segunda-feira, junho 10, 2019

Segunda, 10.
António Costa, o mágico, diz que as empresas do Estado ou onde ele tem participação, devem pautar-se por “padrões de sobriedade”. Referia-se a mais de um milhão distribuído pela TAP aos trabalhadores onde se encontra a mulher do Presidente da Câmara de Lisboa... A TAP que tem tido prejuízos monstruosos! Mas, senhor primeiro-ministro, se assim é, eu estou de acordo consigo, então por que razão o mesmo princípio não rege os gestores das empresas públicas e dos bancos intervencionados, que, apesar da falência das empresas - elas só não se arruínam porque o nosso dinheiro intervém -, ganham milhares de euros rindo e cantando como se dirigissem projectos rentáveis?

         - Outro dia demorada conversa com o João B.. Agora que o meu amigo, enfim, deixou cargos político-administrativos, pode exprimir-se sem os constrangimentos que travavam a sua liberdade de expressão. Grosso modo, estivemos em sintonia, nomeadamente, quanto à democracia que nos querem impingir e que é do meu ponto de vista mais perigosa que uma declarada ditadura. Por uma razão simples: esta não nos engana, sabemos desde logo ao que vem e ao que nos submete, agimos e defendemo-nos em conformidade; ao passo que aquela baseia-se na igualdade de todos perante a lei, mas pratica a mesma indiferença e prepotência dos regimes totalitários. Exemplos não faltam na nossa República. Estamos alegremente manipulados e não nos importamos. A verdade é esta: este é o mesmo povo que vivia tranquilo e indiferente no tempo da ditadura Salazar/Marcelo; esta é exactamente a mesma gente feliz que assenta a existência em dois ou três pilares: futebol, Igreja (talvez um pouco menos), televisão e meia dúzia de patacos para o dia-a-dia.

         - Ontem das nove à meia-noite, serão sereno e estudioso como há muito não acontecia.  O salão aparentava envolver-me com o seu manto de silencio, vigiado pelos dois candeeiros acesos que pareciam presenças humanas enquadradas no todo. Momentos assim, são tão revigorantes como uma corrida à beira-mar. Quando subi para dormir, ia ligeiro, beatificado, rico dos ensinamentos dos meus autores que estiveram comigo em presença real, amigável.


         - Hoje olhei sem interesse as capas dos jornais. Apercebi-me que Portugal ganhou um campeonato que não acompanho não só porque não me diz respeito, ainda porque o futebol é a alienação que vejo à minha volta quotidianamente. Mas há um pormenor que me vou apercebendo: os dirigentes da bola, sendo analfabetos, estão a interiorizar os mandamentos hipócritas da política. Deste modo, o treinador, que me parecia uma personagem diferente num mundo que vai num carreiro estreitinho, diz que esta vitória “é a vitória do povo”. Com franqueza! Mas 10 milhões estiveram dentro das quatro linhas a lutar pelo título ou nas bancadas a sofrer por destinada a derrota ou pararam as suas vidas para ficar a pastar em frente da televisão! Em nome de todos nós, ponto de exclamação. Está aqui uma voz discordante que se está nas tintas para esse mundo imundo e primário.