Segunda, 26.
Francisco de Assis esta semana ao Paris Match a propósito do fanatismo
capitalista: Le capitalisme et le profit
ne sont pas diaboliques si on ne les transforme pas en idoles. Si, en revanche,
domine l´ambition déchaînée de l´argent, si le bien commun et la dignité des
êtres humains passent au deuxième voire au troisième plan, si l´argent et le
profit à tout prix deviennet des fétiches qu´on adore, si l´avidité est à la
base de notre système social et économique, alors nos sociétés courent à la
ruine. Les hommes et la création tout entière ne doivent pas être au service de
l´argent: les conséquences de ce qui est en train d´arriver sont sous les yeux
de tous!
- Ontem grande passeio ao Norte de Paris para uma caminhada na floresta
de Senlis sob um Outono suave que vai atapetando o chão de folhas que tombam
das árvores altas e majestosas como pérolas que tudo adornam de beleza. Mais
tarde, visitámos a vila que na Idade Média foi capital do reino, verdadeira
joia do gótico medieval, onde pontua a catedral de Notre-Dame do século XII,
com seus vitrais a contar a vida de S. Louis e a nave central de uma altura considerável
e um branco imaculado. Em redor, por aqui e por acolá, a harmonia é perfeita,
com a sua arquitectura intacta, suas ruelas empedradas, becos e passagens
estreitas como se o tempo se tivesse imobilizado e nós fôssemos parte dele no
concluiu entre janelas, à hora do entardecer, quando a noite se instala e os
rumores de vozes esparsas contam ao passante de hoje o que esconderam ao
habitante de então. Felizmente que uma brasserie
de um charme tentador abriu suas portas, e nós sentámo-nos junto à lareira
onde crepitava um fogo murmuroso para um chá que nos aconchegou num amplexo. A atmosfera
fez o resto trazendo-nos sossego, paz e confiança no amanhã – tudo o que
viajante busca em lugar nenhum e em todos os lugares.
- Sobra do rumor do mundo a parcela de infortúnio que atinge um jovem
músico detido sem julgamento numa cadeia em Luanda. Luaty Beirão é acusado de
querer derrubar dos Santos com as suas letras cantadas ao desafio com o
destino. Corajoso, desafia o ditador com uma greve de fome que já dura há mais
de um mês, estando nesta altura num estado físico que inspira comiseração.
Simplesmente, o tirano, trancado no seu palácio, finge ignorar que a vida de um
simples artista corre perigo e prefere que ele morra com a sua guitarra e as
suas canções, a sua revolta e a sua juventude. O mundo democrático e
civilizado, olha o jovem romântico com veneração e exige justiça. Numa altura
em que os povos e as nações voltaram definitivamente costas ao ideal, às ideias
e à solidariedade, a coragem de um africano num remoto hospital a oferecer a
vida em troca da democracia e da justiça, perturba as mentes daqueles para quem
a vida se realiza apenas na luta pela honra que julgam advir da riqueza. “Só é
alguém quem possui fortuna”, ouvi eu muitas vezes dizer aos pobres idiotas com
quem o destino me permitiu cruzar.
- Vou-me despachar para o Grand Palais. Tenho a tarde comprometida com
uma artista francesa de nome Elisabeth Vigée Le Brun (1755-1842) e talvez
depois uma caminhada até ao Arco do Triunfo.