quinta-feira, julho 31, 2025

Quinta, 31.

Todo o Pacifico atingido por tremores de terra e ameaça de tsunamis. A Rússia sofreu um forte sismo á escala de 8,8, com repercussões para o Japão,  Havaí e a costa dos EUA. Trump não acredita nas alterações climatéricas, mas que a Terra vai dando sinais de saturação, ninguém pode negar. 

         - Por falar no bicho. O homem exerce uma política que surpreendeu todo o mundo. Ele, Netanyahu e Putin são um fiasco, todos perdem em todas as frentes. O Presidente dos EUA, usa a vingança sempre que pode e pode uma e outra vez. No caso do Canadá que recusou ser mais um apêndice da América e, inclusivamente, impulsionado por Macron vai juntar-se aos muitos países que se preparam para dar o seu apoio à criação do Estado da Palestina, acaba de receber a ameaça do especulador imobiliário sobre o acordo tarifário. Espero que ele faça como os chineses que devolveram a mesma taxa ao taxador. 

         - Por cá os fogos não dão tréguas e são notícia nos telejornais estrangeiros. Como todos os anos acontece, devem-se a pirómanos e ao desnorte do ordenamento do território, com os eucaliptais a impor os lucros do negócio do papel. Seja como for, as altas temperaturas que temos tido há quase um mês, são a ajuda a toda a sorte de tarados que por aí circulam, da avareza ao pobre coitado. 

         - Outro dia, ao passar a ferro uma camisa, lembrei-me daquela expressão “cair os parentes na lama” que se aplica aos que se julgam nobres e acham que isto é trabalho menor. Depois de a Piedade ter entrado na fragilidade da vida, muito do que ela fazia ficou para mim. Contudo, durante a operação, pensei no músico Avi Avital, de origem (julgo) israelita, intérprete sublime no manejo do bandolim e das suas interpretações e arranjos de Bach, que tem o hábito de passar a camisa que usa no espectáculo, momentos antes de entrar em cena. Ele é tão modesto que costuma dizer que o bandolim é um instrumento para amadores. Julgo que ele é mais exímio neste metier (o de engomar as camisas) que eu. 

         - Tempo tórrido. Fui à piscina quase sem desportistas. 



quarta-feira, julho 30, 2025

Quarta, 30.

As temperaturas aqui rondam ou ultrapassam os 40 graus centígrados. Por todo  país, nesta altura, como é habitual, são os incêndios que assustam as populações, destroem matas e florestas, levam habitações e animais, lançam o pavor. A maioria ocorrem no Norte e Alentejo. Os bombeiros não chegam para acudir às solicitações, todos ralham e ninguém tem razão. As oposições servem-se da desgraça para ganhar votos. 

         - Ontem almocei com um amigo economista que vive em Luanda. Durante mais de três horas de conversa. ele pôs-me ao corrente da dinâmica governamental em Angola. Que podridão, que indecência humana onde até o sexo se imiscui, que macacada! O povo merecia mais, quero dizer, melhor que a governação colonialista. Mas pelo que ouvi, a corrupção está instalada ao mais alto nível e não será a mudança de poder que irá restabelecer a democracia e trará a decência, a moral e a conduta política impolutas. Pelo o que me foi dito, a comitiva que acompanhou na recente estada do Presidente no nosso país, negou-se a regressar e instalou-se entre nós. O avião aterrou em Luanda quase vazio. 

         - Às vezes por lassidão, deixo-me estar sentado enfrente do televisor. Nesta altura, pelo que percebo, é época de escolher, trocar ou vender como se fazia antigamente com os escravos, jogadores de futebol. Parece uma brincadeira de crianças que habitam um mundo imaginário, que nós olhamos como se fosse distante deste onde cada vida é vivida na luta do quotidiano, os patacos à rasca para chegar ao fim do mês, por todo o lado as ameaças de desgoverno e de Trump a lançar a incerteza sobre os mercados e a economia. Este foi comprado por 60 milhões, aqueloutro vendido por 30 milhões, num ápice este que estava já quase a pertence a esta equipa, à ultima hora, vai para a Arábia Saudita ou Brasil, de onde acabou de chegar um outro tatuado e de brincos, o cabelo cortado como se fosse uma boina de pescador. Os milhões viram tostões, não têm qualquer valor, são números que enfeitam a vida de uns e outros, e no final são gastos com irresponsabilidade de quem sempre foi pobre e tem por destino muitas vezes voltar à pobreza. Como a grossa maioria destes escravos de luxo não possui formação para se governar e faz da vida que lhes sobra um festival de arrogância e despautério, o dinheiro não tem a dignidade de quem o ganha na contagem do esforço de uma vida. Daí a arrogância que vemos nesta classe privilegiada, que vive na dança do carro último modelo, acompanhado da amante de lenço ao pescoço com as pontas a sair da janela aberta, o sorriso descodificado de quem soube chegar ao papalvo que teve o azar de se apaixonar por ela. São os novos-ricos. Como estes que vivem por aqui em contentores de ferro e janelinhas com persianas de plástico, mas com carros topo de gama: Volvos, Mercedes, BMW e outros que são autênticos tronos que os levam de mãozinha a acenar às multidões que os adoram. Que triste vida, que triste país! 


segunda-feira, julho 28, 2025

Segunda, 28.

Um ilustre leitor do Público, de seu nome José Cavalheiro, em carta enviada ao jornal: “Gaza está a tornar-se a reincarnação de Auschwitz, cuja memória indelével julgava impossível ver reavivada desta forma.” 

