sexta-feira, outubro 23, 2015

Sexta, 23.
Cavaco indigitou Passos Coelho a formar governo. Surpreendidos? Eu não. É a lógica partidária a funcionar em pleno. Costa não deu até hoje garantias de ter um acordo sólido com a esquerda que pudesse romper com a coligação. De resto, nunca poderia obter uma tal manta de retalhos, atendendo aos pressupostos de onde partem uns e outros. O fungagá político vai perdurar por muito tempo. Portugal vai-se fartar e depois deixa-os entretidos nas suas questiúnculas costumeiras até novas eleições. A roda não pára. Até quando?  

         - Há semanas, numa ida a Lisboa, entrei na Brasileira para falar aos meus amigos. Em torno deles muitos turistas. O convívio porém, não fora por isso alterado e a desordem dos afectos também não. Não me demorei muito tempo até porque as três mesas com as respectivas cadeiras não paravam vazias atraídas à vez pela chegada de um novo pintor, escultor ou jornalista. No final, quando me preparava para sair, tive a oferta da replicação de uma tela do António Carmo, A Última Tertúlia da Brasileira do Chiado, com dedicatória assinada pelos intervenientes: Virgílio Domingues, António Carmo e Alberto Gordilho.  

         - Quando atravessava a Baixa na direcção da Rua Garrett, vi cair à minha frente uma espanhola, um inglês mostrou-me um hematoma num joelho devido a queda e um francês que tinha passado pelo mesmo disse-me que a calçada lisboeta é um perigo et l´hiver n´est pas encore arrivé, acrescentou. Tudo isto, graças ao trabalho de António Costa que, enganando os lisboetas, nada fez para preservar os pavimentos. Quem passear na Baixa, pode certificar-se dos inúmeros buracos, das pedras deslocadas ou arrancadas, das ruas feitas ciladas onde caem desamparados os incautos ou os distraídos.


         - Por recordar o final do Verão, lembro-me de uma jornada que fiz na companhia da Conceição a Alpedrinha para visitar o Príncipe que aí passava dois meses de férias. Foi uma viagem desastrosa, devido ao egoísmo, sadismo e miserabilismo de sua excelência que nos arrastou primeiro para um almoço ao gosto dos camionistas, de seguida uma ida a Ericeira sob calor abrasador, depois, no regresso, orientou-nos por sítios inóspitos, sem nenhum interesse, sem nos dizer porquê nem para quê gastar tempo e gasolina num circuito que só o satisfazia a ele, tomando-me por seu motorista e sem nenhuma consideração pela minha amiga que havia saído na véspera do IPO. Assim que me vi livre da criatura, para recompensar a minha querida artista, convidei-a para um jantar na feira de artesanato do Estoril onde gosto de ir todos os anos. Debaixo dos pinheiros, reencontrámos a paz, pudemos conversar calmamente, usufruirmos da noite agradável e quente, e voltar pela marginal à luz das velas acesas sobre o manto bruxuleante da água com a lua desenhada nele. Filhos únicos – digo-vos eu - é de fugir! Não conheço nenhum que pense nos outros. São todos uns monstros de egocentrismo, o seu universo não vai além do seu nariz retorcido de importância. Se algum chá beberam na infância, desceu rápido ao polo sul em acidez. No final nem um agradecimento. Como se nós lhe devêssemos a visita –  e a obrigação precisasse ser observada.