Quarta, 3 de Dezembro.
Com imensa dificuldade tenho conseguido encarar a vida depois do falecimento, dia 25 de Novembro, da minha querida amiga Annie. Conhecemo-nos quando fui enviado a Paris fazer uma série de reportagens sobre a condição dos emigrantes algum tempo depois do 25 de Abril de 1974 e desde então fomos aperfeiçoando e desenvolvendo um relacionamento de uma nobreza sem igual. Ela tinha sempre as portas abertas da minha casa e eu a dela ou antes as dela. Os telefonemas eram consecutivos, as viagens que fizemos juntos muitas, as discussões sobre arte, literatura, política nunca se afastaram dos nossos encontros. Por vezes ela era como eu dizia uma socialista tirânica, mas passados alguns minutos éramos uma só pessoa na sagrada amizade que nos ligava. Sei que está no lugar eterno que pelo muito que deu aos outros merece; e também sei que de lá velará por mim. Dizendo-se agnóstica, quando eu lhe dizia que pedia a Deus que a protege-se, respondia: “És o único que me fala assim. Obrigado, Helderrr.” Acredito que agora, confrontada com a realidade, nessa ressurreição a que todos aspiramos, o teu agradecimento pelas minhas preces, seja retribuído em louvores pelo nosso reencontro. Um beijo, terna amiga.
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| Há três anos em visita ao museu Rodin, Paris. |
Há dois anos aqui em Palmela. |