         - Por falar no bicho. Há dias o Público trazia em letras gordas na capa frontal: “Ministério Público abriu cinco mil inquéritos por stalking (será que queria dizer perseguição?) em cinco anos.” No melhor pano cai a nódoa. 

         - O mundo não precisava de mais uma guerra. Mas como a ganância está ao rubro e há um Trump que pretende a todo o custo ganhar o Prémio Nobel da Paz, eis que mais um conflito deflagrou entre a Tailândia e o Camboja. Cento e trinta e tal mil tailandeses com casas perto das duas fronteiras já deixaram o país, uns quantos morreram. O ponto da discórdia, está no desacordo secular do traçado da fronteira com mais de 800 quilómetros. Donald Trump esfrega as mãos de contente, a hipótese do Nobel está mais perto. 

         - Por cá, país pequenino, gerido por políticos minúsculos, o tema é o mesmo que permitiu a vitória estrondosa de Trump e a derrota esmagadora dos democratas: o sexo, mais concretamente a identidade de género e a imposição do orgulho gay com a sigla modernizada de LGBTQIAPN+, isto é, gays, lésbicas, queer, bissexuais, transsexuais, intersexuais, assexuais, pansexuais e por aqui me fico porque a minha cabeça ficou desorientada com tanta modernice idiota. Melhor fora que todas e todos se limitassem a praticá-lo, em vez de o leiloarem nas ruas em gritinhos estridentes. Dizia-me uma antiga presidente da Câmara de Cascais a este propósito: “Ninguém tem que se imiscuir no que duas pessoas fazem dentro das quatro paredes do seu quarto.” As esquerdas, particularmente, o BE e o Livre, agarram-se a todo o custo para impor novas doutrinas de sexo e género, como se o ser humano decidisse ser (ou não) homo ou herero a partir dos ensinamentos da escola. Julien Green que nunca escondeu a sua homossexualidade, dizia que esta é um mistério. Se assim é, como podem os dirigentes partidários dar corpo a algo que desde a nascença está inscrito no cromossoma de cada um de nós? A liberdade e a escolha que cada um faz, é da sua inteira responsabilidade. O que eu queria era viver num país culto, com valores cívicos e morais sólidos, com respeito pela identidade de cada um, deixando à escola o trabalho da liberdade e da curiosidade, sem abordagens levianas e ideológicas. Mas basta ver o que as televisões oferecem aos jovens como programação e preparação para a vida, para se perceber que o desafio entre elas e a escola, é tarefa impossível. O desalinho entre umas e outra é tal, que aquelas tomarão a dianteira como se tem visto e vê. Se a isto se somar a praga informativa das redes sociais, temos um quadro difícil para os docentes. Perguntar-se-ão e o papel da família? Cala-te boca. E o papel da Igreja? Leiam o que escrevi sobre a missa de domingo em Alcochete. 

         - Já está anunciada em França, a publicação para Novembro do quarto volume de Toute ma Vie de Julien Green. Espero adquiri-lo em Paris onde conto estar nessa altura. 


domingo, julho 27, 2025

Domingo, 27.

Se eu tivesse assistido in loco à missa na igreja de Alcochete, teria interferido com o celebrante, dizendo-lhe: “Senhor padre, na igreja de Deus somos todos iguais, as excelências ficam à porta.” Isto porque o celebrante, ocupou no início da homilia e depois naquele período moderno que a Igreja criou para que os presentes se cumprimentem, algum tempo a abraçar o Presidente da Câmara, o tesoureiro, e a chusma de gente, toda excelentíssima presente, numa subserviência de nojo. É a missa de domingo transformada num acto público tão do agrado dos nossos políticos anafados e  saloios.  

         - Trump, falando do drama humano que o amigo Netanyahu junto com os ortodoxos fascistas criou na Faixa de Gaza: “É preciso acabar o trabalho.” Esta ligeireza de palavras, designa a pressa para que o Holocausto se conclua e em todo o território palestiniano nasça a Riviera francesa à moda do Médio Oriente. Não é por acaso que um especulador imobiliário chega a Presidente dos EUA e um corrupto assassino mantém o cargo de primeiro-ministro de Israel. 


sábado, julho 26, 2025

Sábado, 26.

Vivi de fiado esta manhã no mercado dos pequenos agricultores. Esquecida em casa a carteira, logo as duas habituais vendedeiras a quem eu dou nomes todos os sábados com a obrigatoriedade de lhes oferecer uma prenda no Natal e amêndoas na Páscoa,  prontificaram-se de imediato a fornecerem-me o necessário para a semana. Num bocado de papel pedi-lhes que escrevessem o montante em dívida, e tanto uma como a outra, assinou com o seu nome: Maria Alzira e Rosinda. A ver se fixo estas progénies de forma a economizar nas duas quadras natalícias...  

         - Estiveram aí o Nilton e o Johnson ainda a ocupar-se da piscina. Estou decidido a deixar cair as natações caseiras e diárias, porque perdi a paciência com os lordes que se ocupam deste metier por aqui. Estes amigos não se resignam à minha decisão, e tornaram a pegar no assunto e o Nilton queria que eu esvaziasse a piscina para que ele a limpasse como dever ser. Recusei. A água é um bem precioso que não devemos esbanjar como facilidade pessoal e egoísta. De modo que concordei voltar a programar a bomba para trabalhar de noite durante a próxima semana, e sábado que vem o Nilton cá escovar a piscina. 

         - Todavia, o dia foi movimentado para um homem só. Alvorada pelas 6 horas e trinta minutos para regas após o pequeno-almoço; depois fui ao Pinhal Novo ao mercado, de seguida ao Continente, no regresso fiz o almoço e a seguir quatro frascos de compota de morango. No meio desta trapalhada toda, houve que assistir aos amigos, com ida a Setúbal para comprar uma lata de tinta. Nilton só daqui sairá pelas nove da noite.

