sexta-feira, julho 11, 2025

Sexta, 11. 

Tenho tanto trabalho, tanta coisa a resolver que me é impossível ter serenidade para a escrita. Esta manhã passei duas horas na Brasileira a conversar com o António e o Virgílio. Falou-se de tudo, embora o António tenha sempre aquele pendor para o vulgar e por vezes a ordinarice. De súbito, começou a chover. Um frio rasante corria na esplanada e eu com uma t-shirt fina. À boa maneira dos países frios, pedi uma manta e embrulhei-me, literalmente, nela. Que bem me soube e me evitou alguma constipação. Aquele jeito para a brejeirice, não lhe levo a mal porque o António é de todos os do grupo o mais são. Pelo meio-dia, tomámos o metro e eu fui ao Colombo orientado por ele que ali mora perto. Detesto aquele mundo afadigado, doente, embebedado das alegrias da sociedade de consumo. Outro remédio não tive, dado que não gostei dos modos grosseiros do chauve da Concept - a minúscula loja de tecnologia que trabalha no andar do Corte Inglês onde se encontram os computadores. Por isso optei por não adquirir o Mac no C.I. e ter ido hoje ao Colombo que lá tem uma loja toda Macintosh. Que diferença de tratamento, e ainda por cima mais barato em comparação com o saber do homem do Corte Inglês, quero dizer este leva 80 euros para transpor a informação de um computador para o outro, enquanto a GMS apenas 50€ incluindo a boa educação e  classe no atendimento.  

         - Por ali me quedei, almocei, fiquei estendido na cadeira isolado do aluvião de barulho que fazia aquela gente em meu redor. Em catadupa desceram os pensamentos, levando-me dali para desertos de silêncio que permitem às ideias e aos sentimentos florescerem. Não sei quantas horas ali me quedei, sei que quando voltei à realidade, o afane dos almoços eram agora o espaço  de uns quantos velhotes, de olhar vazio, a encher a tarde desenhada lá fora nos escombros de uma vida irreal. 

         - Por vexes somos surpreendidos por seres humanos desalinhados do tempo. Ontem esteve aí um senhor a estudar as razões por que não trabalha a piscina. Durou pelo menos duas horas a desapertar canos, torneiras, a enfiar água nos tubos, a fechar esta e aquela torneira, a espreitar os skymers, o tubo do esgoto, do vácuo, enfim, todo o sistema. No final, pelas oito da noite, fez um croqui da estrutura da piscina com a seguinte sentença: a bomba está sólida, mas é preciso descobrir os canos de ligação à máquina geral, que saem do ralo do fundo e do vácuo. São eles que devem estar entupidos e não deixam passar a água com força para os skymers. Mostre este desenho ao técnico que anda a reparar a piscina. “Quanto lhe devo?” perguntei. “Não deve nada.” Fiquei siderado. Insisti para lhe pagar e ante a recusa projectámos outra vinda dele para limpar a piscina. Num mundo onde só o dinheiro impera, um gesto destes é uma bênção, um acto de caridade.  

         - Gostava de recordar aos médicos que os doentes são a saúde deles.