Quarta, 20.
Abrir uma grande clareira de vazio e preenchê-la com a serenidade que traz o labor minucioso do pensamento. Foi o que fiz ontem. Não tendo deixado este espaço, sentei-me no salão e entreguei-me à leitura como se estivesse a soletrar pela primeira vez cada palavra. Momento mágico, assaz misterioso, que me envolveu todo o dia até à chegada da noite. Em sucessivas golfadas de silêncio e entrega, foi-me possível saudar a vida como bênção divina.
- Sem me alhear do que à minha volta se passa e do que vai pelo mundo. Aqui é a via-sacra dos fogos, a dor dos aflitos, a perda dos entes queridos, a paisagem varrida pela desolação, o aproveitamento assassino que de tudo isto fazem os partidos. Loas dou ao actual secretário-geral do PS que se posicionou contra o debate de urgência na Assembleia sobre os incêndios pedido pelo Chega, PCP e não sei mais quem, talvez o BE mas a menina está de férias e, graças a Deus, desapareceu do mapa (a dos cãezinhos, com aquela voz de oração, já voltou), por não querer participar na “chicana política”, garantindo que o seu partido não fará ao primeiro-ministro o que Montenegro fez a António Costa. O toque é inevitável. Bref.
- Enquanto uma embaixada de gente ilustre (ou como tal se julgam) europeia foi apoiar Volodymyr Zelensky na reunião para o fim da guerra na Ucrânia realizada anteontem na Casa Branca, espécie de endeusamento do enfatuado Trump, Putin, mais esperto e seguro, bombardeou várias cidades e Kiev. Eu sou dos que não espero nada de proveitoso destes encontros. O tirano russo, sabe que cala e acalma o actual Presidente dos EUA, oferecendo-lhe negócios chorudos – é simples e ganham os dois.
- Fui num pé e vim noutro. Às dez da manhã chegava a Sete Rios e por volta do meio-dia e meia estava em casa. Fui ao Bangladesch buscar as almofadas que entreguei à equipa de costureiros para fazer. Já somos velhos amigos e quando me despedi apertei a mão ao meu artista preferido - o que fez o toldo. Tive de me entender com ele em inglês o que o surpreendeu. “Você falhar inglês!”
- Ontem foi o primeiro dia que mergulhei na piscina de água cristalina de um azul magnífico. Não sei se ela se vai manter assim perto do azul do céu. Os skymers não me parece que estejam a funcionar correctamente. Seja como foi, a sensação de voltar a nadar, nu, sob o olhar terno das nuvens e o calor do Sol, incentivou-me a aceitar a vida sob o manto enérgico que espraie bafagens de felicidade e saúde.