sexta-feira, agosto 15, 2025

Sexta, 15.

Esta manhã demorei-me uma boa hora na esplanada da Brasileira. Combinara com o CR (não é esse que nada tem a ver comigo nem me interessa minimamente salvo no apego ao trabalho persistente) que, como bom africano, ao cabo de sessenta minutos ainda não tinha chegado. Não se pode contar muito com estes buliçosos de mente sempre perdida em África, inadaptados por condição, perdidos entre europeus que nada têm a ver com eles. No entanto, correndo uma aragem fresca depois dos dias tórridos que temos vivido sentia-me bem ali, um entre os demais, estrangeiros naquele pedaço de chão que Fernando Pessoa sustenta em constante companhia para uma foto de passagem tirada à maneira. Ele que pouco frequentou aquele café, um século depois é uma espécie de deidade onde se sentam à sua mesa os ignorantes da imensa e preciosa obra que ele nos deixou. A mim, enquanto expandia o olhar sobre a multidão de pacóvios vindos das quatro partes do mundo em busca do sol e praia, tropeçando naquela figura esfíngica de chapéu e óculos, perna traçada e olhar compenetrado, disse para mim feliz pela manhã desocupada e fresca, limpa e solta: “Ai que prazer não cumprir um deve, Ter um livro para ler e não o fazer, Ler é maçada, Estudar é nada, O sol doura sem literatura” ... e por aí adiante, a cabeça largada ao encontro do poeta ali, só, a refazer os poemas cozidos na pele de cada passante...