sábado, julho 06, 2019

Sábado, 6.
João Soares, com enorme dignidade, deixou todos os cargos políticos presentes e futuros. Reformou-se para dar lugar às novas gerações, que eu espero sejam tão competentes e honestas como ele. Foi um excelente – o melhor do meu ponto de vista  -Presidente da Câmara de Lisboa, um notável Ministro da Cultura, um homem livre e culto que pensou sempre pela sua cabeça. Políticos destes há poucos, não deve haver meia dúzia.

         - Trouxe aí o Brejnev o dia todo. Trabalhou nos pequenos arranjos em torno da casa, serreou e partiu lenha, ceifou os muitos rebentos da mimosa cortada há dois anos, deu novo espaço à madeira que não me deverá faltar no próximo par de anos, limpou a erva seca para queimar. Tudo com um grande sorriso ucraniano.

         - O ex-Ministro da Defesa foi constituído arguido no caso – grave – do roubo das armas de Tancos. O folhetim devia ser representado nas telenovelas da SIC ou TVI. Tem pano para mangas e trapalhada q.b. para, à boa maneira nacional, dar e vender. Sua excelência diz-se incomodada pelo facto, mas quanto a mim a coisa traz água no bico e Costa devia sentar-se também no banco dos réus. Afinal, não foi este membro do seu governo que questionou a dada altura “ no limite não deve ter havido furto nenhum”?

         - Na tarde de 5 de Abril de 1981, Cioran e Matzneff, dão um longo passeio por Paris ao encontro de uma amiga comum. O filósofo diz ao romancista: “Surtout ne pas trop écrire, ne pas faire de concessions.” E acrescentou: "Nous avons, vous et moi, beaucoup de chance de ne pas aimer l´argent.” Nada a juntar, senão admiração.