Segunda,
14.
Dia
recolhido sem um pé fora deste espaço abençoado, fiz vida de monge franciscano
que é a melhor e mais fascinante forma para terminar os meus dias. Ocupadíssimo.
Regas, arranjos vários, leituras, um pouco (periclitante) de escrita, natação, oração.
Todos os meus amigos mortos que aqui me acompanham na arte que admiro, na
construção da casa, num livro ou tela oferecida, num postal vindo da viagem
longínqua, da voz que ronda os espaços cheia do riso e da alegria que aqui
ficou: Alexandre Ribeirinho, Fernando Fernandes, Augusto Tejo, Saramago,
Alexandre Cabral, Amado, Roman, Safira, Teresa, Luís Serpa, Maria João, Ferofo, Michel
Poix, Maria Caetano, Urbano T. Rodrigues, Fausto Boavida, Calhau, Jean-Paul, o velho Pedro, sem
esquecer os laços familiares intermitentes para todos tive um pensamento, uma
prece. Estou-lhes eternamente grato pela sua presença na forma simples de qualquer
coisa que me lembra a sua passagem amiga por este domicílio que os acolhe não
como um sarcófago, mas como lugar de convívio, alegria, gratidão e memória. A
íntima impressão que tive, foi que hoje estivemos em festa e unidos na ternura
e fraternidade que nunca morre. São eles que me protegem, sou eu que os
relembro em rezas esparsas ao longo dos dias ou anos até ao nosso reencontro.