         - Tudo isto sob calor insuportável. O termómetro tocou os 37 graus e, embora a casa estivesse de portadas cerradas, a frescura quase não se sentia. Para amanhã prometem-nos mais do mesmo. Mas o que é isto quando confrontado com o enorme sofrimento humano na Faixa de Gaza, onde Netanyahu mata à fome centenas de crianças? Ele culpa o HAMAS, como se os terroristas andassem por todo o lado à superfície da terra sem que o exército israelita os topasse. Macron, distinguindo-se dos demais políticos europeus, vai às Nações Unidas reconhecer o Estado da Palestina. Trump responde praticamente dizendo que Macron é um palerma e o seu gesto não tem importância nenhuma. É este o mundo actual. Os criminosos governam metade dele, a outra metade amocha. O  facto é que cresce por todo o lado o antissemitismo e há mesmo quem comece a dar razão a Hitler. A um horror, sobrepõe-se outro. 

Terna foto, como uma imagem que se venera em oração. 




quinta-feira, julho 24, 2025

Quinta, 24.

Não é que não queira, é que qualquer coisa em mim trava este débito que já vai longo com o seu começo (publicado) em 1985. Talvez para muitos leitores as transformações não tenham sido significativas, lavadas pelo tempo, torcidas pelo temperamento ocasional, dançadas ao sabor das melodias que nos impregnam a existência e nos impedem a dançar conforme o nosso par, quero dizer, de acordo com as circunstâncias. Contudo, que há um travo, um desmultiplicar do passo, um sufoco no ritmo, um cansaço lá isso há. Ou não havendo, ele se vai instalando a pouco e pouco afastando o entusiasmo dos primeiros acordes. O tempo que se desfila vem cauteloso, desconfiado, obrigando o cérebro a muitas acções e a andar de atalaia aos imprevistos que nos esperam. A grande mudança é a que se faz silenciosamente no nosso interior e dela o silêncio é o seu fiel companheiro. Portanto, bico calado. 

         - De todo o lado diziam-me: “Estás muito magro, vai ver isso.” Então comprei as pilhas para a balança e pesei-me: 63kg - exatamente o peso que me convém e para o qual contribuí quando há meses verifiquei que tinha mais dois centímetros de barriga.  

         - Luís Montenegro é igual a toda a turbamulta que tem paralisado Portugal ao longo destes últimos 50 anos. Deu-lhe uma de partidarite ao escolher um homem do seu partido para governador de Portugal. Ele que dizia que o cargo devia ser exercido por alguém independente. Mário Centeno seria o homem certo para este momento, não só porque é um técnico competente, como foi ele e só ele, que nos colocou ao nível de qualquer outro bicho-careto do Parlamento Europeu. Sou dos que penso que a sua independência, mesmo no tempo daquele que se instalou em Bruxelas, era bastante notória. Ele impôs-se cá como lá fora, não por ser do PS como se diz por aí, mas porque é idóneo e honesto naquilo que lhe confiam. 

         - Por aqui muito calor. Fui à piscina e depois a Setúbal procurar uma cinta de borracha que fará com que não entre ar na bomba – não encontrei, não há em nenhum lado. Por este andar, só poderei mergulhar no próximo Inverno. 


quarta-feira, julho 23, 2025

Quarta, 23.

Fui buscar esta tarde o novo Mac que adquiri segunda-feira com todos os programas e trabalhos vertidos para este maneirinho e mariconço computador. Vou levar uns dias a adaptar-me a ele e ao sistema operativo. E, todavia, tanta coisa há a debitar para a posteridade, sobretudo no que diz respeito à miudeza política que tomou de assalto a nossa inteligência. Espero não perder o fio à meada e ter tempo ainda para refrescar o juízo ao correr destas páginas. 

         - A câmara de Palmela é governada há uma data de anos pelos comunistas. Parece que o actual presidente está de saída por ter completado os mandatos da lei e, segundo oiço dizer, sempre foi um homem impoluto (já dos seus serventuários, cala-te boca). Contudo, do meu ponto de vista, tem andado distraído da gula dos proprietários de “casas” pois estas, apesar de serem mais sólidas que as barracas de Loures, são tão indignas como as que têm entretido as esquerdas nestes últimos dias. A coisa explica-se assim. Pelo menos desde há dois anos, que a uns cem, duzentos metros daqui, vi começar os meus vizinhos a alugar garagens e a comprar autocarros e caravanas para, com uma ligeira modificação, alugarem a brasileiros necessitados de um tecto. Caixas de ferro ferrugento contam-se pelos dedos de uma mão. Esta que aqui retrato, começou por ser depositada no terreno minúsculo, de seguida foi feito o murete, mais tarde abriram umas pequenas janelas e mais tarde ainda, montaram as ridículas persianas. Agora, há dois meses, começaram a forrá-la de cortiça como mostram as fotos, e foram ao luxo de exibirem a bandeira nacional à entrada do palacete!!!  


(amplie para os detalhes)

        - Estive na Brasileira hoje muito cheirosa. Paredes-meias com o famoso café, está uma agência do BPI. Entrei para levantar dinheiro. À frente de duas máquinas distribuidoras havia duas filas compactas. Daí a uns segundos, sendo o cheiro nauseabundo a bufas (estas contemporâneas), abri a porta de par em par para deixar arejar o pequeno espaço. De volta à esplanada contei aos velhotes a cena e logo eles começaram a contar histórias relacionadas com peidos, traques e outras miudezas da natureza intima de cada um de nós. Decididamente, as bufas não me largam. Possa!


domingo, julho 20, 2025

Domingo, 20.

