quarta-feira, junho 12, 2019

Quarta, 12.
Deus presta-se a tudo neste mundo que O utiliza como a um qualquer produto de consumo. Em nome de uma falsa liberdade, da natureza humana ou do livre arbítrio, grupos ditos de fiéis organizam-se para disputarem a primazia das suas aberrações com os olhos postos Nele. É o caso da América puritana e cristã. Segundo as estatísticas, no país existem pelo menos 350 mil irmandades religiosas, mas faltava esta que se diz à sua imagem porque Deus os concebeu nus. Daí, meteram pés ao caminho em busca de um pastor que aceitasse celebrar as cerimónias religiosas e outros actos de culto, mas... em harmonia com os paroquianos. O reverendo Allen Parker, de acordo com o Figaro que trás a notícia, celebra a missa e assiste a paróquia de Richmond, na Virgínia, banhudo e imponente. 



         - O fim-de-semana foi dedicado ao aproveitamento dos muitos quilos de damascos. Como há muito me especializei em compotas, que levo quando sou convidado a jantar ou almoçar em casa de amigos, este cenário tornou-se familiar para todas e todos quantos por aqui passam. A Maria José gaba-me a paciência. Mas eu sou um paciente ansioso.



         - Ontem estava no Rato antes das nove horas. Tinha combinado com o meu médico levar-lhe a velhice que parece ter começado pelas dores lombares e o desânimo que me impede há quatro meses de trabalhar. Da longa consultação, resultou um diagnóstico preciso: “Você tem uma lombalgia. – As coisas que o doutor sabe!” disse, divertido. Mas estava conquistado. Sobretudo quando ele me auscultou e com os dedos fez vários toques no abdómen e me aconselhou repouso, suspensão dos anti-inflamatórios, e paciência que esta coisa nas costas já estava a passar e para futuro me aconselhou a não me meter em trabalhos forçados. Bom. O resto do tempo, foi uma lição de tolerância. Eu nem conhecia o Dr. Alves daquele modo bonançoso, um leve sorriso infantil no rosto redondo, uns olhos perspicazes a saltarem da convicção com que falava. “Deixe as pessoas gostar de futebol!” dizia-me. Eu deixo, mas também gostaria que elas percebessem que existe vida para além das quatro linhas e não se deixem manobrar por gente que não merece a sua candura e entusiasmo. E já agora que juntem interesses culturais e desportivos de outra ordem, e percebam que o verdadeiro desporto é aquele que não é indústria, não atrai os interesses malsãos dos políticos, banqueiros e empresários desonestos. Se me insurjo contra Ronaldo, é porque ele assimilou o baffon nojento onde trabalha e para fugir à cadeia avançou com milhões, coisa que qualquer um de nós não pode fazer, porque a justiça é hipócrita e desonesta quando obriga os pobres ao cárcere e os ricos à vida airada.

         - Adiei o repouso recomendado e apresentei-me na Brasileira onde me esperava o grupo do costume. João tinha-me telefonado, manhã cedo, a desafiar-me para um almoço. Fomos às irmãs da caridade e sentámo-nos na esplanada varrida por um vento doido, que arrastou guarda-sóis e nos forçou a ficar ao sol quente que banhava a colina. Depois, fomos fazer tempo para a Confeitaria Nacional, onde ele é habitué, aguardando a hora de abertura da Feira do Livro. Sob ventania que não abrandou, começámos a visita pelo lado sul. A dada altura perdemo-nos, cada um com seus interesses e tempos. Eu ando o ano inteiro a par do que vai saindo e, portanto, disparei para os stands onde sabia encontrar o que procurava. Duas horas depois, tinha a mochila demasiado pesada e deixei o certame sem voltar a ver o João.

A imutável vista do alto do Parque Eduardo VII 

         - Contudo, o que para mim foi surpreendente, foi a chegada a Lisboa àquela hora da manhã. Comboios a abarrotar, gares cheias de gente, uma multidão de viajantes nervosa apressada para chegar aos empregos. António Costa devia viajar no metro, Fertagus e autocarros, sem as câmaras de televisão atrás, dois ou três dias seguidos para ver no que resultou uma acção meritória sem alicerces, implementada com os olhos postos nas duas eleições deste ano. A imagem, a visão com que fiquei, foi a de milhares de condenados a caminho do gólgota.


         - Portugal não é só o “maior do mundo em futebol”, é também na degradação moral e cívica, na miséria e na ganância, no roubo e na arrogância. Só hoje 50 empresas públicas e privadas, das quais 18 câmaras do Norte e Centro, receberam vastas brigadas fiscais da polícia devido a suspeitas de corrupção, tráfico de influências, participação económica em negócios, prevaricação e abuso de poder. Tudo porque há suspeitas que toda esta gente está implicada na celebração de contratos corrompidos na área dos transportes públicos. Mas há mais. Sabemos que na telenovela BCP/BP, José Sócrates, o nosso pobre cidadão à flor de qualquer suspeita, está no centro da pouca vergonha que trouxe para a ribalta João Berardo, o franciscano mais pobre que il  Poverello. Em jogo estão milhões que davam para desenvolver o ensino e construir hospitais e baixar os nossos escandalosos impostos.