sexta-feira, maio 26, 2023

Sexta, 26.

Antes de deixar Paris, fui visitar a bonita e paisible cidade de Beauvais que dista da capital hora e meia de carro. No centro do seu património está a catedral de S. Pedro, com a nave central a atingir 48 metros de altura, no estilo gótico, mas, como dizer, limpo, puro, sem o aparato das figuras que normalmente adornam as igrejas e catedrais da Idade Média. Desde 1225 até ao século XVII, que o velho edifício foi sofrendo derrocadas atrás de derrocadas, logo edificado por cónegos fervorosos e decerto ambiciosos. Uma parte da catedral nunca mais foi reconstruída e o que resta ainda hoje oferece a incerteza que mostram as fotografias. Li não sei onde, que a altura do monumento é a maior do mundo! 



         - Mais tarde, flanámos pelo centro de boa arquitectura, de vastas praças, fachadas imponentes sem serem impositivas, ao rigor haussmanniano, largas, belas, um convite ao olhar que corre o fio das frontarias sóbrias e elegantes, em pedra rosa, onde os automóveis não entram e as esplanadas se perdem de vista. É um prazer atravessar a cidade que parece ter sido erguida em louvor à calma, à doce vida pacata, que enche de timbre cintilante cada semblante, cada recanto, cada espaço ajardinado, cada estátua e o edifício da Mairie impõe-se sólido, majestoso de dignidade no centro da cidade. Como o dia estava mais aberto ali que em Paris, e o sol apesar de fraco lambia ruas e praças, abancámos numa das muitas brasseries para um almoço tranquilo. Pela primeira vez desde que cheguei, pude comer peixe, no caso salmão saboroso a lembrar os dotes culinários franceses de antanho. Como sobremesa (para mim novidade), veio um prato com uma quantidade de doces, pequenos bocados, ao todo talvez seis, que acompanhavam o café.  No final, o Robert, achou a conta demasiado elevada, mas a Annie, como sempre oportuna, rematou: “De qualquer modo sou sempre eu que pago.” 

         - Dali embarquei num avião da EasyJet de regresso a casa. Forma de falar. Em verdade, mercê das qualidades prestigiadoras da companhia, eu e todos os passageiros, transformámo-nos em ovelhas que os senhores britânicos pastoreiam como muito bem entendem. Deste modo, embora no placard a informação fosse que o voo partia a horas, deixaram-nos uma boa meia hora na pista, de pé, ao monte, até que nos deram ordem de caminhar a penates até ao avião. Não contentes, à chegada, ficámos um tempo eterno dentro do avião, até que os autocarros nos viessem buscar ao aeroporto 2 para nos levar ao principal. A ideia de partir daquele minimalista aeroporto, foi do Robert. É certo que eu decidi acompanhá-los à última hora, mas preferia pagar mais cinquenta euros e ser tratado com dignidade. 

         - Dignidade que me faltou à chegada a este triste país. Como o atraso era de hora e meia, decidi meter-me num táxi. Perguntei ao desvairado motorista quanto custava a corrida, ele respondeu entre 30 a 35 euros. Achei razoável e em sintonia com o que costumo desembolsar. No final acabei por pagar 50 euros, porque o suga condutor, optou por atender ao GPS em vez de ao passageiro. A dada altura decidi impor-me sob ameaça de o denunciar à empresa que o emprega. Foi então que a viagem de passeio acabou e eu pude chegar são e salvo ao destino. 

         - A Alemanha acabou de declarar que vai entrar em recessão. Segue-se-lhe o Reino Unido. Portugal, ao que dizem os socialistas, está livre deste calvário e até faz figura de ricaço quando comparado com os demais países do euro. Morde aqui a ver se eu deixo.