domingo, setembro 20, 2015

Domingo, 20.
A humilhante e desesperada transumância dos refugiados parece não ter fim. Ou antes só terá quando os países de onde fogem aos milhares se esvaziarem e neles ficarem apenas os contendores, face a face, para o confronto final. O que sobreviverá terá então que lutar com os mortos e os fantasmas que saírem das sombras para o reduzir a cinzas. Não sabemos, ninguém sabe, quantos foram aqueles que abalaram para não assistir àquela luta sangrenta. O que se sabe, é que pelo caminho do êxodo, muitas crianças, velhos e novos, foram sepultados na borda das estradas, no chão sagrado que os viu morrer, encurtada a viagem da esperança, do exílio dourado que os seus cérebros arrebatados traçaram como destino. Agora, volvidos tantos meses de incerteza, no justo momento em que a vida parecia ter encontrado um abrigo próximo da paz, a Alemanha, como sempre, ressuscitou a sua génese ordeira e pretende pôr cobro à confiança que nela depositaram todos esses povos perdidos no xadrez inconsequente de uma Europa a várias vozes. Não nos podemos esquecer que foi ela que, julgo, no século XVIII, instituiu o maestro que disciplina a orquestra e o encenador que modera os loucos actores de teatro...

         - Começo, enfim, a ouvir aos políticos europeus cúmplices dos actos assassinos dos americanos, a afirmar timidamente que é tempo de a América reconhecer que está na origem (pelo menos desde Bush pai) dos males que afectam e desorganizam as nações e trouxeram sofrimento aos povos atingidos. Eu venho dizendo isso há uma data de tempo. Mas é verdade que eu sou infinitamente mais livre que esta corja de dirigentes políticos, que pensam por osmose e por osmose actuam.

         - Eu não fui tão longe no julgamento a António Costa. Vasco Pulido Valente é mais corajoso e diz com palavras certas aquilo que eu penso com palavras circulares: que o dirigente dos socialistas é “um cacique”. Mas já que assim é, eu assino de cruz.   


         - Se estou a debitar estas linhas, não o faço por prazer ou precisão de me exprimir. Faço-o para, através da escrita, fugir à tentação de me perder e perdendo-me esbarrar no passado que me perdeu.