Quarta, 19.
O que há de curioso na política portuguesa, é ver todos os partidos entrar no jogo do Chega. Como André Ventura não tem programa, ideias, intercâmbio com o conhecimento, com as forças sociais, os outros partidos, impõe-se com a guerra do faits-divers, da calúnia, do calão, da afronta selvagem e básica. Mas quando, depois de tanta agitação e berraria não encontra resposta, lança a bomba atómica para o meio do Parlamento na forma de moção de censura ao Governo. Quase todos os deputados do Hemiciclo (incluindo os da esquerda), já disseram que votarão contra. Portanto, uma inutilidade que só serviu para encobrir os seus próprios problemas e chamar a atenção para a sua existência. Qual a causa invocada? A presumida cumplicidade em negócios de terrenos, compra e venda de imobiliário, por parte do primeiro-ministro com empresa da família, criada há quatro anos, portanto, muito antes de ser chefe do Governo. E assim continuamos nós a perder o tempo precioso para acabar com a pobreza, dar saúde e escolaridade de primeira aos cidadãos.
- Recebi os resultados da radiografia aos lombares – um desastre. Pelos vistos tenho a coluna em desmoronamento. Amanhã irei apresentá-los à minha ilustre médica dita de família e ver o que pensa a Dra. Vera Jardim. Estou muito curioso.
- À parte isso, a vida imiscui-se por aqui e por ali de uma forma sensual. Quero e não quero absorvê-la. Tem dias que uma hora a admirar o pequeno-grande mundo que se expõe numa árvore, que se insinua na voz de um passante, no murmúrio quedo da tarde transbordante de massa lúcida e absorvente, me deixa parado no princípio dos princípios quando me achei um ser humano transportando o tempo enquanto substância de eternidade. Todavia, neste incessante movimento que é vida na sua essência, perpassa um qualquer fio impreciso que me paralisa e deixa absorto. E também a lassidão que me prepara para o melhor ou pior: o que aí vem cercar-me-á da lucidez bastante para aceitar por natural o resultado que certifica a existência plena da vida.