Sexta, 11.
Para ser franco, não era minha intenção
ver o debate do século a que se associaram três canais de televisão em
simultâneo. Acontece que a 2 francesa alterou o que estava anunciado anulando
assim a minha origem “pequeno-burguesa” no dizer do Couto quando me telefonou
pelo meu aniversário. Eu sabia que daquelas cabeças não vinha nada de novo e
muito menos de substancial e, nessas circunstâncias, preferia acrescentar algo
aos meus conhecimentos sobre Amélie d´Orléans. Quanto ao debate que acabei por
ver aos solavancos, verifiquei que os temas são sempre os mesmos e que nenhum
dos partidos que dirigem o país há quarenta anos os resolveu. Somos um povo
parado no tempo, governado por uma corja de indivíduos bizarros, por uma
informação sem nível nem qualidade, subserviente e cerimoniosa, que ajusta o
debate de acordo com os seus interesses e medos. Costa ou Coelho é o mesmo
prato rançoso, embora a minha preferência se incline para Passos Coelho que,
sendo igual, há, contudo, nele algo de diferente no modo de ser, de estar, de
governar. O mais coerente de todos é o PCP e, pelo menos no meu romance, os
portugueses puseram de parte os medos e deram-lhe o número de votos indispensáveis
para formar governo.