domingo, março 21, 2021

Domingo, 21.

Que entre pela porta larga mais uma vez o meu caro António Barreto que eu conheci em tempos quando ele e o Roger Delraux viviam na Iorque House. “Pasme-se! Em plena pandemia, de confinamento em confinamento, entre mortos e infectados, com boas e más notícias sobre as vacinas, num raro clima de incerteza e fragilidade, os deputados dedicaram muitas das suas atenções, algum trabalho, uma boa reserva de energia e muita polémica para aprovar uma lei sobre a eutanásia e o suicídio medicamente assistido. Não havia tempo menos indicado, momento mais desajustado e oportunidade mais perversa do que esta. Eles não percebem o mal que fazem. Eles não percebem o mal que fazem. Eles não entendem o mau exemplo que dão. Eles não se interessam pelos resultados morais de uma tal atitude de brutalidade chocante. É quase obsceno. Provocatório de qualquer modo.” O texto publicado no Público de ontem e que merece leitura atenta dos meus leitores, uns períodos adiante, continua: “Eles não sabem o que fizeram. Eles não se dão conta das consequências dos seus gestos.” Pois é. Por outras palavras e sob a mesmíssima repulsa já aqui derramada em indignação e nojo. Mas é esta classe de gente que temos e a democracia, tal como nós, não merecia tantos obtusos. 

         - Centro de vacinação no Porto: aglomeração de pessoas, velhos a subirem de bengala a escadaria íngreme, filhos com os pais às costas, longas filas, a imagem mostrada na TV é o retrato do país, daquele que nunca mudou, para nossa desgraça.  A miséria nacional da organização, do desprezo pelos cidadãos sobretudo os mais frágeis, cola com a do fascismo de antigamente, quando o cidadão não contava para coisa nenhuma.  Hoje está presente nos discursos de uns e outros, os políticos que nos governam - não são gente, são monstros. É a humilhação dos velhos, dos deficientes, dos mais fracos, dos pobres (no dizer do socialista François Holland “os desdentados”). A isto chamam eles democracia. Pela minha parte, não tenho por esta gente respeito nenhum. A mágoa que originam àquela facha da sociedade, atinge-me também a mim. E os direitos humanos que Costa tanto propaga, estão à vista – não passam a barreira da propaganda. E falam eles da Hungria e  Polónia. Estive há dois anos neste último país e o que observei foi equilibro, não vi nenhum pobre a pedir nas ruas, cidades e vilas um encanto, as pessoas civilizadas e a vida a decorrer em comedimento.   

         - A Blacka que me adotou, vigia a casa e o seu inquino. Ainda não estou certo que ela não vá acabar por seguir a irmã – com os gatos habituei-me a conservar o coração ao largo. 

         - Paul Bowles é o mais talentoso da Beat Generation. Quando calha volto a ele desta vez lendo A Casa da Aranha escrito, em 1955, na mítica Taprobana que o escritor tinha comprado havia pouco tempo. 

         - A temperatura desceu, frio e termómetro a marcar negativo para o norte. Telefonou a Annie, Carlos Soares, António Segurado (longa conversa de mais de meia hora), Gi e Francis (quando eu almoçava e sendo surdo debitava chalaças homo que duraram o tempo da refeição. Eu praticamente não abri a boca e quando abri ele não me escutou).