Enquanto o ex-monarca da Síria se espreguiça de contentamento e lazer em Moscovo, a violência instala-se entre beduínos e drusos, saldando-se em mais de 1000 mortos. Aqueles começam por rapar o bigode a estes, como se a sua dignidade fosse assim atingida. As barbas podem manter-se, mas os bigodes, a velhos e novos, são para abater.  

         - Assisti à missa dominical pela RTP. Transmitida de Moimenta da Beira, teve a celebrá-la um padre gorducho, imponente de físico, típica figura de provinciano, com um toque de modernidade: o cabelo pintado  à moda do ex-secretário do Partido Socialista Vítor Constâncio. 

         - Isto não muda ou muda quase nada. Luís Montenegro que tem muitas qualidades, nomeadamente, a que mais aprecio a da sobriedade, disse que ia dar uma esmola aos reformados e pensionistas em Setembro. Foi o que fez António Costa que julgo ter sido o inventor do bodo aos pobrezinhos. Portugal nunca passará da cepa torta. Saem uns, entram outros, mas todos aprenderam pela mesma cartilha – a da submissão do povo às esmolas, à caça ao voto. É com esta vulgaridade de gente que temos vindo a marcar passo em 50 anos de democracia. 


sábado, julho 19, 2025

Sábado, 19.

Ninguém faz frente a Netanyahu. Ao bombardear de novo Damasco, atingiu a única igreja católica, destruindo-a e ferindo entre outros cristãos, o pároco. Depois, cínico, veio pedir desculpas porque se enganou no alvo. 

         - “Donald Trump não tem uma visão estratégica sobre a posição dos EUA no mundo”, disse outro dia Stephen Wertheim, historiador da política externa dos Estados Unidos. Ele governa como senhor absoluto do mundo, tergiversando à tona dos acontecimentos, como uma bússola encravada. 

         - A esquerda anda a carpir por tudo quanto é sítio sobre o destino daqueles que fizeram entrar no país para serem mártires das suas ideologias. Agora segue-se a Amadora onde parece que os autarcas deixaram crescer bairros da lata nas periferias da cidade. Por todo o lado, os infelizes sem eira nem beira, foram deixados ao abandono, como pau para toda a colher, explorados por empresários desonestos, sugados até ao tutano ao ponto de se transformarem em escravos da Era Moderna. Alguns destes escravos, espertos ou no limite da salvação, atiram com os filhos para a primeira fila dos suplicados. O português choroso comove-se e é esse o trabalho das esquerdas, fazê-lo chorar; enquanto o da direita é escorraçá-los. 

         - Ontem o João reuniu na Brasserie de l´Entrecôte, ao Chiado, os amigos. A Marília tinha feito 91 anos e ele, generoso, fez questão de os festejar connosco. O ágape decorreu como (não) se previa, comigo a dada altura a estranhar a ausência da sua única obsessão – a política. Quando terminámos as sobremesas e o café foi servido, ei-lo que abre os braços como os padres nos púlpitos, e inicia: “O que me dizem àquela do Chega...” Dali passou para o mundo do neorrealismo político no qual se inclui a pintura e a literatura eternizadas no museu caro aos comunistas em Vila Franca de Xira. Entornou-se o caldo de imediato, comigo a contestar o valor da pintura dos camaradas, dos livros simplórios, falando dos coitadinhos dos trabalhadores, dos agricultores e de todas essas vítimas da hipocrisia da esquerda chique do Bairro de Alvalade. O pintor António Carmo que foi do partido e, inclusive, operário de montar stands e faixas na festa anual do Avante, autor de uma pintura a que eu não dou nenhum valor (salvo o desenho), associou-se com ele e os dois bombardearam-me até dizer chega. Mais uma vez saí incomodado de uma reunião que se queria fraterna e redondeou num final infeliz. Helder, diz-me uma coisa, quando é que tomas juízo!  


quinta-feira, julho 17, 2025

Quinta, 17.

Nada me impede de exercer a liberdade de análise e de pensar. É por isso que não estou nem nunca estive filiado em nenhum partido. Não necessito de tachos, cunhas, arredondamentos salariais ou vencimentos e reformas principescos de deputados (metade destes, ao longo da legislatura, nunca abriram a boca). Por isso, estou disponível para apoiar nas suas acções o autarca socialista de Loures. Estou inteiramente com ele quando, de uma forma desinibida, consciente e politicamente correcta, mandou destruir as barracas que se foram levantando à sua porta depois de muito labutar pela legalidade, a higiene e a dignidade daqueles que as ergueram. Tudo o que as esquerdas dizem, incluindo o seu próprio partido, não passa de hipocrisia e propaganda panfletária. Na origem, mais uma vez, está António Costa e o seu querido programa “manifestação de interesse”.

         - Ontem, desde que cheguei de Lisboa, passei uma parte da tarde a ouvir o autêntico plano de austeridade de François Bayrou: congelação de gastos do Estado, um “ano branco” para pensionistas e funcionários públicos sem aumentos salariais e reformas, venda de imóveis do Estado, corte a eito na despesa pública, nos feriados nacionais, tudo para economizar 43,8 mil milhões no próximo orçamento francês, de forma a combater a dívida pública que já vai em mais de 3,3 mil milhões de euros. O primeiro-ministro foi claro: “Impõe-se como primeira regra não gastar nem mais um euro em 2026 do que em 2025.” Como irão reagir os franceses um povo difícil de governar, mais a mais sem maioria na Assembleia? Mistério. E todavia, na origem não está somente a dívida, está no investimento a fazer na segurança face à cada vez mais evidente ameaça de Putin e ao abandono cómodo e protector dos EUA. 

