segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Segunda, 24.

Faz hoje três anos que o ditador Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. O prepotente presidente da Federação Russa, pensava que revolveria a coisa em meia dúzia de dias. Enganou-se. De nada lhe serviu alterar a Constituição e impor que o seu reinado acabará em 2036, a sua humilhação começara em 24 de 2022. Neste entretanto, Volodymyr Zelensky, completamente só, e só durante praticamente todo o primeiro ano de guerra, investiu, defendeu-se, contra-atacou, enquanto se ia desmultiplicando pela Europa, EUA, Japão, e diversos países da ex-URSS, da UE solicitando armas, ajuda para os refugiados que debandavam da Ucrânia diariamente aos milhares. A Europa que tinha intuído e bem, que a seguir à anexação da Ucrânia outros países europeus fazendo parte da União Europeia e da NATO, estariam na sua desmedida ambição de reconstruir o império russo que ele acusou Gorbatchov de haver desintegrado, foi lenta como é hábito dos políticos bem instalados, que precisam de 400 reuniões com seus almoços demorados, viagens em primeira, palácios e paisagens idílicas, para começar a perceber a solidão imensa de um homem e de um povo que não estava preparado para investir sobre um exército de gananciosos oficiais e lambe-botas, onde a depravação há muito se havia instalado. É meritório o esforço deste homem, com o seu exército e muita corrupção que vinha dos anteriores presidentes pró-Putin, a pouco e pouco, sem descanso, com um Biden hesitante, foi convencendo pela palavra, pela acção, pela união e confiança do seu povo, o mundo da sua justa argumentação. A Europa da UE, como sempre entretida na palavrosa enfiada de reuniões, de argumentos, de significações que se arrastaram por semanas, meses, anos retardando a ajuda económica, militar, política que tanto entristeceu o povo e os seus dirigentes. Depois, eis-nos chegados ao poder dos oligarcas americanos. Com Trump a brutalidade, a balda, a força sobre o mais fraco, os valores da ética e da moral suplantados em favor da riqueza, da América fechada, forte e narcísica, com o poder e a ambição tirânicas de quem não é por nós é contra nós. Assim, dentro dos seus códigos de bando tresmalhado, Trump elege Putin preferencialmente, esquecendo-se que foi ele o invasor. E fazendo jus à sua técnica de usurpação, nas tintas para quanto o povo ucraniano vem sofrendo, ainda se quer abotoar com as terras ditas raras onde abundam as matérias que hoje fazem os multimilionários como o vilão Elon Musk. E não só. A sua proposta para a paz, acordada apenas com o tirânico russo, vai permitir que ele fique ainda com mais território ucraniano. Não lhe basta a Crimeia que usurpou com a conivência dos políticos medíocres europeus, quer também os territórios conquistados ilegalmente nesta guerra. Zelensky disse hoje que está disposto a deixar a presidência pela paz ou entrada do país na NATO. Tristemente, uma vez mais, a senhora Ursula von der Leynen  e o seu secretário António Costa, foram a Kiev vender ilusões e traições, promessas e desilusões.  

         - Outro foco que se reacendeu com o orgulho e ambição turística-imobiliária espalhada por Trump, é Faixa de Gaza. A conta gotas, lá foram libertados de ambos os lados os reféns e presos retidos com a mesma violência e indiferença pelo ser humano. Estas operações, têm servido às mil maravilhadas para o HAMAS exibir com grandeza e aprumo, o seu imenso poder. As cerimónias de entrega pelo grupo, são um espectáculo de humilhação ao orgulho de Netanyahu. Ele que queria eliminar a organização, repara decerto agora que isso nunca será possível.  

         - O terceiro foco que inquieta a Europa e o mundo, é o estado em que se encontra a Alemanha. Ontem houve eleições e toda a gente temia a chegada da extrema-direita da senhora Alice Weidel ao poder. Não aconteceu e o resultado deu a vitória ao CDU que irá governar com o SPD do primeiro-ministro derrotado. Perdeu esta e perderam Elon Musk e o seu acólito Donald Trump. O pior é a construção da verdade ou antes das verdades que hoje inundam o mundo e baralham os imprevidentes. Aquela senhora que preside ao AFD, é lésbica e vive em comunhão de facto com uma estrangeira, por sinal bem mais bonita do que ela. Até aqui nada a dizer, é tudo muito moderno. Não fora dar-se o caso de o partido condenar a homossexualidade, ser contra os imigrantes, amar a ordem e a autoridade. Bah! Então em que ficamos? 

         - Esta razia da direita e extrema-direita que varre o mundo, devia inquietar a esquerda. Mas, não. A ganância pelo poder é a mesma e não distingue uns e outros. Os valores apregoados pela direita, são, grosso modo, admitidos pela esquerda, uma vez conquistado o poder. Mortas as ideologias de um lado e outro (o clima ainda veio sacudir a esquerda, mas...), enterrado Deus com o seu humanismo sagrado, a cultura e a educação, substituídos pela obsessão da riqueza, nada mais resta após o enterro das ideologias. Um enormíssimo vazio cobre os homens. Um qualquer ditador espreita. As liberdades estão fragilizadas.  A dignidade humana desfeita. A escravatura consolida-se. A merdoîde de políticos aí está. 

         - O Papa Francisco luta contra a dupla pneumonia e as comorbidades que vêm do passado. Eu sou dos que rezo pela sua saúde, porque sua Santidade faz-nos falta nesta altura em que o mundo desagua para  fossa da indiferença humana. E lembrar-me eu que Trump invoca Deus que o protegeu do atentado para salvar a América e Putin diz que foi Ele que o designou para o cargo que ocupa. Que charlatões! 

         - Este dia sublime de sol e silêncio, claro e commumente tão desejado, é uma bênção que o país não aproveita para alterar os caminhos que nos levam ao desastre. Ver os sinais, é só uma questão de atenção.