Domingo, 20.
A humilhante e desesperada transumância
dos refugiados parece não ter fim. Ou antes só terá quando os países de onde
fogem aos milhares se esvaziarem e neles ficarem apenas os contendores, face a
face, para o confronto final. O que sobreviverá terá então que lutar com os
mortos e os fantasmas que saírem das sombras para o reduzir a cinzas. Não sabemos,
ninguém sabe, quantos foram aqueles que abalaram para não assistir àquela luta sangrenta.
O que se sabe, é que pelo caminho do êxodo, muitas crianças, velhos e novos,
foram sepultados na borda das estradas, no chão sagrado que os viu morrer,
encurtada a viagem da esperança, do exílio dourado que os seus cérebros arrebatados
traçaram como destino. Agora, volvidos tantos meses de incerteza, no justo
momento em que a vida parecia ter encontrado um abrigo próximo da paz, a
Alemanha, como sempre, ressuscitou a sua génese ordeira e pretende pôr cobro à
confiança que nela depositaram todos esses povos perdidos no xadrez
inconsequente de uma Europa a várias vozes. Não nos podemos esquecer que foi
ela que, julgo, no século XVIII, instituiu o maestro que disciplina a orquestra
e o encenador que modera os loucos actores de teatro...
- Começo, enfim, a ouvir aos políticos europeus cúmplices dos actos
assassinos dos americanos, a afirmar timidamente que é tempo de a América
reconhecer que está na origem (pelo menos desde Bush pai) dos males que afectam
e desorganizam as nações e trouxeram sofrimento aos povos atingidos. Eu venho
dizendo isso há uma data de tempo. Mas é verdade que eu sou infinitamente mais
livre que esta corja de dirigentes políticos, que pensam por osmose e por
osmose actuam.
- Eu não fui tão longe no julgamento a António Costa. Vasco Pulido
Valente é mais corajoso e diz com palavras certas aquilo que eu penso com
palavras circulares: que o dirigente dos socialistas é “um cacique”. Mas já que
assim é, eu assino de cruz.
- Se estou a debitar estas linhas, não
o faço por prazer ou precisão de me exprimir. Faço-o para, através da escrita,
fugir à tentação de me perder e perdendo-me esbarrar no passado que me perdeu.