Quarta, 16.
Sofro com cada rosto que me surge ao ecrã
de televisão ainda por cima à hora do jantar. É uma vergonha o que se passa com
os infelizes imigrantes. Escorraçados da Hungria, maltratados até por uma
jornalista fascista, obrigados a fazer caminhadas de centenas de quilómetros,
crianças ao colo, velhos no limite das forças, com fome, calor e em breve frio,
ei-los à deriva de mar em mar, de país em país, sem nunca perderem a esperança
de encalhar num porto de abrigo onde floresça o futuro e a guerra não entre. O
êxodo de sírios, iraquianos, afegãos e outras nacionalidades veio avivar ainda
mais a obsoleta criação da União Europeia. Ninguém se entende quanto ao número
de acolhimento a dar aos que fugiram da guerra e da fome. Assiná-lo, todavia, a
humanidade e independência de Jean-Claude Juncker e Angela Merkel. Tudo o resto
oferece uma imagem repugnante de orgulho, frieza, desumanidade e oportunismo. A
União no todo, acordou como sempre tarde, e o drama que tem nos braços prova
que é uma fantasia que só acolhe os ambiciosos, é dominada pelos incompetentes,
é gerida por uma casta de mangas-de-alpaca que se levanta a falar de números e
deita-se para delirar com somas astronómicas que não servem senão os seus interesses
obscuros. A América, no centro de toda esta tragédia, finge-se de morta.
- Volta que não volta, recebo um convite para fazer parte deste ou
daquele assinante do facebook. Não compreendo a insistência. Já aqui disse que
não gosto de ser controlado, não preciso de ter mais que um amigo desde que
seja sincero, não tenho tempo para falatar em páginas virtuais e, quando alguma
leitora ou leitor pretende conversar comigo sem nicks e com conteúdo, basta que
me contacte pelo e-mail que vem na primeira página deste blog e logo verá que
respondo com celeridade e franqueza.
- Vivo entre dois mundos que afinal pertencem ao mesmo universo: os Textos Filosóficos de Marco Túlio Cícero
(sem esquecer a preciosa colaboração e tradução de professor J. A. Segurado e
Campos) e o trabalho insano na correcção do meu romance. Tudo o resto não
existe, dispenso a pura perda de tempo da hipocrisia, do egoísmo e do cinismo
da vida ronceira e frígida de hoje. O meu paraíso são as estrelas, o silêncio,
a solidão, o sopro divino que enche as horas do rumor do vento...