Quinta, 24.
A querida União Europeia parece ter
limpado a consciência imprimindo leis não vinculativas relativamente ao número
de refugiados a receber por cada um dos seus membros. Respiram de alívio os infelizes?
Claro que não. Primeiro, porque o drama situa-se nos seus países de origem;
segundo, porque aqui chegados, ultrapassado o primeiro choro e o gesto caridoso
tão típico, logo são abandonados à sua sorte. Basta que os projectores se
desloquem para outro qualquer campo de desgraça, para que os que foram
recebidos em festa experimentem a solidão e a sofrimento alguma vez sentidos.
Vivemos no mundo do espectáculo e quanto mais dramático forem as imagens, mais
o júbilo e a disputa dos canais de televisão ganham com isso.
- A mim já nada me surpreende. Por isso, não sei porque se espanta o
mundo com a astúcia da Volkswagen ao montar um sistema nos automóveis a gasóleo
que permitia escapar ao controlo dos chamados gases de estufa emitidos para a
atmosfera. Este estratagema, evitava à marca ter que gastar dinheiro a
transformar os motores, tornando-os ecologicamente mais limpos, segundo as regras
impostas pela União Europeia. Quem descobriu a marosca foram os americanos. E
agora a pergunta que corre o mundo é esta: e as outras marcas? Ora! Ora! Ainda
nos querem convencer que a história do Planeta é para ser levada a sério! Anda
muita gente a viajar, a ganhar dinheiro, a pavonear-se em congressos
internacionais, à conta de um mundo mais limpo. Uma treta! O que importa é
consumir, consumir e consumir porque daí vem muito dinheiro e a ganância não
tem regras nem limites. Para não falar na ditadura dos mercados que tudo e
todos subornam e alienam, a começar pelos fracos e gananciosos líderes políticos.
- Ontem puro dia em estado de graça.
- O mundo mobiliza-se por Ali Mohammed al-Nimr. Aos 17 anos foi
condenado à morte por ter participado num protesto contra o regime aguilhoador
da Arábia Saudita. Hoje com vinte e um anos, vê a execução ser confirmada pelo tribunal
sem que houvesse julgamento digno desse nome. Mais: morto, o seu corpo será
crucificado e exposto na praça pública. O incrível porém, que denota a
hipocrisia em que hoje se vive, a Arábia Saudita acaba de ser nomeada pelas
Nações Unidas para conduzir um painel sobre... direitos humanos!