Sábado, 24.
A France 2 transmitiu num dia desta
semana um programa com apresentação do inefável Stépfane Bern sobre Casanova. A
emissão seguiu as memórias do ilustre sedutor que tanto amou as mulheres como
os rapazes. O século XVIII foi o seu reino e nele viveu o melhor e o pior de um
mundo estendido sobre a aristocracia que levou a astúcia ao extremo paixões e
desvarios. Ele encarnou essa classe servindo-se do pequeno comércio de
influências (um escroque diríamos hoje), de aldrabices, de salamaleques e
cinismo. A sua trepidante vida, mais não foi que uma série de desastres que
tiveram na infância a sua origem. J´ai
aimé les femmes à la folie, mais je leur ai toujours préferé ma liberté.
Esta foi a sua divisa. Partilhada por muitos ainda hoje, entre eles Grabriel
Matzneff, para quem uma adolescente tímida e imberbe desencadeia tórridas
relações amorosas, que os bem pensantes que invadem televisões, igrejas e
escolas reprovam com todo o cinismo que conhecemos. Casanova e o cardial de
Bernis, ministro de Luís XV, tiveram a mesma amante: uma freira veneziana por
quem se apaixonaram com toda a carga de entrega, amor e cumplicidade. E para quem
pense, nomeadamente os moralistas, que ele era um debochado, dir-lhes-ei que um
aristocrata não cai nessa sargeta comum aos devassos. Giacomo Casanova era o
homem de uma só mulher, mas antes dela e de todas as que teve nos seus braços, erguia-se
a liberdade e a solidão inspiradora que a acompanha.
- Quando passo nas estações de metro Varenne e Vaneau não deixo de
balbuciar uma pequena prece por Julien Green que nessas ruas viveu e na segunda
morreu.
- Esta manhã, descendo na estação Duroc, encontrei um pobre músico tocando
o Ave Maria de Schubert. Logo o dia
se me iluminou em triunfo e esperança e viajei no tempo embalado pela melodia
que saía do acordeão do solitário mendigo. Ele e eu fomos um só na doçura e
beleza das horas, no sentimento de pertencermos a uma mesma família.