         - Portugal que se cuide. Os comunistas e todos os seus parceiros, falam que não querem a guerra, que não aceitam o desinvestimento na saúde, na educação e na vida tout court. Falam, mas nada dizem da invasão da Ucrânia pelos camaradas capitalistas-comunistas. Eu há algum tempo que venho aconselhando os amigos a preparem-se para o pior, economizando, pondo de parte o que puderem, fazendo uma vida regrada. O mundo tal como está, vem sendo ensaiado nas suas múltiplas acções bélicas, testado e programado para uma terceira guerra mundial. Esta, à sua escala, multiplica-se já. Ontem o ditador Netanyahu bombardeou a Síria. Os criminosos mundiais – Netanyahu, Trump, Putin, o dono da Coreia do Norte, o distanciamento táctico da China – entre si estudam o destino da Europa e do Médio Oriente. Se não pensarmos nisto e sermos levados pela irresponsabilidade dos políticos medíocres que nos governam, cedendo fraquezas e temores, não percebemos que na guerra não há metade do que os países têm e oferecem aos seus concidadãos em tempo de paz. Na guerra há miséria e sangue e morte e destruição. 

          - A fortuna dos donos dos supermercados que atribuem às guerras e às loucuras de Trump são o paraíso que lhes permite enriquecer à conta do brutal aumento dos produtos indispensáveis à nutrição humana, mede-se pelo bacalhau: o ano passado estava a 8-12 euros o quilo, ontem comprei-o a 17 euros. As guerras, pelos vistos, favorecem os escravos do dinheiro. 

         - Continuo assoberbado de trabalho. São muitas coisas da vida prática que se acumulam e só eu as tenho de realizar, posto que as sombras não passam de figuras escuras e passageiras, sem poder nem presença física, assombrações que não param quietas. Ontem, quando entrei ao portão, encontrei-o aberto. Logo percebi que só o Nilton poderia ter franqueado a entrada. E, com efeito, fui dar com ele a consertar um dos blocos que sustêm os skymers. É um homem admirável que tudo faz para me facilitar a vida. 

quarta-feira, julho 16, 2025

Quarta, 16.

É claro que é desumano ver o espectáculo do desmantelamento das barracas em Loures, ordenado pelo socialista que rege a autarquia. Eu também não queria ter aqui ao pé de mim um bairro construído de tapumes e tectos de chapa e muito menos  gostaria de ver todos os dias seres humanos recolherem-se sob construções insalubres após um duro dia de trabalho árduo. Mas o problema vem de antes. É preciso que as esquerdas sempre no clamor do coitadinho, não se aproveitem das condições precárias e inumanas de quem chega sem as mínimas condições para permanecer. A extrema esquerda, particularmente o BE, Livre, PCP, precisa como pão para a boca de casos destes. Sem eles não teriam armas contra quem quer que esteja no poder, posto que nenhum deles algum dia chegará a primeiro-ministro. As pessoas não lhes interessam para nada, o que conta é a ideologia, o fanatismo de impor regras e tratados, filosofias e  actos de fé. Eu conheço vários comunistas com quem falo regularmente, a nenhum deles nunca ouvi interessarem-se por pessoas, grupos, lamentar esta ou aquela desgraça que sobre eles recaiu. É a ordem, o folheto sindical ou partidário que conta, tudo o mais é secundário. 

         - O calor regressou em força. Eu continuo sem achar um técnico que ponha a piscina a funcionar. Já telefonei a vários, todos me dizem que têm trabalho de mais e só lá para Outubro poderão vir. Mas para que quero eu piscina em Outono! 

         - Que tristeza ver a que ponto chegou o nosso querido português! Políticos, jornalistas, advogados, professores, aquelas psicólogas que vêm à televisão empoeiradas e cheias de saber, os apresentadores tipo Goucha, com o conhecimento na ponta da língua molhada minutos antes no Google, as comunicadoras da meteorologia, quem mais que virou alguém porque as câmaras de TV se abriram para se debruçarem à janela, em pescadinha, cada duas palavras intercaladas com “aqui”, despejado como balde de água fria na arrogância de quem julga saber comunicar com a boca cheia de ignorância. 


segunda-feira, julho 14, 2025

Segunda, 14. 

Se por algum tempo não nos podemos queixar do tempo, outros têm sofrido as suas investidas catastróficas. É o caso do Texas e Novo Texas. Há uma semana arrasados por tempestades demoníacas, que levou o rio Guadalupe a transbordar com oito metros acima das suas margens. As imagens que nos chegam são aterradoras, para cima de 100 pessoas morreram e entre elas muitas crianças de férias num acampamento. De igual modo, aqui perto, a martirizada Valência de novo sob chuvas torrenciais. Duas pessoas estão desaparecidas, centenas dormiram em abrigos de emergência, toda a Catalunha está em estado de alerta. Todos estes fenómenos, dizem os cientistas, são devidos às alterações climáticas. 

         - Este pobre país é um couto de corruptos. Está tudo alterado. Antes era a ralé miúda que ocupava a Policia com roubos de galinhas e massa nos supermercados; agora são os galifões que roubam aos milhões e constroem circuitos diabólicos como aqueles que José Sócrates montou para que os milhões se diluíssem no doce rio do tempo, passagens deste para aquele, aplicações aqui e acolá, numa teia difícil de saber quem é o maior ladrão entre tantos ladrões. A Judiciária, na companhia de agentes da UE, anda à caça de 20 milhões que desapareceram do PRR. Chamam-lhe Operação Nexus. Nesta cabala estão envolvidas universidades, empresas públicas e particulares da área de material informático e cibersegurança. Para tanto, foram realizadas cento e tal buscas realizadas por 300 inspectores. È Obra! Mas também a ladroagem hoje está instalada por todo o lado. 

