sábado, outubro 24, 2015

Sábado, 24.
A France 2 transmitiu num dia desta semana um programa com apresentação do inefável Stépfane Bern sobre Casanova. A emissão seguiu as memórias do ilustre sedutor que tanto amou as mulheres como os rapazes. O século XVIII foi o seu reino e nele viveu o melhor e o pior de um mundo estendido sobre a aristocracia que levou a astúcia ao extremo paixões e desvarios. Ele encarnou essa classe servindo-se do pequeno comércio de influências (um escroque diríamos hoje), de aldrabices, de salamaleques e cinismo. A sua trepidante vida, mais não foi que uma série de desastres que tiveram na infância a sua origem. J´ai aimé les femmes à la folie, mais je leur ai toujours préferé ma liberté. Esta foi a sua divisa. Partilhada por muitos ainda hoje, entre eles Grabriel Matzneff, para quem uma adolescente tímida e imberbe desencadeia tórridas relações amorosas, que os bem pensantes que invadem televisões, igrejas e escolas reprovam com todo o cinismo que conhecemos. Casanova e o cardial de Bernis, ministro de Luís XV, tiveram a mesma amante: uma freira veneziana por quem se apaixonaram com toda a carga de entrega, amor e cumplicidade. E para quem pense, nomeadamente os moralistas, que ele era um debochado, dir-lhes-ei que um aristocrata não cai nessa sargeta comum aos devassos. Giacomo Casanova era o homem de uma só mulher, mas antes dela e de todas as que teve nos seus braços, erguia-se a liberdade e a solidão inspiradora que a acompanha.  

         - Quando passo nas estações de metro Varenne e Vaneau não deixo de balbuciar uma pequena prece por Julien Green que nessas ruas viveu e na segunda morreu.


         - Esta manhã, descendo na estação Duroc, encontrei um pobre músico tocando o Ave Maria de Schubert. Logo o dia se me iluminou em triunfo e esperança e viajei no tempo embalado pela melodia que saía do acordeão do solitário mendigo. Ele e eu fomos um só na doçura e beleza das horas, no sentimento de pertencermos a uma mesma família.