sábado, fevereiro 15, 2025

Sábado, 15.

O João é muito curioso. Quando se sentou à minha mesa no sítio do costume, logo enalteceu o J.M.T. (no texto acima referido ou seja neste blog em baixo), pergunta-me de rompante se tinha lido o texto do colunista. Como sempre o ouvira dizer raios e coriscos do colunista do Público, avancei que gostei da ousadia e da informação real em que ele se apoia para afirmar o que disse de lobista António Vitorino. Para minha surpresa, João estava de acordo comigo e com João Miguel Tavares, indo ao ponto de afirmar também que desconhecia aquela carteira de clientes, negociações e empresas de que vive o optativo candidato a Belém, rei do reino socialista dos negócios e do sabujismo das influências. Quando deputado (João fez várias legislaturas pela CDU), contou-me que se bateu com Vitorino, grosso e feito, a propósito de qualquer coisa relacionada com o seu trabalho de representante de Portugal em Macau. 

         - Outra surpresa pitoresca do nosso amigo surge quando me pergunta, aparentemente preocupado, pela data da intervenção ao olho esquerdo e sem aguardar a resposta: “Tu diz-me o dia da operação porque quero ser eu a levar-te ao Gama Pinto.” Digo-lhe que já assinei a carta de consentimento do acto médico e que havia posto o meu amigo Carlos Neto por assistente social. E logo ele: “Então a noite vais passá-la ao Hotel Roma que eu alugo lá um quarto.” Sorri. Esta originalidade e preferência pelo hotel perto de sua casa, é opção para nunca convidar os amigos a irem conhecer o seu interior. O grupo dos tertulianos queixa-se disso, diz que ele gosta de almoços e encontros nas suas residências e jamais convidou algum deles para o seu apartamento. Contudo, João não se dá conta que esta sua resistência a franquear a porta onde vive, cria uma rede de falatório onde entra de tudo...

         - Ontem fui a Lisboa numa espécie de passeio. Antes de sair de casa, perguntei-me se devia ou não levar comigo o croché. Estava posto de lado um almoço à maneira (entenda-se à minha maneira), porque hoje tinha de ir fazer um check-up geral e gorduras e açucares estavam fora de questão. Então, despedi-me do João, e fui comer uma sopa e um folhado de legumes ao Celeiro. Com a tarde longa na frente, fui dali à CGD tratar dos carcanhóis e depois ao C.I. onde tinha de trocar um artigo. Uma vez ali, fui sentar-me, o computador nos joelhos, no sítio silencioso e distante onde o isolamento chama pelas personagens dispersas no enredo. Estive ausente durante duas horas e quando voltei ao rumor do estabelecimento, tinha um pouco mais de uma página escrita. Regressei no fertagus quase sem passageiros e fechadas as portadas da casa, acendi a lareira porque o frio havia regressado sem avisar. Daí a um momento, toca o portátil. Era a Mai Hong de Estrasburgo a perguntar-me se a podia receber cá em casa, a ela e mais a família, dois filhos e o marido. Como são ambos médicos, não há fome que não dê fartura. 

         - Não é, fracamente, uma questão de defender os deficientes, é pura e simplesmente atacar um assunto de ordem democrática, educacional, humana e civilizacional. Eu admiro profundamente a deputada Ana Sofia Antunes que, sendo invisual, se bate no Parlamento ao lado dos camaradas socialistas, por objectivos que acha serem os melhores para o país. Do outro lado da bancada, está um grupelho de deputados de chinelo, desordeiro, fascista, que não tendo argumentação nem ideias, desata a ofender a senhora com impropérios de sarjeta. O grupo, na aparência, parece uma manada de carniceiros, anafados, gordos e transpirados de cara, desengonçados, a cópia monstruosa do seu ídolo - o especulador imobiliário que quer instalar o fascismo em todo o mundo. Só a ignorância, a descrença no sistema partidário, o muito mal que os partidos têm feito ao país e aos portugueses, explica a existência de um tal grupo de deputados. Porque o Chega não tem um programa, não tem ideias, não tem conduta moral, vive de quiproquós como forma de dizer aqui estamos, de atrair a atenção dos desacomodados, dos descrentes, dos saudosos do regime anterior, de toda a vilania que por aí anda à espera de se acomodar e tomar conta do país. A Assembleia da República, devia ter forma de correr com gentalha desta.