         - Os fins-de-semana por aqui são extremamente extenuantes. Ontem, depois de ter andado a regar e apanhado um cabaz de ameixas pretas, ainda me deu para ficar horas de roda do fogão a transformá-las em compota. Deitei-me pela meia-noite. Como há mais de um mês ando a dormir como no tempo da minha juventude, despachei sete horas seguidas de sono e ainda me apeteceu readormecer ao som da TSF para acordar às oito e meia.   

         - Não resisto a transpor este excerto do artigo de Fr. Bento Domingues no Público de ontem “Rezar ou blasfemar?” Estas palavras decorrem do longo texto que só quem o ler distraído não percebe quão actual ele é no contexto judaico que vivemos. “Eu tiro a minha conclusão: o iaveísmo histórico veicula uma teologia nacionalista, por vezes, de uma extrema violência. Coloca na boca de Deus os interesses de um povo contra os outros povos. Este nacionalismo religioso blasfema.” Está tudo dito. 


sábado, julho 12, 2025

Sábado, 12.

Ainda penso no técnico que veio observar a piscina anteontem. É um homem alto, de uns trinta e tal anos, forte sem ser gordo, encorpado, com várias tatuagens no corpo, um olhar meigo e atento, uma voz cordial e humana. Chegou montado num Dacia branco, espécie de jipe, impecável de limpeza; desceu discreto e voltou ao interior do veiculo para me deixar babaca a vê-lo partir. Voltei à cabine das máquinas e observei que ele antes de ir deixou tudo impecável de limpeza e até a luz desligou. E tudo isto sem levar um tostão! Curiosamente (ou talvez não) Zacarias é o seu nome... 

         -  O dia pareceu dormir, fatigado das longas semanas de calor abrasador. O sol não desceu das alturas senão à meia tarde, a luz ténue pairou baixa sobre a terra crestada, o silêncio impôs-se sobrepujante à mudez das horas incertas. Quando cheguei à terra dos pequenos agricultores pelas sete, encontrei-a fechada – só tinha autorização para abrir às sete horas e vinte minutos, como se aquele imenso espaço sob árvores e toldos, fosse as instalações de um banco sem direito a tirar o ticket de chegada. Ridículos destes inundam o nosso sistema público e caracterizam a pequenez dos nossos autarcas – são fortes com os fracos, desfibram o riso e instalam a revolta. 

         - As ideologias dos extremos tocam-se e dançam o vira e estão sempre dispostas a dançar. Como no caso da privatização da TAP. Chega e esquerdas votaram em sintonia contra parte da privatização da “nossa bandeira”. Perdemos 3 mil milhões ainda recentemente nela e mais de mil empregados postos no desemprego pelo socialista Pedro Nuno Santos, mas isso dos dinheiros não são ganhados por eles e, portanto, não têm valor nenhum. Eu, pessoalmente, não entendo esta obrigação de um país ter a sua companhia aérea. Com isto, ganham as ideologias bacocas, ganham os sindicados e naturalmente os partidos, porque se sentem fortes, com a palmatória em riste, pronta a despachar reguadas a quem fugir dos ensinamentos marxistas-leninistas da economia estatizada. Não conheço nenhuma empresa do Estado que funcione bem, tenha equilíbrio, poucas greves ou nenhumas, satisfaça plenamente os portugueses, tenha respeito por eles e os trate a todos por igual. Já aqui disse e volto à carga: a “bandeira de Portugal” deverá ser a limpeza da pobreza, a dignidade dos dois milhões e meio de pobres, reformas e salários condignos, cultura e saúde, apoio aos velhos, vida e morte tranquilas. Tudo isto era possível se não houvesse tanta corrupção, milhões gastos sem controlo, empreendimentos feitos para durar poucos anos e às vezes meses. 

         - Hoje estiveram aí a manhã inteira o Nilton e o Johnson. Começaram e terminaram a montagem do toldo comigo a dar assistência aos dois. Estou esfalfado., mas conseguiu-se realizar um projecto que se vinha arrastando desde a nossa ida a Badajoz. Não sei se gosto do resultado. Talvez tenha de me habituar ao efeito de ver aquela grande tela exposta sobre a mesa e cadeiras no pátio. 


sexta-feira, julho 11, 2025

Sexta, 11. 

Tenho tanto trabalho, tanta coisa a resolver que me é impossível ter serenidade para a escrita. Esta manhã passei duas horas na Brasileira a conversar com o António e o Virgílio. Falou-se de tudo, embora o António tenha sempre aquele pendor para o vulgar e por vezes a ordinarice. De súbito, começou a chover. Um frio rasante corria na esplanada e eu com uma t-shirt fina. À boa maneira dos países frios, pedi uma manta e embrulhei-me, literalmente, nela. Que bem me soube e me evitou alguma constipação. Aquele jeito para a brejeirice, não lhe levo a mal porque o António é de todos os do grupo o mais são. Pelo meio-dia, tomámos o metro e eu fui ao Colombo orientado por ele que ali mora perto. Detesto aquele mundo afadigado, doente, embebedado das alegrias da sociedade de consumo. Outro remédio não tive, dado que não gostei dos modos grosseiros do chauve da Concept - a minúscula loja de tecnologia que trabalha no andar do Corte Inglês onde se encontram os computadores. Por isso optei por não adquirir o Mac no C.I. e ter ido hoje ao Colombo que lá tem uma loja toda Macintosh. Que diferença de tratamento, e ainda por cima mais barato em comparação com o saber do homem do Corte Inglês, quero dizer este leva 80 euros para transpor a informação de um computador para o outro, enquanto a GMS apenas 50€ incluindo a boa educação e  classe no atendimento.  

