Domingo, 25.
A crise sente-se e vê-se por todo o lado
e é consequência de roubos e crimes. A todo o momento, surge-nos ao caminho
mendicantes, os assaltos são frequentes, o despejo nos passeios e paragens de
autocarros de sacos com isto e aquilo, são resultado de se ver com assiduidade
gente a arrebanhar deles tudo o pode vir a servir. Sobretudo livros em muito
bom estado. Há-os aos montes por aqui e por ali e roupa e cangalhada velha. Uma
senhora de bom porte outro dia, em Saint Germain-des-Prés, metia para dentro de
um saco uma braçada de livros. Perguntei-lhe se iria ler aquilo tudo e ela
respondeu-me que para já os levava, depois se veria. À nossa vizinha da frente,
assaltaram-lhe a casa sem que nós tivéssemos dado conta. Estando ausente por
uns dias, foi o Robert que tendo a chave foi ver os estragos, eu segui-o. A
impressão que tive ao entrar, foi que tinha havido um terramoto. Não houve
sítio nenhum da vivenda que não tivesse sido destruído. Tudo para roubar
aparentemente dois computadores e uma arma com munições. Os estragos sobraram
para umas centenas largas de euros, fora o trauma psicológico que foi terrível.
- Ainda não tive tempo para dar um salto à Fundação de Pierre Vergé. Mas
o que sei pelos livreiros, é que a obra de Green caiu no esquecimento. Pouca ou
nenhuma gente se interessa por ela. Há anos, como aqui referi, o filho adoptivo
que entretanto faleceu, levou a leilão todos os manuscritos, fotografias,
cartas, objectos pessoais do célebre escritor. A imprensa falava num negócio
que poderia render entre 2, 2,5 milhões de euros. No final só dois originais
foram vendidos. E lembrar-me eu que Julien Green tinha tanto orgulho no seu
prestígio e talento e se julgava único!
- Que tenho lido, escrito, pensado? Nada. A ver se é desta que licenceio um mundo que me escraviza e desorienta.