quarta-feira, agosto 27, 2025

Quarta, 27.

Do longo passeio que nos levou a Caldas da Rainha, Foz do Arelho e por fim Óbidos, ficou-me uma triste impressão de um Portugal que não reconheço como sendo meu. Encheram vilas e cidades de automóveis, de gente ao jeito de novos-ricos, pacóvia, inchada de valores superficiais que derretem mal chegam ao calcetado. Pergunta-se como vive, com que dinheiro, o português médio a quem os preços elevados não assustam, o desnorte da paisagem, as estradas entupidas, as cidades entregues ao turismo que tudo submete e destrói, nada disso os inquieta, os revolta, os faz rever as opções que os sucessivos governos tomaram em seu nome. Óbidos é disso o exemplo mais fragrante. Há anos que lá não ia e foi com espanto e revolta que arrastei os pés pelas suas ruas, levantei os olhos a fachadas, vi pelo menos uma igreja transformada em espaço comercial, o conjunto da velha fortificação transfigurada num verdadeiro centro comercial a céu aberto, com toda a espécie de porcarias, inutilidades, porta sim, porta sim, numa gigantesca pocilga que me obrigou a desistir e ficar à conversa com o Lionel num banco de pedra, enquanto os restantes amigos subiam e desciam ruas e becos seduzidos por insignificâncias que não dão sentido nenhum à vida antes a reduzem a necessidades frívolas. Se me fosse possível dar um conselho aos meus leitores, diria para não porem os pés num sítio desorganizado, pateta e destruidor dos valores do passado tão necessários ao impedimento oco e desleixado e corrupto dos nossos dias. Aquilo é também a prova provada da cultura saloia dos presidentes de câmara, gente sem formação, sem cultura, sem o mínimo de bom-gosto para quem o importante é desmontar o passado construindo o futuro sobre os alicerces da propaganda, da vaidade, da corrupção e da imagem untada do horror.