domingo, maio 14, 2023

Domingo, 14.

O fanatismo ideológico venceu no Parlamento sexta-feira passada. A lei da eutanásia foi aprovada por 129 votos a favor e 81 contra, num total de 230 deputados. Uma vergonha que denuncia por si só a leviandade como a esquerda trata um tema fundamental da existência humana. É preciso deixar claro quem  votou contra: o PSD (à excepção de sete dos seus deputados (Adão Silva, António Maló de Abreu, Rosina Ribeiro Pereira, Hugo Carvalho, Mónica Quintela, Sofia Matos, Catarina Rocha Ferreira), assim como quatro deputados do PS (João Azevedo, Cristina Sousa, Joaquim Barreto e Sobrinho Teixeira), Chega e PCP. Honra lhes seja feita. Nas próximas eleições que o povo se lembre destes partidos e deputados e não os delegue ao esquecimento político. Há uma personagem horrorosa e imunda na origem disto tudo: a socialista Isabel Moreira. Foi ela a grande dinamizadora do assassínio futuro. Tenhamos, contudo, esperança nos médicos e enfermeiros que usarão a sua consciência em favor da vida e recusem matar seres humanos como quem despacha frangos. Marcelo Rebelo de Sousa deve ter sofrido ao assinar a sentença de morte; o Papa Francisco diz-se “muito triste”; as queques do BE e os grupelhos de um e meia dúzia de deputados em torno do capelão Rui Tavares, rejubilam. Que miséria! Entregar vidas humanas à sentença de uma escumalha assim, sem ter havido discussão séria nem sondagem popular, nas costas do povo! A diferença de votos, diz tudo sobre a inevitabilidade do referendo sobre a eutanásia. É assunto demasiado sério para ser tomado por um punhado de radicais que, sem conseguirem obter resultados na governação, querem ficar na história deste modo agoirento e sinistro. Mais uma vez se constata que o governo de António Costa, foi o pior de toda a democracia. 

         - Longa caminhada que me trouxe da rue Sèvre-Babylone, Rennes, Saint Germain, até St-Michel. Tudo porque imaginando-me já parisiense, dispensei o plano do metro e actuei como se me fosse familiar uma rede impossível de reter. Bref. Deu, todavia, para perceber que os anos vão acumulando um certo cansaço. Assim, entrei num restaurante japonês já familiar e fiquei por um longo espaço de tempo após o almoço a repousar. Depois fui ao encontro dos livros, saber das novidades. E a primeira constatação, é que os preços subiram desalmadamente, as livrarias estão quase vazias, o entusiasmo doutros tempos esmoreceu. Como procurava a obra de Gustave Flaubert, que quero ler na íntegra, foi-me possível adquirir alguma coisa a preços razoáveis. 

         - Sentado um pouco mais tarde numa esplanada, pude observar a foule forrada como se fosse Inverno cerrado. Da juventude aos velhos, as roupas quentes e confortáveis, permanecem. Ainda por cima continua a chover, como se este clima desgraçado fosse amigo da saúde e imperasse na forma de sustentação da vida saudável. Muita coisa fechou a quando da covid, e o que resta tem ainda na fachada a marca da chaga chinesa insuportável e dolorosa. As suas feridas permanecem numa certa forma de distanciamento, de rejeição do outro, em espaços públicos e privados. Se as esplanadas estão cheias, é talvez porque foram a escapadela para um quotidiano envenenado, que encontrou ao ar livre a capacidade de resistência a um período sinistro, à persecução de um estilo de vida onde o relacionamento se fazia atravessando os fantasmas que se imiscuíam nas relações humanas. Eu e poucos exagerados, continuamos a usar a máscara no metro e autocarros bondés

         - Na vinda atravessando grandes extensões de vinhedo a perder de vista até Valladolid visitámos Burgos e a sua catedral. Com imensas dificuldades devido à moda autárquica que deixou de pensar nos velhos e nas pessoas que se deslocam em cadeira de rodas. Condenou-os ao isolamento, à tristeza em suas casas. A moda de fechar os espaços históricos aos automóveis sem pensar naqueles que também têm direito a conhecê-los, é desumana. No caso de Burgos, a distância entre o recinto para piões e as acessibilidades ao monumento é tal que todos desistem. Contudo, a cidade pelo vi é essencialmente universitária, deslumbrante. Grandes espaços verdes, o rio que banha uma grande parte do campus, um certo ar flamejante de vida.