terça-feira, setembro 12, 2023

Terça, 12.

São aterradoras as imagens do sismo marroquino. Eu conheço relativamente bem aquelas paragens, da última vez que visitei o país com o Mário ao volante do meu Peugeot, atravessámos o Atlas para descer sobre Marraquexe. Lembro-me que a corrente que arrefece a água do motor (penso que é assim que se diz, ignorante como sou destas coisas) partiu em plena montanha. Ali ficámos, indiferentes à noite que não tardaria a cair, a juventude que nos enchia a vida refutando incertezas e perigos. Por sorte um casal de franceses parou para nos socorrer. O simpático condutor com as meias de nylon da mulher mais uma garrafa de água, substituiu a peça que se tinha partido e a velocidade contida chegámos ao nosso hotel. Durante dois dias andámos a penates e descíamos à Praça Jamaa el Fna para comer e percorrer a Medina com entrada pelo lado esquerdo de quem chega à referida praça também em parte destruída. De facto, no vastíssimo recinto sempre muito animado, tínhamos como que a história de Marrakech na forma animada. Depois subíamos ao terraço do café (se bem me lembro) Gueliz de onde avistávamos todo o animado recinto, e uma ou outra vez almoçámos e jantámos. Os pormenores estão algures contados neste diário e são muito pitorescos. Portanto, ao olhar o desastre e os dramas causados pelo terramoto, é naquela gente humana e simples que muitas vezes, cruzando-se connosco, diziam: “Bonjour, vous êtes chez vous”que penso. Entretanto, o número de mortes ultrapassou os 2 mil e os feridos andam pelos 3 mil. A morte é um assunto privado, enquanto a vida é partilha colectiva.