Segunda, 10.
António
Costa, o mágico, diz que as empresas do Estado ou onde ele tem participação,
devem pautar-se por “padrões de sobriedade”. Referia-se a mais de um milhão
distribuído pela TAP aos trabalhadores onde se encontra a mulher do Presidente
da Câmara de Lisboa... A TAP que tem tido prejuízos monstruosos! Mas, senhor
primeiro-ministro, se assim é, eu estou de acordo consigo, então por que razão
o mesmo princípio não rege os gestores das empresas públicas e dos bancos
intervencionados, que, apesar da falência das empresas - elas só não se
arruínam porque o nosso dinheiro intervém -, ganham milhares de euros rindo e
cantando como se dirigissem projectos rentáveis?
- Outro dia demorada conversa com o
João B.. Agora que o meu amigo, enfim, deixou cargos político-administrativos,
pode exprimir-se sem os constrangimentos que travavam a sua liberdade de
expressão. Grosso modo, estivemos em sintonia, nomeadamente, quanto à
democracia que nos querem impingir e que é do meu ponto de vista mais perigosa
que uma declarada ditadura. Por uma razão simples: esta não nos engana, sabemos
desde logo ao que vem e ao que nos submete, agimos e defendemo-nos em
conformidade; ao passo que aquela baseia-se na igualdade de todos perante a
lei, mas pratica a mesma indiferença e prepotência dos regimes totalitários.
Exemplos não faltam na nossa República. Estamos alegremente manipulados e não
nos importamos. A verdade é esta: este é o mesmo povo que vivia tranquilo e
indiferente no tempo da ditadura Salazar/Marcelo; esta é exactamente a mesma
gente feliz que assenta a existência em dois ou três pilares: futebol, Igreja
(talvez um pouco menos), televisão e meia dúzia de patacos para o dia-a-dia.
- Ontem das nove à meia-noite, serão
sereno e estudioso como há muito não acontecia. O salão aparentava envolver-me com o seu manto
de silencio, vigiado pelos dois candeeiros acesos que pareciam presenças
humanas enquadradas no todo. Momentos assim, são tão revigorantes como uma
corrida à beira-mar. Quando subi para dormir, ia ligeiro, beatificado, rico dos
ensinamentos dos meus autores que estiveram comigo em presença real, amigável.
- Hoje olhei sem interesse as capas
dos jornais. Apercebi-me que Portugal ganhou um campeonato que não acompanho
não só porque não me diz respeito, ainda porque o futebol é a alienação que
vejo à minha volta quotidianamente. Mas há um pormenor que me vou apercebendo:
os dirigentes da bola, sendo analfabetos, estão a interiorizar os mandamentos
hipócritas da política. Deste modo, o treinador, que me parecia uma personagem
diferente num mundo que vai num carreiro estreitinho, diz que esta vitória “é a
vitória do povo”. Com franqueza! Mas 10 milhões estiveram dentro das quatro
linhas a lutar pelo título ou nas bancadas a sofrer por destinada a derrota ou
pararam as suas vidas para ficar a pastar em frente da televisão! Em nome de
todos nós, ponto de exclamação. Está aqui uma voz discordante que se está nas
tintas para esse mundo imundo e primário.