terça-feira, outubro 27, 2015

Terça, 27.

Elisabeth Louise Vigée Le Brun que uma centena de telas dá a conhecer pela primeira vez em França, começou por ser admirada em Nova Iorque, em 1982, quando os americanos lhe consagraram uma importante exposição. A retrospectiva que o museu dos Champs-Élysées mostra, segue o rasto da artista dos primórdios à forçada deambulação por uma Europa que o século XVIII francês tentou impor em elegância e padrões culturais que se arrastaram até à entrada no século XX. Vigée Le Brun compreendeu cedo que quem dispunha de gosto e de dinheiro era a aristocracia que imperava em quase todos os países europeus e foi aí que desde logo se impôs. Primeiro na corte de Louis XVI e depois na Rússia, Áustria, Itália, Inglaterra. Quando Napoleão toma o poder, ela regressa a Paris e aproxima-se para fazer o retrato de Joséphine Bonaparte como antes havia feito o de Marie Antoinette. Vigée Le Brun, entenda-se, foi uma retratista ao estilo clássico do século que a viu nascer e na senda do pai também pintor que a apoiou. Com perfeito domínio da pintura, controlo da cor, do ambiente de sombras e luz, todas as suas telas mostram uma artista dotada que soube tratar o pormenor com pinças. Contudo, a meu ver falta-lhe aquela ponta de génio, de aproximação ao mundo íntimo, que desarruma os conceitos e impõe o cunho pessoal que faz a diferença. A Parisiense foi, o que hoje se poderia chamar, uma pessoa politicamente correcta. Para manter o trem de vida que foi o seu, cedeu tudo e o mais, transformando a sua galeria de aristocratas num bloco uniforme, sem carácter, enfeitados de plumas, grandes chapéus amazónicos, às vezes um assomo de sensualidade, quase sempre um desfile de vestidos, lantejoulas, boquinhas semelhantes, abertas como uma flor murcha que não atrai os apaixonados... Digamos de outro modo, Vigée Le Brun foi perfeita, mas a arte dois séculos depois veio demonstrar que o ruído ensurdecedor da perfeição é dispensável a caracterização do humano na sua imperfeição.
Marie Antoinette
Josephine Bonaparte

Madame du Barry


Elisabeth Louise Vigée Le Brun