terça-feira, dezembro 16, 2025

Terça, 16.

Quando tudo tomba à nossa volta, que devemos fazer? Foi a saudosa Annie que partiu a 25 do mês passado, a Clara Pinto Correia, a Piedade que está nas últimas, um vizinho que saiu de casa e foi atropelado à sua porta por um condutor que se pôs em fuga, e não sei mais quem que eu conhecera ou com quem me cruzara alguma vez. Fui-me abaixo com este cerco de vazio que me tomou e tudo tenho feito para retomar o ritmo da vida de então. Assim, ontem, sob chuva torrencial fui a Lisboa solucionar a questão dos óculos que não ficou resolvida da última vez que estive na Fabrica dos Óculos, ao Chiado. Desta vez, entendi que não valia a pena lá retornar, posto que o trabalho é para profissionais competentes e, a conselho do Carlos Neto, enfiei numa loja do ramo, perto do Saldanha, dirigida por dois oftalmologistas e ali mandei fazer outros óculos das lentes à armação. Paguei 600 euros e espero reclamá-los ao primeiro estabelecimento. Talvez por andar sensível, o facto de não poder ler com os dois olhos (fecho o esquerdo), criou-me uma pequena depressão e devido ao esforço picadas no cérebro. Desde Maio que venho sofrendo deste incómodo para quem os dias passam entre leituras e escrita, é desmoralizante. Também retomei hoje a piscina. Lá reencontrei os velhotes, de língua afiada contra os políticos, tratando-os de “cabrões, o que eles querem é tacho”. Este epiteto, atirado por um bando de velhos nus, torna-se cómico e não transporta senão uma risada a quem ouve. Outro problema que não foi resolvido foi a passagem dos documentos criados no anterior Macintosh para o novo. Vou amanhã almoçar com o Filipe (meu anterior criativo) que me garantiu tudo fará para arrumar o assunto.

         - Até porque a enfiada de leituras, entre Julien Green e o último volume de Bíblia traduzido do grego por Frederico Lourenço, somam 1774 páginas. É obra!   

         - O ex-adjunto da Ministra da Justiça, professor universitário, Paulo Abreu, de 38 anos, foi detido por crimes de pornografia e abuso sexual de menores. Fala-se em mais de 500 crimes. Parece que uma boa parte foram executados do seu gabinete ministerial. Surpreendidos? Eu nem um pouco. Basta ouvir falar, naquela lengalenga que nunca mais acaba e é sempre a mesma só divergindo o papagaio, os candidatos a Belém. É tudo tão pobre, parece até que à medida que o tempo passa, a palração torna-se toda igual, amassada, untada, acabada num pez odorífero insuportável.  

         - A propósito. O professor Marcelo voltou a surpreender-nos. Declarou que não quer nada do seu cargo presidencial: carro, combustível, motorista, secretária, gabinete, reforma. Até nisso é original e desinteressado das mordomias oferecidas gratuitamente (que diferença entre Cavaco, Soares, Eanes). Apenas fica com a reforma de professor universitário. Quanto ao mais, o futuro está traçado: aulas na universidade da Califórnia, uma parte do ano lá, a outra cá, a biblioteca pessoal vai para Celorico de Basto de onde é originário, a basta.