terça-feira, setembro 05, 2023

Terça, 5.

É assim todos os anos. Acabadas as férias, os políticos chegam com mais ódio (eles dizem confronto democrático), e atiram-se uns aos outros com o mesmo ímpeto de leões soltos na selva. Não há propriamente programa, ideias, construção de estruturas sociais, aspectos importantes que expliquem e orientem acções futuras; o que reina é a obsessão do poder pelo poder, o desafio corpo a corpo com a realidade que existe no mundo onde vivem confortáveis, ignorando completamente a existência da turbamulta dos seus concidadãos que vegetam à conta dos seus desastres governativos e da sua propaganda embusteira.   

         - O mundo capitalista floresce para uns quantos, enquanto a maioria empobrece, vegeta, luta pela sobrevivência e muitos contra a fome e a morte. A ONU acaba de informar que vai cortar a assistência alimentar a dois milhões de afegãos e ao todo são já oito milhões no mundo que a Organização não vai poder levar os alimentos indispensáveis à sobrevivência. "No meio de níveis já preocupantes de fome e subnutrição, somos obrigados a escolher entre os que passam fome e os que estão a morrer de fome, deixando milhões de famílias a lutar pela sua próxima refeição", afirmou Hsiao-Wei Lee, diretora e representante do PAM no Afeganistão.” E acrescenta as razões: "Com os poucos recursos que nos restam, não podemos ajudar todas as pessoas que se encontram à beira da miséria total." As receitas dos países ricos, diminuíram 4 mil milhões, enquanto a pobreza aumentou 23 por cento. Este quadro assustador, este fosso entre ricos e pobres que não pára de crescer, e revolta, escandaliza e leva os povos a descrer dos governantes, a descrer da vida. 

         - Vai ser curioso ver até que ponto os socialistas espanhóis, guiados pelo senhor Pedro Sánchez, vão manter a palavra e as razões que os levaram há anos a defender a integridade de Espanha. Porque a ganância do poder é tão obsessiva que ante as condições impostas por Puigdemont para terem a maioria e formarem governo, fica a descoberto não só o seu socialismo como o seu patriotismo. O líder catalão, refugiado na Bélgica, jogou uma cartada muito forte: são quatro as condições do seu partido Juntos pela Catalunha impôs para sair do impasse saído das legislativas do mês de Julho. “1ª - A amnistia e o abandono "permanente" da via judicial contra os envolvidos na revolta separatista de 2017; 2ª - Reconhecimento da "legitimidade democrática" da facção independentista catalã; 3ª - Criação de um "mecanismo de garantia" de cumprimento dos acordos que venham a ser estabelecidos entre o governo central e o governo da Catalunha; 4ª - Definição de limites apenas segundo os acordos e tratados internacionais que se referem aos direitos humanos (individuais e coletivos) e às liberdades fundamentais.” 

         - Fui à piscina. Fui, mas como se não tivesse ido. Exercício ronceiro, sem força, sem batinas enérgicas, espécie de natação como vejo fazer a certas mulheres de toucas floridas na cabeça, a executarem uma sorte de dança conversada, cheia de toques sensuais e risinhos cúmplices. 

         - Ontem, não podendo resistir ao convite do Virgílio, fui à Brasileira. Ficámos na esplanada batida a vento forte e chuva, meio encolhidos, eu de capucho na cabeça, ele e o Castilho do alto dos seus noventa anos a desafiarem a intempérie. Bons momentos, conversa agradável e livre. Dali fui almoçar ao Corte Inglês no restaurante lá do alto. Apetecia-me carne que já não comia há uma data de semanas. Bom repasto, preço condigno. Depois fui sentar-me no lugar do costume para duas horas de escrita. No final, entre o que cortei da véspera e o que acrescentei, ficaram menos duas páginas. É assim a escrita. Contudo, a personagem Ajustes cresce desmesuradamente contra a minha expectativa inicial.