Quinta, 28.
A vida desorganizada, vadia, sem horários para nada, nem refeições às horas estabelecidas, está quase a terminar. Aqui em casa tropeço em chinelos, sapatos, ténis por todo o lado: cozinha, à entrada do salão, no início das escadas que nos levam aos quartos, à porta destes, assim como mesas e bancas cheias de loiça, o frigorífico a abarrotar como nunca esteve. Esta desordem, é frequente quando as novas gerações são criadas no desleixo familiar que tudo faz para não contrariar os filhinhos queridos. A educação nas responsabilidades, no respeito pelos pais, na vida em comum dentro e fora do lar, não se faz porque não se deve contrariar meninos e meninas que mais tarde farão dos progenitores capacho para o chão quando não bode expiatório de todas as exigências que, uma vez contrariadas, logo acabam em agressão, abandono dos pais em lares manhosos, hospitais, quantas vezes na rua. O neto da Piedade, a semana passada, ameaçou matá-la. Ela veio aí chorar e dizer-me que nunca terá coragem para chamar a Polícia e nunca o porá na rua. A isto chamam amor maternal.
- Há uma vantagem nesta forma de vida: o desligamento da realidade. Desde a semana passada que não sei o que é feito do meu país, o que aconteceu no mundo, que guerras começaram, que crises terminaram, quantos palestinianos mais morreram e ucranianos e russos e... Este interregno foi-me salutar, mas ilusório. Foi decerto uma forma de egoísmo, talvez de cansaço ou desilusão, de fuga para a frente de modo a reconstituir o equilíbrio indispensável capaz de criar os anticorpos que nos permitem a abertura da visão clara sobre os outros e nós próprios. É bom estar de volta à realidade e deixar para trás as fantasias que a obscuram e transformam os factos numa indiferença criminosa.
- Marcelo sempre imprevisível, considera Donald Trump “um activo soviético ou russo”.
- A noite passada foi terrível para a Ucrânia. Kiev atacada com mísseis, duas dezenas de pessoas mortas, a sede a União Europeia atingida. Um aviso claro de Putin à Europa com o apoio de Trump. A guerra aproxima-se, o ditador russo vai paulatinamente testando os meios e as oportunidades de sair vencedor. A UE e os EUA fazem aquilo que sempre têm feito: ameaçam com medidas económicas que pouco ou nada têm afligido Vladimir Putin. Um déspota tem sempre a faca e o queijo na mão, queira ou não queira o povo.