Sábado, 6.
João
Soares, com enorme dignidade, deixou todos os cargos políticos presentes e
futuros. Reformou-se para dar lugar às novas gerações, que eu espero sejam tão
competentes e honestas como ele. Foi um excelente – o melhor do meu ponto de
vista -Presidente da Câmara de Lisboa,
um notável Ministro da Cultura, um homem livre e culto que pensou sempre pela
sua cabeça. Políticos destes há poucos, não deve haver meia dúzia.
- Trouxe aí o Brejnev o dia todo.
Trabalhou nos pequenos arranjos em torno da casa, serreou e partiu lenha,
ceifou os muitos rebentos da mimosa cortada há dois anos, deu novo espaço à madeira
que não me deverá faltar no próximo par de anos, limpou a erva seca para
queimar. Tudo com um grande sorriso ucraniano.
- O ex-Ministro da Defesa foi
constituído arguido no caso – grave – do roubo das armas de Tancos. O folhetim
devia ser representado nas telenovelas da SIC ou TVI. Tem pano para mangas e
trapalhada q.b. para, à boa maneira nacional, dar e vender. Sua excelência
diz-se incomodada pelo facto, mas quanto a mim a coisa traz água no bico e
Costa devia sentar-se também no banco dos réus. Afinal, não foi este membro do
seu governo que questionou a dada altura “ no limite não deve ter havido furto
nenhum”?
- Na tarde de 5 de Abril de 1981,
Cioran e Matzneff, dão um longo passeio por Paris ao encontro de uma amiga
comum. O filósofo diz ao romancista: “Surtout ne pas trop écrire, ne pas faire
de concessions.” E acrescentou: "Nous avons, vous et moi, beaucoup de chance de ne
pas aimer l´argent.” Nada a juntar, senão admiração.