sábado, setembro 16, 2023

Sábado, 16.

Há pelo menos trinta anos (exceptuando aquela tosse que a Laure me transmitiu, em Maio, em Paris que não era atacado de gripe. Esta que me chegou quinta-feira, foi por assim dizer, encomendada especialmente para mim. Eu explico. Terça e quarta feira não saí daqui, quinta veio a Piedade e é com ela, e apenas ela, que estive. Quando a minha técnica auxiliar de limpeza (oh, adapta-te à civilização) saiu, depois do almoço, comecei a sentir-me indisposto sem saber o que tinha. Parecia gripe e ataquei com as mezinhas caseiras. À noite tinha 38 graus de febre, dores ligeiras nas pernas, uma tosse triste. O sono foi horrível, muitas pipidelas, tresmalhado. Quando me levantei não tinha febre, mas o corpo pedia repouso e sono. Ontem passei o dia todo em banho maria, sem febre, sem tosse, sem dores algumas, mas maldisposto. Hoje voltei à vida, embora a remoer o que me havia acontecido. Pondo de lado aquela minha entrada por saída, segunda-feira no Gama Pinto, não estive em contacto com mais ninguém. Há, todavia, um facto que me acode ao espírito: este vírus é só meu e entrou no meu corpo, quarta-feira quando andei aí fora duas horas a trabalhar e transpirei a rodos. A dada altura lembro-me de ter tido um arrepio de frio e ter achado estranho aquele toque no meu peito. Foi uma sensação que parecia um aviso. O pior disto, ter sido afastado do romance e deste registo – e não haver remédios que tratem esta ausência. Esta manhã fui à farmácia comprar Ben-u-ron e conversei com o farmacêutico sobre isto que acabo de expor e ele: “Sabe os vírus andam por todo lado.” Para obter esta sapiente resposta, escusava de me ir expor a contrair um dos milhares que serpenteiam por entre os medicamentos que os combatem.  

         - Aviso já. Estas palavras que se seguem não são de minha autoria. Podem parecer, mas juro que não são. “Será que nos habituámos de tal modo à incompetência, à ineficiência e à desigualdade que já não reagimos aos atrasos da justiça, aos anos e anos de espera por que um rico, um político, um malandro ou um poderoso sejam julgados?”

Somos obrigados a aceitar como hábito este desaustinado caminho em que se produz pouca riqueza, em que se cria pouca empresa e se melhora pouco, mas onde, à falta de fazer mais e melhor e na impossibilidade de ter casa e comboio, escola e hospital, distribuem-se vales e bónus? 

Má sorte a de sermos um país pobre e pequeno! Triste sina sermos mal governados! Sombrio destino desta estranha forma de vida tão cheia de pobreza e de resignação! E, pior que tudo, este jeito tão nosso de nos habituarmos a tudo! Palavras do douto pensador António Barreto hoje no Público e que recomendo a leitura. 

         - Aquela figura com pouca cultura, na reforma, virou escritor. Os seus livros escarram ódio, inveja, raiva. Julga-se o melhor primeiro-ministro que a democracia produziu e agora dá lições aos vindouros. No lançamento do seu pestilento rolo de papel, teve – e isso é significativo e de que maneira! – aquele do sorriso pateta, agora inchado de gordura, que se governou à conta do país e da UE e também aquela senhora disforme que a idade fez menos feia, até apessoada, mas que não melhorou o discurso de indiferença aos que são pobres, contando para ela apenas os números. Este triunvirato sinistro, de bengala, ainda mexe. Só num país chamado Portugal. Marcelo, ao lado dele, faz figura de rei e Costa, apesar de tudo, é melhor que fique, porque para ser substituído por aquele que não lhe chega aos calcanhares e tem a escola toda do malabarismo partidário, que Deus nos proteja.