domingo, junho 23, 2019

Domingo, 23.
Li, penosamente, a entrevista que MEC dá ao Público. Seis páginas a promoverem-lhe o livro das suas crónicas e este epílogo: o homem é um génio... Como ele não há nenhum nem nunca houve. Ele tem em lata o que lhe sobra em grandeza. Dito isto, divirto-me com a maluqueira descontraída, gosto da ligeireza da sua escrita, de uma certa luz que irradia, um pouco ao jeito de Jean d´Ormesson. Impressionante a luta da jornalista para encontrar perguntas que o superlativassem! 

         - É usual o pagode simplório ou pseudo-intelectual ou dito de esquerda, questionar-se ante certas opções de vida. Quando visitei o Monte Athos, muita gente perguntou-me que interesse tinha eu em meia dúzia de homens retirados do mundo, isolados na montanha. Essa questão era frequente fazerem-na também aos monges. Um deles deu esta resposta lapidar: “Eu não fugi do mundo, fugi da banalidade.”

         - Dá-me gosto admirar este vasto espaço. O trabalho do Brejnev foi magnífico e contribuiu para a beleza que os meus olhos veneram. Já fui ao fundo da quinta não sei quantas vezes pisar o chão limpo, olhar os horizontes desanuviados, os pinheiros reluzentes, a paisagem aclarada e pura. Graças a ele, antecipei os trabalhos de inverno, com a lenha seca já arrumada debaixo do telheiro, e junto à casa um ar onde convive a atmosfera do campo com um insinuante perfume da cidade. Todo este arrumo, precipita no meu íntimo a partida para Paris e o Inverno está ao dobrar das noites.


         - Hoje folguei. Encostei-me ao dia pardusco, ameaçando chuva, e não reguei um milímetro de terra. Mas há pouco, olhando o pomar de citrinos, infractor, pus os automáticos a trabalhar e durante duas horas vou embebedar laranjeiras e limoeiros do sangue essencial à vida, à sua vida. As laranjeiras e limoeiros estão carregadas de belos exemplares, cheios de sumo, com belas cores. São o cenário da natureza exposta ao meu delírio quotidiano. Depois recolhi uma taça de morangos e deste modo fecho o dia. Talvez mais logo vá concorrer àquele concurso que pergunta quem quer namorar com um agricultor, a ver o que me sai na rifa da sorte. Folgo, rejubilo, bato palmas e canto por ter escapado desta vez ao mediocrismo da política.