer coisa a este respeito, diria às pessoas que tentem
levar uma vida simples, de olho no outro, interrogando o seu corpo, praticando
a vida como o maior e mais sólido desporto físico, o espírito aberto, o coração
sensível, a disponibilidade pronta.