quarta-feira, julho 30, 2025

Quarta, 30.

As temperaturas aqui rondam ou ultrapassam os 40 graus centígrados. Por todo  país, nesta altura, como é habitual, são os incêndios que assustam as populações, destroem matas e florestas, levam habitações e animais, lançam o pavor. A maioria ocorrem no Norte e Alentejo. Os bombeiros não chegam para acudir às solicitações, todos ralham e ninguém tem razão. As oposições servem-se da desgraça para ganhar votos. 

         - Ontem almocei com um amigo economista que vive em Luanda. Durante mais de três horas de conversa. ele pôs-me ao corrente da dinâmica governamental em Angola. Que podridão, que indecência humana onde até o sexo se imiscui, que macacada! O povo merecia mais, quero dizer, melhor que a governação colonialista. Mas pelo que ouvi, a corrupção está instalada ao mais alto nível e não será a mudança de poder que irá restabelecer a democracia e trará a decência, a moral e a conduta política impolutas. Pelo o que me foi dito, a comitiva que acompanhou na recente estada do Presidente no nosso país, negou-se a regressar e instalou-se entre nós. O avião aterrou em Luanda quase vazio. 

         - Às vezes por lassidão, deixo-me estar sentado enfrente do televisor. Nesta altura, pelo que percebo, é época de escolher, trocar ou vender como se fazia antigamente com os escravos, jogadores de futebol. Parece uma brincadeira de crianças que habitam um mundo imaginário, que nós olhamos como se fosse distante deste onde cada vida é vivida na luta do quotidiano, os patacos à rasca para chegar ao fim do mês, por todo o lado as ameaças de desgoverno e de Trump a lançar a incerteza sobre os mercados e a economia. Este foi comprado por 60 milhões, aqueloutro vendido por 30 milhões, num ápice este que estava já quase a pertence a esta equipa, à ultima hora, vai para a Arábia Saudita ou Brasil, de onde acabou de chegar um outro tatuado e de brincos, o cabelo cortado como se fosse uma boina de pescador. Os milhões viram tostões, não têm qualquer valor, são números que enfeitam a vida de uns e outros, e no final são gastos com irresponsabilidade de quem sempre foi pobre e tem por destino muitas vezes voltar à pobreza. Como a grossa maioria destes escravos de luxo não possui formação para se governar e faz da vida que lhes sobra um festival de arrogância e despautério, o dinheiro não tem a dignidade de quem o ganha na contagem do esforço de uma vida. Daí a arrogância que vemos nesta classe privilegiada, que vive na dança do carro último modelo, acompanhado da amante de lenço ao pescoço com as pontas a sair da janela aberta, o sorriso descodificado de quem soube chegar ao papalvo que teve o azar de se apaixonar por ela. São os novos-ricos. Como estes que vivem por aqui em contentores de ferro e janelinhas com persianas de plástico, mas com carros topo de gama: Volvos, Mercedes, BMW e outros que são autênticos tronos que os levam de mãozinha a acenar às multidões que os adoram. Que triste vida, que triste país!