         - Por ali me quedei, almocei, fiquei estendido na cadeira isolado do aluvião de barulho que fazia aquela gente em meu redor. Em catadupa desceram os pensamentos, levando-me dali para desertos de silêncio que permitem às ideias e aos sentimentos florescerem. Não sei quantas horas ali me quedei, sei que quando voltei à realidade, o afane dos almoços eram agora o espaço  de uns quantos velhotes, de olhar vazio, a encher a tarde desenhada lá fora nos escombros de uma vida irreal. 

         - Por vexes somos surpreendidos por seres humanos desalinhados do tempo. Ontem esteve aí um senhor a estudar as razões por que não trabalha a piscina. Durou pelo menos duas horas a desapertar canos, torneiras, a enfiar água nos tubos, a fechar esta e aquela torneira, a espreitar os skymers, o tubo do esgoto, do vácuo, enfim, todo o sistema. No final, pelas oito da noite, fez um croqui da estrutura da piscina com a seguinte sentença: a bomba está sólida, mas é preciso descobrir os canos de ligação à máquina geral, que saem do ralo do fundo e do vácuo. São eles que devem estar entupidos e não deixam passar a água com força para os skymers. Mostre este desenho ao técnico que anda a reparar a piscina. “Quanto lhe devo?” perguntei. “Não deve nada.” Fiquei siderado. Insisti para lhe pagar e ante a recusa projectámos outra vinda dele para limpar a piscina. Num mundo onde só o dinheiro impera, um gesto destes é uma bênção, um acto de caridade.  

         - Gostava de recordar aos médicos que os doentes são a saúde deles. 


quinta-feira, julho 10, 2025

Quinta, 10

Curiosa esta analogia do caminhante, desenvolvida por Robert Walser: “O caminhante é aquele que aceita a ideia de que o espectáculo já terá sempre começado antes da sua chegada. (...) Na expectativa do homem que viaja, que anda ao engate ou que passeia, a sensação de uma existência diáfana, é tão intensa que o persegue. Uma sensação por vezes muito ligeira, que foram os escritores a melhor descrever.” 

         - Aquela atitude ordinária e petulante de José Sócrates gritar com os juízes que o julgam, é a mesma que ele utilizava nos conselhos de ministros quando foi (pobre de Guterres que já deve ter tido muitas noites aos trambolhões na cama por o ter chamado à política) imagine-se, primeiro-ministro de Portugal. 

         - Pareço Sartre que residia no boulevard Raspail, em Paris, e trabalhando decerto junto à janela, registava a quantidade de pessoas que passavam na rua a falar sozinhas e os sonoros peidos que lhe entravam em casa. Eu não vou tão longe. Todavia, sou tentado a falar das bufas fedorentas dos velhos esta manhã nos balneários da piscina – são mais insuportáveis que aquelas bufas pretas das africanas no fertagus outro dia. Dá para rir de facto, mas para suportar... 


terça-feira, julho 08, 2025

Terça, 8. 

Fui à natação. Nos chuveiros, nus, homens velhos e de meia idade discutiam o caso José Sócrates. Indignados, chamando ao ex-primeiro-ministro socialista filho da puta, ladrão e outros epítetos do género. Nenhum parecia estar em sintonia com o falecido Mário Soares ou com ex-deputado João Corregedor para quem o petulante está inocente. Um deles, revoltado pelos milhões que o “engenheiro” se apropriou, dizia por ter feito a guerra em Angola, recebia 100 euros por ano “enquanto aquele e outros corruptos filhos da puta como ele, roubam milhões”. 

         - O julgamento prosseguiu hoje. Os berros da figura básica e repugnante, ouviram-se pelo país inteiro onde não haverá português algum que não o condene. São por demais evidentes os crimes. A tática do homem, é esta: havendo decerto alguns buracos na eficiência argumentativa e condenatória da justiça, ele pretende escapar por aí, e pelas centenas de recursos que interpôs, de modo a que os prazos sejam ultrapassados e a sentença nunca seja conhecida. E todavia, esta simples pergunta permanece: ele disse e redisse que é pobre e viveu do salário de primeiro-ministro (hoje reforma que não chega aos 2 mil euros). Então de onde vieram os milhões que lhe permitiram (e continuam a permitir) viver à grande e à francesa? Sendo empréstimos do engenheiro-empresário de Leiria, como vai ele liquidar uma tal soma? Não gosto, senhor marquês, a mim não me enfeitiça. 

         - A vingança e a traição servem-se frias. Por isso, ele quer arrastar para o julgamento António Costa que sempre teve um secreto conluio com a criatura. Ele e Santos Silva, bichanavam muito de orelha a orelha e eu conheço esses momentos por um amigo que trabalhou com eles. O primeiro, não mais lhe falou; o segundo, a semana passada, ante os factos, decidiu não se candidatar a Belém, deixando o rasto opinativo “que espera que surja outra candidatura na área socialista”, por outras palavras António Seguro vem do lado do Chega. Foi o melhor que fez, porque a abada e a vergonha seriam de o arrojar pelas ruas da amargura.  

         - A viúva do BE, a pouco e pouco, são os seus camaradas que lhe vão descobrindo a máscara esquerdista. Nada menos que três moções a exigirem mudanças no partido, a começar por ela. A criatura parece estar ressabiada. A gente olha para aquele rosto duro, onde o amor se ausentou e é a fúria que o reveste, e desviamos o olhar para não vermos nele os mesmos tiques autoritários de Trump. 


segunda-feira, julho 07, 2025

Segunda, 7. 

