Sábado, 22.
Ao
ponto a que o país chegou, é natural que todo o mundo roube, viva de expedientes
e corrupção. O exemplo vem de cima, mas corrido a milhões. Cá por baixo, a
coisa é mais delicada, mais “porreirinha”, mais familiazinha, a patacos. Por
isso, os agentes das esquadras de Setúbal, Almada e Seixal, num total de 200,
vendiam os passes dos transportes para eles gratuitos, a troco de uns míseros
euros. Esta miséria que tem tanto de moral como de pessoal, é a fotografia em tamanho
real do país.
- Os grandes momentos são, de facto, a
dois. Frente a frente o coração solta-se, os temores desaparecem, a timidez
reduz-se e os sentimentos entregam-se. Foi o caso ontem com o Brito, 93 anos,
uma vida de romance. Durante umas três horas, na Brasileira, apesar de a conversa
parecer confidencial devido à sua surdez, pessoas e acontecimentos foram desfilando
ao sabor da memória que ele mantém impecável. Tendo sido jornalista no Diário
de Lisboa, agente policial em Macau, uma agenda de conhecimentos que é um
dicionário, Brito é uma personalidade cativante com quem dá gosto conversar.
Memória viva de um tempo em gestação, com os perigos e as ansiedades que o
caracterizaram, Brito não ousa deitar no caixote do lixo da história o
salazarismo. Espírito aberto e livre, pensando pela sua cabeça, culto até dizer
chega, aprende-se sempre com ele embalado pelo humor e a clarividência. Assim a
minha cabeça retenha tanto do muito que falámos.
- As grandes potências não cessam de
se testar. Foi o caso do Irão e dos Estados Unidos. O primeiro abateu um drone
dos segundos nas sua zona territorial. Vai daí, Trump deu ordem de ataque. À última
hora, aquele cérebro habituado a contar tijolos, pergunta ao oficial encarregado
da operação: “Quantas pessoas morrerão na operação? Umas 150, Presidente.” Imediata
suspensão da ofensiva. É um filme à moda americana onde os maus acabam sempre
vencidos. Neste caso o mau da fita é o da casa.