segunda-feira, setembro 11, 2023

Segunda, 11. 

O mundo parece estar sob a justiça de uma qualquer maldição. Tanta desgraça em catadupa – fogos, secas estremas, inundações, monções, ciclones, furacões, tremores de terra, como este ocorrido anteontem em Marrocos com repercussões que chegaram ao Algarve e matou até agora mais de 2 mil pessoas e feriu outras tantas, para além do derrube de prédios em Marraquexe e tudo em redor. São os mortos que preocupam e inquietam. Mas em que condições de habitabilidade viviam os que ficaram debaixo dos escombros? Como era a sua vida, a situação quotidiana, os prédios onde viviam? Lembra-me esta frase (julgo) de Montherland: “Le monde respect trop la mort, pour le peu qu´il respecte la vie.”

         - Durante três noites seguidas, entrei num diálogo que percorreu as sete horas de meu sono (o Iphone que me espia regista 7 horas e 55 minutos) com Isabel da Nóbrega. Era um diálogo empolgante como aqueles que tivemos em vida da escritora e amiga durante longos almoços e jantares. O sono, como dizer, não fora perturbado, porque o nosso encontro era feliz, apaixonante, sereno. Quando a manhã chegava e eu acordava, sentia-me bem, como se saísse do restaurante onde estivéramos em confidencias, ela a tentar tirar segredos de mim, e eu a esquivar-me enchendo a conversa com temas que a distraíam dos seus intentos. Ao fim da terceira noite, preocupado, cismei da razão daquele encontro e só encontrei esta: no romance que escrevo nesta altura dei o seu nome a uma avenida; e percebi que naqueles dias tinha escrito o seu nome no andamento da história. 

         - Dia em estado de graça. Desde logo uma hora de leitura, seguida de duas de escrita particularmente felizes porque enchi duas páginas do romance. Não sei se amanhã as apagarei, mas ainda assim rejubilo. Depois meia hora de natação como deve ser, quero dizer braçadas fortes, contínuas. Para a tarde, comecei a apanhar dióspiros e li a Bíblia. 

         - Outro dia festejei o meu aniversário com quatro pessoas. Nada de especial portanto. Ou talvez sim. Quem me enviou uma mensagem simpática foi o... Le Monde. Desde que aceitei responder a um questionário sobre Virginia Woolf, que o jornal nunca mais me largou. Como souberam eles a data que devo esquecer? Mistério.