sábado, maio 20, 2023

Sábado, 20.

Não foi só Yourcenar que se ocupou do imperador Publius Aelius Hadrianus, também o filósofo e professor de Letras da universidade de Madrid, António Costa Gomes com um livro que estou a ler com imenso interesse: La Sérénité passionnée. No fim da vida, o imperador retirou-se para a sua propriedade de Tivoli nos arredores de Roma. O livro começa assim, “La nuit du 2 juin était arrivé. Il était épuisé et il avait mal aux reins et au dos.” Adriano, nos últimos instantes de vida é ainda em Antinous que pensa: “Antinoûs faisait avec son corps la même chose que Praxitèle avec un bloc de marbre. Il en extrayait toute la beauté, l´iluminait. Il le transformait en quelque chose de serein, en dehors du temps.” 

         - Entrei pois na casa onde Victor Hugo viveu entre 1832 e 1848, hoje transformada em museu. Há muitos anos que não subia ao primeiro andar do velho edifício e só me recordava do horror da chinesice que embeleza a sala de jantar. De resto, devo confessar, muito pouco me aliciou, o mau-gosto está em todas as divisões e nem a pintura, grosso modo, me convenceu. Apenas a sala consagrada ao pintor Julius Baltazar, ilustrador de obras literárias, me atraiu e me deteve um certo tempo a admirar a sua maestria, também as fotos dos cenários e actores das suas peças de teatro, um ou outro móvel construído pelo grand homme e o jardim onde fiquei algum tempo diante da chávena de café. Tomei de seguida o metro na Bastille depois de ter atravessado parte do Marais hoje uma imensa e contínua esplanada que atravessa ruas e ruas, enche pátios e becos e toma por inteiro todo o bairro.  

Julius Baltazar 

A Place des Vosges vista do segundo andar do Museu Victor Hugo

         - Sempre que entro na Internet, o Público dá-me novidades do meu pobre país. Pouco me interessa e muito menos quando as notícias se referem àquele que tem ar de rufia e se pavoneia nos carros do Estado com motorista como se tivesse ganhado ao euromilhões. Tenho dois amigos que trabalharam ou estiveram perto dele no anterior emprego no ministério que dirigiu e ambos me dizem que o sujeito é de uma mediocridade abissal. Portugal está transformado numa pocilga. 

         - De regresso a casa com a mochila carregada de livros, não esperava o horror que ia viver. Escolhi as quatro e meia da tarde para fugir àquilo que outrora se definia por “hora de ponta”. Tomei o metro em Cluny-Sorbonne e mudei em Duroc para a linha 13. As carruagens já cheias, foram enchendo até que os que seguiam nelas não ficaram com espaço para mover os pés, um braço, narizes de encontro uns aos outros, apertado como nunca estive, sentindo o corpo de um negro imenso, as mamas flácidas de uma indiana, o cheiro do seu suor, o bater desalmado dos seus corações arfantes sem ar. Felizmente trazia máscara, mas não creio que fosse de grande utilidade naquele cenário dantesco. 

         - O Sol continua por aí, mas declinou, arrefeceu, o seu brilho é murcho e intermitente. Vou ter de gramar este clima por mais uma semana. Infelizmente.