A grande notícia do dia é o começo do julgamento do marquês ex-primeiro ministro de Portugal José Sócrates. Desde aquele dia em que eu tinha embarcado em Paris de regresso ao meu país e Sócrates fora preso à chegada a Lisboa, que os portugueses têm os olhos esbugalhados na personagem kafkiana socialista que lhes saiu na rifa da Farinha Amparo. Eu que, portanto, sempre descri da criatura, engenheiro de diploma tirado ao domingo, assisto de boca aberta ao desfile da vida de luxo do socialista, e aos milhões de milhões que a sustentavam. O ritmo louco em que caíam na sua conta e noutras radicadas em países estrangeiros e offshores, é de trazer a cabeça à roda a qualquer cidadão. O Correio da Manhã, ontem, na primeira página, anunciava “que dos 34 milhões acumulados por José Sócrates numa conta bancária titulada pelo amigo Carlos Santos Silva, 29 tiveram origem no Grupo Espírito Santo (GES), liderado por Ricardo Salgado. As primeiras transferências, de acordo com os registos bancários, remontam a 2006 e 2007 (nove milhões de euros) para uma conta, na Suíça, em nome de José Paulo Pinto de Sousa, primo do antigo primeiro-ministro, uma das principais personagens do caso Freeport.” Ante todas as evidências de crime, Sócrates insiste que o julgamento não passa de uma fraude e acusa juízes, Ministério Público, jornalistas de complot, de estarem associados para destruir a sua imagem de político impoluto, que honrou Portugal e o socialismo. O homem tem lata e dinheiro a rodos para contratar o advogado belga, Cristophe Marchand, para o defender das “campanhas mediáticas” e dos “lapsos de escrita”, montados pelos diversos juízes que se ocuparam dos processos.  Recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para se queixar e dizer que é totalmente inocente, sem explicar de onde vêm os magotes de milhões de notas, dizendo-se pobre e sem recursos pessoais. Para isso, na véspera do julgamento, em Bruxelas, deu uma conferência de imprensa (pena tenha sido em português, pois gostaria de ver os avanços conseguidos nos estudos da língua de Molière, durante os dois anos que passou em Paris no apartamento de luxo que vimos na reportagem da SIC  onde reconheci o prédio da minha amiga Françoise, no 16º arrondissement). Espero que a sentença o decrete culpado, com os costados para o resto da vida no luxo das cadeias portuguesas. 

         - Não, não caros leitores. Nada de cuidado me aconteceu, apenas tive um empanque tecnológico na sequência da criação de e-mails com a ajuda do Carlos, que se revelaram aos olhos e saber dos técnicos da Macintosh, a razão deste interregno. Retomemos, portanto, hoje o nosso convívio.  


terça-feira, julho 01, 2025

Terça, 1 de Julho.

Penoso, muito penoso sermos esmagados pela canícula. Nestes últimos dias, às seis da manhã, já estou a regar. Todavia, todo este esforço e canseira, não tem sido suficiente para conservar a beleza das hortênsias que estão já todas queimadas do sol. Assim como os acantos, e só as laranjeiras ainda se mantêm de pé, verdes e belas, cheias do fruto que irá desenvolver-se para gáudio meu até Dezembro. Felizmente, sem nenhuma dor de costas, nem qualquer outra. Puxar mangueiras com cinquenta metros, não e pera doce.   

         - Ontem fui a Lisboa e passei na Brasileira para cumprimentar os velhotes. Nem lá, na esplanada, se estava bem. Fugi ao encontro da Alzira que me esperava para o almoço no C.I.. Aí, sim, residia o paraíso. Quando nos separámos, fui tratar de avançar com a compra de um Mac mais recente. O meu, com mais de dez anos, está ultrapassado e nem as operações bancárias exigidas on line, consegue fazer. 

         - Ir a Lisboa por dias assim de suplício, é uma tortura. Outro dia, com o saco pesado da lona aos ombros, sem a minha querida mochila que me acompanha com o portátil dentro, pude carregá-lo até ao Bangladesch. Curioso, senti-me outro sem aquele apetrecho útil aos meus tempos e perpetuamente disponível para me concentrar e mergulhar em coscuvilhices com Ana Boavida. Com ele acho-me gente, sem ele vejo-me um tipo qualquer sem identidade. Mal comparado, sou como aquelas damas que se pintam com tons provocantes, abrem o rego do peito para que espreitemos (discretamente, claro) as mamas frescas que exibem com falsa circunspecção, mas que são a marca daquilo que querem ser para os olhares dos homens lambidos de libido assanhada. 

         - “Um dia reconhecerá que éramos felizes e não sabíamos”. frase de Marcelo para António Costa na balbúrdia e desnorte de tempos sinistros, aplica-se também a Trump e Elon Musk. Transcrevo o que o oligarca americano tuitou na sua rede pessoal: “Elon deve ser o ser humano que, de longe, mais subsídios recebeu em toda a história, e, sem subsídios, Elon deveria ter de fechar a loja e regressar à África do Sul. Não há mais lançamentos de foguetões, satélites, ou produção de carros eléctricos e o nosso país iria poupar uma fortuna.” Resposta do homem mais rico do mundo: “Cortem-nos todos.”  

         - Fui à natação enquanto aguardo pelo homem das piscinas me venha limpar paredes e chão da minha. Muita gente, o calor como sinal. Ontem no Rossio estavam 41 graus, hoje aqui 40.