segunda-feira, dezembro 08, 2025

Segunda, 8.

A China não se levanta do enorme incêndio de há duas semanas ocorrido em Hong Kong. Pelo menos 150 pessoas pereceram e centenas de feridos. Grande parte do trágico acidente deveu-se ao bambu com que antes se erigiam os prédios, mas também à corrupção (ela está por todo o lado, mesmo nos regimes comunistas) que impede as populações de a denunciar nas ruas ou fazê-lo duma forma ciciante devido ao cinismo do Governo. 

         - Assisti por fastio ao debate entre António Seguro e Catarina (não sei quê perdi o sobrenome). Aquele confronto devia servir às universidades de estudo e realidade do Portugal de hoje. Contudo, ele diz-nos porque razão os portugueses reduziram o BE a lixo de beira de estrada. Espero, sinceramente, que Seguro seja o nosso Presidente da República. 

         - Black que eu pensava ter repugnância aos ratos não ousando comê-los, ontem ofereceu-me o espectáculo à porta da cozinha enfiando em três tempos um simpático ratinho que eu imaginara tinham há anos desimpedido este espaço. Foi a entrada para logo emborcar uma malga de ração seca e molhada. Anda sempre esfomeado, mas a barriga pende já o que me vai obrigar a reduzir-lhe as doses. A namorada que não me largava a porta, desde que teve dois filhos e eu por duas vezes os fui deixar no vizinho que adora gatos e tem, inclusive, a ajuda da Câmara para os alimentar, nunca mais aqui pôs os pés. Mas Black, fiel à escolha que fez do seu dono, aqui permanece aparentemente feliz. Espera-me ao portão e no caminho até casa, dá-me sapatadas nas pernas.  

         - A vida retomou o seu ritmo em Paris. Annie, querida amiga, ficou enterrada no cemitério de Cambrai em mausoléu de família. Robert regressou a Paris e, por momentos, ocupa-se em organizar a casa a seu modo. Vai passar o Natal com o filho da mulher a Strasbourg enquanto a Laure passará com a irmã em Carcassonne. Disse-me que o nosso relacionamento é para continuar, insistiu que eu devia ir passar algum tempo a Paris, mas eu tomei um certo recuo porque nada é como foi em quase quarenta anos. Entretanto, Françoise, reclama a minha presença no apartamento vizinho daquele onde o nosso anafado José Sócrates viveu. 

         - No fertagus que me remeteu a casa, sentados nos bancos para prioritários, uma branca e um negro em frente dela. Ela praticamente estava nua: uma mini-mini saia, um decote que não servia senão para expor as mamas grandes e tesas, as coxas grossas, os dois envolvidos numa marmelada que levava as senhoras africanas a desviar o olhar não de cansaço, mas de vergonha. Olhei o preto pelos seus vinte e cinco anos e aqueles olhos de vencedor, pareciam expandir a loucura de ter atravessado o Oceano para encontrar a branca esborrachada, rainha dos seus sonhos, orgulho da sua raça e condição.