segunda-feira, outubro 26, 2015

Segunda, 26.
Francisco de Assis esta semana ao Paris Match a propósito do fanatismo capitalista: Le capitalisme et le profit ne sont pas diaboliques si on ne les transforme pas en idoles. Si, en revanche, domine l´ambition déchaînée de l´argent, si le bien commun et la dignité des êtres humains passent au deuxième voire au troisième plan, si l´argent et le profit à tout prix deviennet des fétiches qu´on adore, si l´avidité est à la base de notre système social et économique, alors nos sociétés courent à la ruine. Les hommes et la création tout entière ne doivent pas être au service de l´argent: les conséquences de ce qui est en train d´arriver sont sous les yeux de tous!    

         - Ontem grande passeio ao Norte de Paris para uma caminhada na floresta de Senlis sob um Outono suave que vai atapetando o chão de folhas que tombam das árvores altas e majestosas como pérolas que tudo adornam de beleza. Mais tarde, visitámos a vila que na Idade Média foi capital do reino, verdadeira joia do gótico medieval, onde pontua a catedral de Notre-Dame do século XII, com seus vitrais a contar a vida de S. Louis e a nave central de uma altura considerável e um branco imaculado. Em redor, por aqui e por acolá, a harmonia é perfeita, com a sua arquitectura intacta, suas ruelas empedradas, becos e passagens estreitas como se o tempo se tivesse imobilizado e nós fôssemos parte dele no concluiu entre janelas, à hora do entardecer, quando a noite se instala e os rumores de vozes esparsas contam ao passante de hoje o que esconderam ao habitante de então. Felizmente que uma brasserie de um charme tentador abriu suas portas, e nós sentámo-nos junto à lareira onde crepitava um fogo murmuroso para um chá que nos aconchegou num amplexo. A atmosfera fez o resto trazendo-nos sossego, paz e confiança no amanhã – tudo o que viajante busca em lugar nenhum e em todos os lugares.

         - Sobra do rumor do mundo a parcela de infortúnio que atinge um jovem músico detido sem julgamento numa cadeia em Luanda. Luaty Beirão é acusado de querer derrubar dos Santos com as suas letras cantadas ao desafio com o destino. Corajoso, desafia o ditador com uma greve de fome que já dura há mais de um mês, estando nesta altura num estado físico que inspira comiseração. Simplesmente, o tirano, trancado no seu palácio, finge ignorar que a vida de um simples artista corre perigo e prefere que ele morra com a sua guitarra e as suas canções, a sua revolta e a sua juventude. O mundo democrático e civilizado, olha o jovem romântico com veneração e exige justiça. Numa altura em que os povos e as nações voltaram definitivamente costas ao ideal, às ideias e à solidariedade, a coragem de um africano num remoto hospital a oferecer a vida em troca da democracia e da justiça, perturba as mentes daqueles para quem a vida se realiza apenas na luta pela honra que julgam advir da riqueza. “Só é alguém quem possui fortuna”, ouvi eu muitas vezes dizer aos pobres idiotas com quem o destino me permitiu cruzar.


         - Vou-me despachar para o Grand Palais. Tenho a tarde comprometida com uma artista francesa de nome Elisabeth Vigée Le Brun (1755-1842) e talvez depois uma caminhada até ao Arco do Triunfo.