Sexta, 23.
Cavaco indigitou Passos Coelho a formar
governo. Surpreendidos? Eu não. É a lógica partidária a funcionar em pleno.
Costa não deu até hoje garantias de ter um acordo sólido com a esquerda que
pudesse romper com a coligação. De resto, nunca poderia obter uma tal manta de
retalhos, atendendo aos pressupostos de onde partem uns e outros. O fungagá
político vai perdurar por muito tempo. Portugal vai-se fartar e depois deixa-os
entretidos nas suas questiúnculas costumeiras até novas eleições. A roda não
pára. Até quando?
- Há semanas, numa ida a Lisboa, entrei na Brasileira para falar aos
meus amigos. Em torno deles muitos turistas. O convívio porém, não fora por
isso alterado e a desordem dos afectos também não. Não me demorei muito tempo
até porque as três mesas com as respectivas cadeiras não paravam vazias
atraídas à vez pela chegada de um novo pintor, escultor ou jornalista. No
final, quando me preparava para sair, tive a oferta da replicação de uma tela
do António Carmo, A Última Tertúlia da
Brasileira do Chiado, com dedicatória assinada pelos intervenientes: Virgílio
Domingues, António Carmo e Alberto Gordilho.
- Quando atravessava a Baixa na direcção da Rua Garrett, vi cair à minha
frente uma espanhola, um inglês mostrou-me um hematoma num joelho devido a
queda e um francês que tinha passado pelo mesmo disse-me que a calçada lisboeta
é um perigo et l´hiver n´est pas encore
arrivé, acrescentou. Tudo isto, graças ao trabalho de António Costa que,
enganando os lisboetas, nada fez para preservar os pavimentos. Quem passear na
Baixa, pode certificar-se dos inúmeros buracos, das pedras deslocadas ou
arrancadas, das ruas feitas ciladas onde caem desamparados os incautos ou os distraídos.
- Por recordar o final do Verão, lembro-me de uma jornada que fiz na
companhia da Conceição a Alpedrinha para visitar o Príncipe que aí passava dois
meses de férias. Foi uma viagem desastrosa, devido ao egoísmo, sadismo e
miserabilismo de sua excelência que nos arrastou primeiro para um almoço ao
gosto dos camionistas, de seguida uma ida a Ericeira sob calor abrasador,
depois, no regresso, orientou-nos por sítios inóspitos, sem nenhum interesse, sem
nos dizer porquê nem para quê gastar tempo e gasolina num circuito que só o
satisfazia a ele, tomando-me por seu motorista e sem nenhuma consideração pela
minha amiga que havia saído na véspera do IPO. Assim que me vi livre da
criatura, para recompensar a minha querida artista, convidei-a para um jantar
na feira de artesanato do Estoril onde gosto de ir todos os anos. Debaixo dos
pinheiros, reencontrámos a paz, pudemos conversar calmamente, usufruirmos da
noite agradável e quente, e voltar pela marginal à luz das velas acesas sobre o
manto bruxuleante da água com a lua desenhada nele. Filhos únicos – digo-vos eu
- é de fugir! Não conheço nenhum que pense nos outros. São todos uns monstros de
egocentrismo, o seu universo não vai além do seu nariz retorcido de importância.
Se algum chá beberam na infância, desceu rápido ao polo sul em acidez. No final
nem um agradecimento. Como se nós lhe devêssemos a visita – e a obrigação precisasse ser observada.