Quinta, 18.
Faleceu o meu querido amigo Guilherme Parente, afundando-me ainda mais na depressão que tantas mortes me causaram. A nossa amizade remonta à saída da minha adolescência e foi não só construída pelo seu enorme talento artístico, mas também pela sua personalidade boa, afável, edificante. Admiro a sua pintura, o seu jardim encantado de onde nunca saiu e nele ficou nos espaços das telas até ao fim da vida. Deu-me a triste notícia o João quando tinha acabado de sair da Fnac onde estivera com o Filipe. Logo me dirigi à igreja de S. Domingos para uma prece em sua intenção. Todos se vão, numa espécie de urgente debandada, deixando-nos abandonados num mundo a cair aos bocados, sem Deus, prisioneiro dos bens materiais, sem ética nem espírito construtivo, que não identificamos como nosso, tais e tantas são as batalhas que nos reduzem ao silêncio e à escravidão. Descansa, enfim, em paz meu saudoso amigo.
| Num dos nossos muitos almoços. |