quarta-feira, setembro 02, 2015

Quarta, 2.
Ninguém imagina o trabalho solitário, a concentração que exige a revisão de um romance. Sobretudo quando ele é longo e foi escrito durante dois anos e meio e envolve o destino de um diverso número de personagens. Não são só as gralhas, a acentuação, o discurso coerente do todo que é preciso analisar, é também as datas, os nomes que de súbito se trocam, os lugares, a construção da personagem que tem de ser coerente até ao fim para que o mundo ali contado pareça vivido, acontecido, real. Se eu acredito na história, se eu a vivi escrevendo ou escrevendo a vivi, foi porque aquele mundo tem razão de existir, passou por ele uma imensidão de almas que sofreram, tiveram desesperos, sentiram o cosmos a pulsar e foram efectivamente reais nos dramas quotidianos, nas alegrias, nos silêncios, no amor e nas traições, na dor e na morte... A inspiração não é para aqui chamada, sendo ela para mim um mistério.