Terça, 27.
Elisabeth Louise Vigée Le Brun que uma
centena de telas dá a conhecer pela primeira vez em França, começou por ser
admirada em Nova Iorque, em 1982, quando os americanos lhe consagraram uma
importante exposição. A retrospectiva que o museu dos Champs-Élysées mostra, segue
o rasto da artista dos primórdios à forçada deambulação por uma Europa que o
século XVIII francês tentou impor em elegância e padrões culturais que se
arrastaram até à entrada no século XX. Vigée Le Brun compreendeu cedo que quem
dispunha de gosto e de dinheiro era a aristocracia que imperava em quase todos
os países europeus e foi aí que desde logo se impôs. Primeiro na corte de Louis
XVI e depois na Rússia, Áustria, Itália, Inglaterra. Quando Napoleão toma o
poder, ela regressa a Paris e aproxima-se para fazer o retrato de Joséphine
Bonaparte como antes havia feito o de Marie Antoinette. Vigée Le Brun,
entenda-se, foi uma retratista ao estilo clássico do século que a viu nascer e
na senda do pai também pintor que a apoiou. Com perfeito domínio da pintura,
controlo da cor, do ambiente de sombras e luz, todas as suas telas mostram uma
artista dotada que soube tratar o pormenor com pinças. Contudo, a meu ver
falta-lhe aquela ponta de génio, de aproximação ao mundo íntimo, que desarruma
os conceitos e impõe o cunho pessoal que faz a diferença. A Parisiense foi, o
que hoje se poderia chamar, uma pessoa politicamente correcta. Para manter o
trem de vida que foi o seu, cedeu tudo e o mais, transformando a sua galeria de
aristocratas num bloco uniforme, sem carácter, enfeitados de plumas, grandes
chapéus amazónicos, às vezes um assomo de sensualidade, quase sempre um desfile
de vestidos, lantejoulas, boquinhas semelhantes, abertas como uma flor murcha
que não atrai os apaixonados... Digamos de outro modo, Vigée Le Brun foi
perfeita, mas a arte dois séculos depois veio demonstrar que o ruído
ensurdecedor da perfeição é dispensável a caracterização do humano na sua
imperfeição.
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Marie Antoinette |
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Josephine Bonaparte |
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Madame du Barry |
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Elisabeth Louise Vigée Le Brun |