quinta-feira, setembro 03, 2015

Quinta, 3.

Registo a hipocrisia dos homens do futebol relativamente aos refugiados que fogem para esta Europa governada por papagaios. A ”nossa” selecção, antes do jogo, fez um minuto de silêncio pelos infelizes que mendigam o direito ao asilo que lhes é negado por políticos desumanos e preocupados com os seus umbigos. Fingindo que não são parte do problema, os desportistas gananciosos e exuberantes nos gastos, que ganham num ano aquilo que a maioria dos fugitivos não auferem numa vida, quiseram dar um ar da sua graça caritativa. A mim não me embusteiam eles, como me não me convencem os chefes de Estado e primeiros-ministros da zona do euro quando, acordando tarde e a más horas, se desdobram em lágrimas de crocodilo abrindo as portas das suas prisões douradas àqueles que o destino não sepultou nas profundezas do mar Mediterrâneo. E foram já milhares ao longo destes três derradeiros anos. Quanto a nós, aprendemos com as televisões a arte do espectáculo da misericórdia. São inúmeros, de súbito, os actores a entrar em cena. O problema é que qualquer espectáculo exige persistência, assistência, domínio. De contrário, adereços, guarda-roupa, cenários e toda a parafernália que acompanha uma peça teatral, entra em ruptura e é o todo que depois se representa a si próprio em estado de decadência.